Tribuna VIP: O (muito) que já dá para ver deste Benfica

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    O onze do SL Benfica está praticamente definido: só falta saber quem joga ao lado de Kokçu e quem acompanha Di María e Rafa na frente. Dúvidas sobre Jurásek. E ainda há Morato…

    Já dá para perceber, apesar de ter feito apenas cinco jogos particulares, que este Benfica promete (muito?). Dizer que parece já mais forte do que o da época passada é, ao mesmo tempo, ousado e inoportuno, mas a perspetiva é a de que essa ideia se confirme logo no arranque da época, até porque a uma equipa campeã nacional juntaram-se dois reforços de enorme categoria. Kokçu e Di María não só acrescentam muita qualidade ao Benfica pós-Enzo Fernández – uma equipa mais frágil olhando para a época passada-, como já dão a entender que vão fazer a diferença em toda a época.

    O argentino, até de forma algo surpreendente, parece ter chegado solto do ponto de vista físico, rápido nos movimentos e – este ponto já não surpreende tanto – excecional na forma de pensar o jogo. Pensa mais e melhor do que todos os outros quando tem a bola no pé e isso aumenta, e de que maneira, a qualidade de jogo do Benfica. Já se nota, também, que os companheiros têm a noção de que esta época têm um elemento na equipa que tem uma visão de jogo fora do comum nas zonas das decisões, mais perto da baliza. Ou seja, é fácil de prever, pelo que se já se viu em quatro jogos de pré-época, que vamos ver Di María a meter os colegas na cara do golo vezes e vezes sem conta. Como me dizia um amigo, ex-jogador de futebol já na casa dos quarenta anos, depois dos dois jogos de pré-época do Benfica no Algarve: “Com o Di María a meter-me bolas, e mesmo com estes joelhos lesionados, até eu fazia golos”.

    Angel Di Maria SL Benfica
    Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

    Mas não é só isso. Rafa já dá a entender que se pode entender muito bem com o argentino, por isso acredito que ambos têm lugar reservado no onze na larga maioria dos jogos. Ou seja, vamos ter uma luta entre três jogadores por um lugar: Aursnes, João Mário e David Neres. Creio que o português leva vantagem nesta luta. Os três vão jogar muitas vezes, mas dificilmente em simultâneo, de início. E apesar de já se ter percebido que Roger Schmidt prefere ver Aursnes mais à frente no campo do que no centro, experimentou-o ao lado Kokçu no jogo com o Burnley. E correu bem. É uma solução provável para a Supertaça.

    Partindo, precisamente, do posicionamento de Kokçu, reside a maior dúvida no onze base do Benfica: quem joga ao lado do turco? João Neves, Aursnes ou Florentino? Florentino é mais forte na pressão, na recuperação de bola, na antecipação das jogadas para roubar bola ao adversário, mas João Neves parece manter o nível alto que apresentou na reta final da época passada. Tem uma leitura do jogo muito acima da média, gere bem os ritmos do jogo, e tem cada vez mais critério com bola – raramente falha um passe ou assume um risco desnecessário. Além de ser um jogador muito fiável, joga sempre em alta rotação, não se esconde do jogo, isto é, aparece sempre a pedir bola, e já percebeu que o treinador tem um carinho especial por ele.

    Kokçu será o médio mais próximo de Enzo Fernández que o Benfica tem desde a saída do argentino em janeiro. E essa saída, como é lógico, fez mossa. É, dos dois médios do 4x2x3x1 do Benfica, o mais posicional, uma espécie de bússola da equipa, de placa giratória de todo o jogo do Benfica. Joga quase sempre de cabeça levantada, antecipando o que vai fazer quando a bola lhe chegar aos pés, e toma invariavelmente boas decisões em posse. Não dá muitos toques na bola, joga frequentemente de primeira, e mostra que é um jogador maduro e evoluído, apesar dos 22 anos. Tal como é Enzo. O turco é o reforço mais caro da história do Benfica (25+5 Milhões de euros) e, também por isso, ninguém acredita que não irá ser um dos habituais titulares. Roger Schmidt só parece ainda não saber quem lhe fará companhia. É uma boa dor de cabeça.

    Já no lado esquerdo da defesa não digo de forma tão taxativa que Jurásek será o titular, apesar de isso ser o mais provável. É o lateral mais caro da história do Benfica, sim (14 Milhões de euros), mas – sem surpresas – está numa categoria diferente de Di María e Kokçu na adaptação à equipa. Não entra de “caras” no onze, traduzindo por miúdos. O checo de 22 anos tem uma enorme margem de progressão, joga muitas vezes quase como uma ala esquerdo e remata (bem) sempre que tem oportunidade. Pelo que já se viu, também é forte no cruzamento, por isso, deverá somar alguns golos e assistências, mas tem de corrigir vários aspetos e não é só do ponto de vista defensivo. As suas características, pelo que já se viu, não diferem muito das de Ristic, o outro concorrente para o lugar deixado por Grimaldo no onze do Benfica. E o sérvio tem estado a um bom nível na pré-época. Dá largura, tem critério no último terço, tem-se destacado pelo entendimento ofensivo com os colegas e pelos cruzamentos. Será uma luta interessante de seguir, apesar de, nesta altura, me parecer que Jurásek parte na frente para jogar a Supertaça diante do FC Porto.

    Completando a análise ao “novo Benfica” – com muitas coisas do “velho” e com os jogadores notoriamente mais ligados às ideias de Roger Schmidt – resta outra dúvida no onze para o arranque da época: Morato ou Otamendi. Tal como aconteceu no ano passado, Morato sempre que joga, joga bem. E este ano até parece mais solto com bola. Confiança e maturidade nunca lhe faltaram. É um central muito completo, rápido, forte, bom a sair a jogar, e consciente de que tem qualidade para ser titular. Tendo em conta que o capitão Otamendi ainda está a recuperar de lesão, e ainda não fez qualquer jogo na pré-época, acredito que Morato possa ser titular na Supertaça. E, se jogar bem, quando Otamendi estiver a 100 por cento, caberá a Roger Schmidt lidar com a situação tal como fez na época passada. E, recorde-se, António Silva nunca mais saiu do onze.

    Tribuna VIP de João Pedro Óca,
    jornalista CNN

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    João Pedro Óca
    João Pedro Ócahttp://www.bolanarede.pt
    O João Pedro Óca é um alentejano a fazer o gosta mais em Lisboa: jornalismo, sobretudo desportivo, na TVI e na CNN Portugal. Além disso, ainda dá uma perninha como narrador na Eleven.