Depois da histórica e inédita conquista do Mundial Sub-17 por parte da nossa seleção nacional, foram vários os jovens jogadores portugueses que brilharam com luz própria, quer pela qualidade em campo, quer pelo seu talento natural, quer pela sua personalidade e maturidade competitivas, que também foi evidente nas declarações de todos os jogadores nas entrevistas pós-jogo, revelando uma grande humildade e falando sempre no “NÓS” e nunca no “EU”, como é apanágio do futebol actual.
Apesar de ser partidário da opinião de que no futebol deve sempre prevalecer o coletivo por cima das individualidades (tendo sido este um dos grandes segredos desta fantástica geração que ganhou o Europeu e o Mundial num espaço de seis meses), estes são os cinco destaques que mais sobressaíram dentro de um grupo muito forte, que foi uma verdadeira equipa ao longo do torneio.
5.
Romário Cunha – Quis justamente (ouso afirmar) o destino que o guardião da baliza desta seleção histórica, não ficasse ligado a uma eliminação bastante dolorosa de Portugal nas meias-finais do Mundial, depois do jovem guarda-redes do Braga ter desperdiçado um penálti, rematando muito por cima da baliza no desempate de grandes personalidades contra o Brasil absolutamente impróprio para cardíacos.
Eleito o melhor guarda-redes do Mundial Sub-17, Romário teve intervenções decisivas, destacando-se uma defesa primordial na final contra a Áustria, quando o resultado ainda registava um empate a zero. Reflexos firmes e liderança entre os postes são qualidades que, em fases decisivas, fazem toda a diferença. Num torneio de curta duração e com uma carga muito elevada de jogos, os erros são ainda mais capitalizados pelos adversários, pelo que ter um guardião seguro revela-se essencial.
A selecção não sofreu nenhum golo (!) nos últimos quatro jogos da competição, e Romário Cunha foi um dos máximos responsáveis por esse dado admirável.
4.
Anísio Cabral – Foi um dos principais responsáveis pela veia ofensiva de Portugal no Mundial terminando com sete golos marcados e sendo o autor do golo solitário e decisivo da final que conduziu Portugal à glória eterna. Movimentando-se bem na frente do ataque, mostrou frieza e instinto matador: características fulcrais para um avançado.
Além de marcar golos, trouxe sempre uma grande presença física e criou espaços, obrigando defesas a atenção redobrada, abrindo espaço para outras armas ofensivas da equipa. Nos momentos decisivos, o seu faro de golo apareceu, e em contextos de pressão, é esse instinto que distingue os melhores. Atacante nato, o avançado do Benfica mostrou no Mundial que não falta à chamada: golos e atitude definem-no.
3.
José Neto – O lateral-esquerdo foi um dos jogadores mais consistentes de Portugal no Mundial Sub-17. Seguro a defender, inteligente a construir e sempre disponível para dar largura e profundidade. O jovem de Aljustrel mostrou critério, uma anormal tranquilidade (dada a sua tenra idade) em momentos de pressão e uma regularidade impressionante ao longo do torneio.
Não é de admirar que corram rumores de que José Mourinho (técnico do Benfica) se tenha rendido ao talento do jovem e pretenda que este integre desde já os treinos com a sua equipa. A confiança do treinador português pode acelerar o seu desenvolvimento e colocá-lo mais perto de se estrear na equipa principal dos encarnados. Discreto, eficiente e competitivo, José Neto é um dos nomes mais promissores desta geração campeã.
2.
Mauro Furtado – Uma autêntica muralha defensiva. Mauro Furtado destacou-se como um dos centrais mais sólidos da competição, tendo sido eleito merecidamente o melhor jogador da final. A sua solidez defensiva ajudou a baliza portuguesa a manter-se firme perante ataques intensos e talentosos como os da selecção do Brasil e da Áustria.
Em torneios deste nível, onde muitos jogadores podem demonstrar alguma natural ansiedade e cometer algumas imprecisões fruto da sua juventude, a estabilidade defensiva torna-se essencial, e o defesa-central do Benfica soube responder de forma sublime a essa exigência. A sua postura, agressividade defensiva e leitura de jogo foram fundamentais para equilibrar a equipa e permitir aos restantes sectores da equipa que progredissem com mais liberdade.
1.
Mateus Mide – O jovem médio-ofensivo do FC Porto foi eleito o melhor jogador do Mundial Sub-17. Com uma técnica apuradíssima, visão de jogo e capacidade para decidir, foi uma peça fundamental na articulação ofensiva da equipa. A sua maturidade dentro do relvado, mesmo tendo ainda idade júnior, destacou-se perante todos os adversários. Em muitos momentos decisivos, Mateus assumiu o risco sem medo, ajudando Portugal a alcançar o tão desejado título. Se há um símbolo desta geração campeã, esse é Mateus Mide.
Se não se perder (tal como os restantes quatro que decidi destacar), mantiver a humildade e consistência e ter as tão necessárias oportunidades, poderemos estar perante um jogador que irá marcar uma era do futebol nacional e internacional. Talento tem de sobra.
