
Paulo Robles está na Tribuna VIP do Bola na Rede. É treinador de futebol e inicia a sua rubrica de opinião “Zona de Pressão” no Bola na Rede. “Zona de Pressão” pretende ser um espaço critico sobre temas da atualidade e não só, que visam explicar melhor o fenómeno do futebol nas mais diversas vertentes.
O talento e a experiência de Portugal. A postura habitual ou surpreender? Variar a forma de jogar jogará a favor? Vamos a um exercício extremamente difícil. Vamo-nos colocar na cabeça do selecionador Roberto Martinez antes do Euro 2024.
Passada uma fase de apuramento, onde conseguiu algo que já havia conseguido na seleção Belga, um “clean shot”, passada uma etapa de adaptação, de ficar nas boas graças do povo, etc, surge agora um momento crucial. O de corresponder com resultados, com conquistas. Nada mais natural pensar, que o selecionador sabe perfeitamente que convocou 26 jogadores, mas que haveria muitos mais por onde escolher. Que escolheu, baseado num critério fundamental: jogadores habituados a ganhar nos clubes, com boa atmosfera, que entendeu a mensagem do selecionador e que lhe dará garantias de estar protegido no passar da mensagem. Concordo.
Deixo-vos os onze iniciais dos 3 jogos de preparação:

Uma seleção campeã não pode, nem vive, “apenas” da qualidade dos seus jogadores, do seu talento. São muitos os fatores em cima da mesa. A mistura entre juventude e experiência, são fundamentais. Não é teoria, é a tranquilidade que o jovem não costuma ter e o controlo da mensagem do balneário e dos ritmos de jogo, que o experiente costuma possuir. Portugal tem? Sim.
Uma seleção campeã tem de ter jogadores universais e especializados. O que isto quer dizer? Jogadores que fazem bem, mais que uma posição e jogadores especialistas na sua posição. Portugal tem? Sim. Fará sentido pensar que Portugal irá jogar muito tempo em posse de bola. Algo que Portugal, normalmente não gosta, pela experiência dos últimos Europeus e Mundiais. Se tal acontecer, a seleção precisa de ter, na minha opinião 3 coisas: dinâmicas ofensivas no meio-campo adversário; Portugal tem? Ainda não; Precisa de ter um pressing fortíssimo na recuperação de bola no meio-campo ofensivo. Portugal tem? Está a desenvolver; Precisa de ter jogadores especialistas em livres diretos, boas situações de pontapés de canto e jogadores repentistas, os tais “espalha brasas”. Portugal tem? Sim.

Tudo isto chega? Claro que não. Martinez vem dar um cunho pessoal, nesta sopa de ingredientes necessários para se ser, hipoteticamente campeão: Variabilidade tática. Jogar com uma linha de três, quatro ou cinco atrás; jogar com uma organização defensiva que permita a Ronaldo não defender durante os 90 minutos; jogar com médios alas ou defesas laterais ou um médio ala de um lado e um defesa lateral no outro; jogar com Bernardo Silva na direita, esquerda ou no meio, tem de influenciar o jogo defensivo e ofensivo; Diogo Jota será um joker quase que obrigatório de ser lançado em todas as partidas, etc.
Mudar o jogo, de jogo para jogo, e mesmo dentro durante o próprio jogo, é o futuro do futebol. Quem o conseguir fazer, vai estar mais perto de ganhar mais vezes. Portugal não está pronto para isso. É necessária cautela. Mudar de forma consciente, a estratégia, esperando que os jogadores interpretem a 100%, é um risco. Há jogadores que já o conseguem fazer, (experiência de liga inglesa, sobretudo), mas todos, ainda não. Portugal independentemente de tudo, tem de saber proteger uma de duas situações, ou até mesmo as duas.
- Situação 1: Defender na transição, pelo menos em igualdade numérica;
- Situação 2: O espaço à frente da linha defensiva tem de ser protegido pela presença física de um jogador, seja ele mais central ou volante.
Portugal é candidato. Vamos a eles.