Final de tarde de sábado. Estou eu a caminho de Alvalade, acompanhado pelo meu pai e pelo meu irmão, rumo a mais um jogo do grande Sporting CP. Enquanto eles entram para o nosso setor A19, passo na estação de metro para ir buscar a minha namorada, que está toda entusiasmada por mais uma visita a casa. Entramos os dois no Alvaláxia, para o habitual convívio pré-jogo. Fazemos as nossas apostas, comentamos o onze e, como habitual, reclamamos sempre um bocadinho.
É o jogo de apresentação aos sócios. Rúben Amorim apresenta a habitual formação, alinhando três defesas centrais no setor defensivo, dois médios e dois alas, somando aos três da frente. Na bancada, nós, adeptos leoninos, esperamos uma exibição convincente de uma equipa com ideias definidas, preparada para cumprir os objetivos estabelecidos para a temporada.
Recordo-me de um golaço marcado neste encontro, com uma jogada elaborada pelos 10 jogadores de campo, que teve início no guarda-redes:
“É pontapé de baliza para a equipa do Sporting. Viviano inicia a jogada e passa para Demiral. Este faz a bola circular pelos seus companheiros da defesa, primeiro para Domingos Duarte, que devolve, e depois para Ivanildo Fernandes. O central esquerdino passa para Mama Baldé, que atua como ala esquerdo, que mete o esférico nos ‘pés de novelo’ de Daniel Bragança. Bragança passa por um adversário (que classe do jovem!) e dá a João Palhinha, que joga curto para Thierry Correia. Como a equipa adversária está muito fechada, e sem espaço para avançar na ala, Thierry vê Bragança a oferecer-lhe uma linha de passe. A bola chega ao médio e este vira o jogo com um passe milimétrico para Nani. Nani avança, vê que tem espaço para rematar, mas simula e oferece a bola a Matheus Pereira. O tecnicista brasileiro recebe na perfeição, levanta a cabeça e executa um passe de rotura na procura da profundidade de Gelson Dala, que se desmarca entre os dois centrais. O avançado angolano, que corresponde velozmente à iniciativa de Matheus, fatura o primeiro da tarde, assinando o seu nome na lista de marcadores com um chapéu a sobrevoar o guarda-redes.”
Que jogada belíssima. É verdade que se trata de um jogo de preparação, mas é sempre bom ver uma obra de arte destas.
Agora que repararam que isto tudo não passou de um simples sonho (e não, não estou a falar dos 40 mil que se encontravam em Alvalade), conseguem perceber que este é um onze elaborado por atletas que não fizeram parte das contas do Sporting CP para as duas últimas temporadas. À exceção de Nani, que foi uma peça importante no início da temporada 2018/2019, e de Thierry Correia, que saiu para o Valência por uma quantia de 12 milhões de euros, os restantes foram dispensados do plantel leonino. Ivanildo Fernandes, João Palhinha, Daniel Bragança e Gelson Dala ainda fazem parte dos quadros de Alvalade. Resta saber se serão aproveitados.
Daniel Bragança termina a ligação por empréstimo com com o Estoril Praia e regressa ao Sporting CP. pic.twitter.com/a4OrUD6kWT
— Diário de Transferências (@DTransferencias) June 12, 2020
Seja por falta de qualidade, de compromisso ou outra desculpa esfarrapada que possa ter sido dada, a verdade é que os reforços que chegaram para colmatar estas saídas não se revelaram úteis.
O exercício que vos proponho com este artigo narrativo (e algo imaginativo) é o seguinte: quantos destes jogadores teriam lugar no atual plantel do Sporting CP? E se esta equipa jogasse contra a atual formação leonina, qual seria o resultado no final da partida?
Foto de Capa: Sporting CP
Artigo revisto por Joana Mendes