Universo Paralelo: Cabeçada de Roberto traz Champions à Cidade Berço

    Se em maio de 2006 o Vitória Sport Clube caiu para o “inferno” da Segunda Liga, o final de agosto de 2008 podia levar o conjunto vitoriano até ao “paraíso” da Champions. Depois de ter feito um brilharete na época 2007/2008 ao terminar o campeonato em terceiro lugar, que lhe permitiu jogar a terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões, os comandados de Manuel Cajuda estavam a 90 minutos de escrever mais uma bonita página no Futebol Português. A missão era complicada à partida, mas a fé e crença vimaranense na passagem histórica à fase de grupos faria toda a diferença em FC Basileia.

    Após o nulo na primeira mão no D. Afonso Henriques, o Vitória tinha forçosamente de marcar para pelo menos ter a vantagem dos golos fora no final da eliminatória contra os suíços. O treinador português era o porta-voz do otimismo e confiança de que no final do encontro seriam os visitantes a celebrar a ida à prova milionária, embora houvesse alguma contenção devido ao adversário mais habituado a estas andanças e que ia certamente entrar forte no encontro para resolver o mais rápido possível a eliminatória.

    Apito inicial e a previsão de Manuel Cajuda confirma-se: depois de duas ameaças reais à baliza de Nilson, a entrada decidida do FC Basileia tem a recompensa desejada ao minuto 11 com Valentin Stocker a fazer o 1-0 após cruzamento de Derdiyok em que Ergic remata de pronto e a bola vai ter aos pés do médio suíço que bate o guardião brasileiro sem grandes dificuldades.

    O técnico Manuel Cajuda iria levar pela primeira vez a formação vitoriana à Liga dos Campeões
    Fonte: UEFA

    O duro golpe inicial não teve consequências graves, já que o Vitória Sport Clube iria mesmo chegar ao empate dois minutos depois do golo sofrido. O defesa Marque faz falta sobre Marquinho dentro da área e o árbitro assinala de pronto o castigo máximo a favor da equipa portuguesa. Chamado para colocar tudo empatado de novo, Fajardo teve a frieza necessária para fazer o golo que dava agora a vantagem na eliminatória ao Vitória para delírio dos dois mil adeptos que foram desde a Cidade Berço até ao St. Jakob-Park apoiar os seus jogadores.

    O campeão helvético via-se agora obrigado a marcar para saltar para a frente da eliminatória, e foi de novo para cima do seu adversário e dispôs de um par de ocasiões para fazer o 2-1, mas a defesa vitoriana estava bastante concentrada e esse tal golo ambicionado pelo Basileia não surgiria até ao final da primeira parte. Faltavam 45 minutos para o Vitória Sport Clube chegar ao ‘paraíso milionário’.

    O reinício do encontro podia ter sido maravilhoso para os Conquistadores, já que aos 49’ Marquinho ficou a milímetros de bater novamente Costanzo. O Basileia foi mais assertivo e voltou para a frente do marcador: minuto 54, Stocker desmarca Derdiyok e o número 31 dos suíços atira a contar, num remate em que Nilson nada podia fazer para impedir o golo. Novamente em desvantagem, a formação de Guimarães tinha de correr atrás do prejuízo, mais uma vez.

    Na procura do golo que valesse o empate e apuramento, Manuel Cajuda lançou em campo os reforços Jean Coral e Roberto para ter mais opções na frente de ataque, e o último seria mesmo o “talismã”. A serem fortemente pressionados pelos adversários, os defesas do Basileia iam tapando bem os caminhos para a sua baliza, mas o minuto 86 iria ser mesmo mágico para o Vitória Sport Clube.

    O lateral Luciano Amaral arranca pelo lado esquerdo, ultrapassa facilmente o opositor e cruza para a área, onde surge Roberto desmarcado que cabeceia para dentro e faz o 2-2, soltando a euforia entre os adeptos portugueses. Tudo empatado e os minutos finais exigiriam nervos de aço para confirmar mais um marco histórico na vida do clube que tem D. Afonso Henriques no seu emblema.

    Christian Gross ainda iria esgotar as substituições com a entrada do chileno Eduardo Rubio para tentar chegar ao 3-2 que acabou por não acontecer para enorme felicidade dos vitorianos. Apito final e estava feita história na Suíça: pela primeira vez nos seus 86 anos de existência, o Vitória SC ia jogar a Liga dos Campeões, tornando-se assim a quinta equipa portuguesa a participar na principal competição de clubes do Futebol Europeu.

    Fase de Grupos exigente

    Colocado no pote quatro, não se antevia um grupo simpático para o clube vimaranense, mas a missão na Liga dos Campeões passava muito por aproveitar a oportunidade de jogar contra os “tubarões” europeus e, quem sabe, tentar fazer uma “gracinha” na prova milionária. De facto, o sorteio não foi nada meigo para o estreante luso: Liverpool FC, AS Roma e Olympique Marseille eram os adversários que o Vitória teria de enfrentar no grupo C.

    A noite do dia 16 de setembro de 2009 foi especial em Guimarães: a equipa italiana visitava o estádio D. Afonso Henriques para apadrinhar a estreia vitoriana na Champions. Liderados pelo icónico Francesco Totti, os romanos eram claros favoritos a começar a edição 2008/2009 com um triunfo. Contudo, o tento solitário de Yves Desmarets contrariou as probabilidades antes do apito inicial e confirmou um começo de sonho para os “Conquistadores”.

    A segunda jornada ditou a visita ao mítico Anfield Road para defrontar o conjunto de Rafael Benítez. Com uma atmosfera digna de noite europeia, o Vitória sucumbiria ao bis de Fernando ‘El Niño’ Torres, mas deu luta a Gerrard e companhia durante grande parte do encontro, o que valeu um forte aplauso por parte dos fiéis adeptos dos Reds no final da partida que reconheceram a bravura da equipa portuguesa ao jogar sem pôr o ‘autocarro’ à frente da baliza.

    Desmarets e Roberto foram dois elementos importantes na caminhada ‘milionária’ do Vitória SC
    Fonte: Vitória SC

    O duplo confronto com o Marseille era fulcral para as aspirações vimaranenses na Liga milionária. Em casa, Roberto voltaria a ser importante ao marcar os dois golos que deram o segundo triunfo e a esperança em passar aos oitavos mantinha-se intacta. No Vélodrome, Djibril Cissé ainda deu a vantagem aos franceses aos 29’, porém um livre direto batido com enorme classe por Nuno Assis ao cair do pano obrigou à divisão de pontos e, com isso, a ida à Taça UEFA já era um dado adquirido independentemente do que acontecesse na viagem à capital italiana na jornada seguinte.

    A formação lusa entrou para a penúltima jornada da fase de grupos com um ponto a mais que os italianos, pelo que uma nova vitória sobre a Roma dava automaticamente a passagem inédita à fase a eliminar. Numa partida bastante equilibrada, foi o ‘samba’ dos pés do médio Júlio Baptista que fez toda a diferença ao marcar o único golo que ditou a derrota dos vitorianos e consequente ultrapassagem na classificação.

    As contas na última ronda eram simples: o Marseille tinha de vencer a Roma e o Vitória ganhar ao já apurado Liverpool para ainda ser possível garantir o segundo lugar do grupo C. Cientes da importância do apoio para empurrar a equipa para a vitória, os adeptos vimaranenses lotaram as bancadas do D. Afonso Henriques, criando assim um excelente ambiente. Os ingleses não temeram o “inferno branco” e foram implacáveis nos 90 minutos: Dirk Kuyt, Javier Mascherano e Fernando Torres foram os autores dos golos do triunfo sem margem de contestação que atirou o Vitória SC para a Taça UEFA, onde iria até aos oitavos, sendo eliminado depois pelo vencedor da edição dessa época, o FC Shakhtar Donetsk.

    Artigo revisto por Diogo Teixeira

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    Guilherme Costa
    Guilherme Costahttp://www.bolanarede.pt
    O Guilherme é licenciado em Gestão. É um amante de qualquer modalidade desportiva, embora seja o futebol que o faz vibrar mais intensamente. Gosta bastante de rir e de fazer rir as pessoas que o rodeiam, daí acompanhar com bastante regularidade tudo o que envolve o humor.                                                                                                                                                 O Guilherme escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.