«O Clube lá da Terra»: CA Pêro Pinheiro

    Formado em 1945, o Clube Atlético Pêro Pinheiro é um clube com história e por onde passaram algumas caras conhecidas do Futebol Nacional. Inserido numa região com pouca expressão nos campeonatos profissionais de Futebol, o CAPP tem vindo a crescer através de um projecto estruturado e com um grande objectivo: a formação de talentos. No passado, o Pêro Pinheiro já disse um valente não a Jorge Nuno Pinto da Costa e obrigou inclusivamente os dragões a jogar perante o seu público, no Parque de Jogos Pardal Monteiro. Descobre o projecto ambicioso do clube e muito mais numa nova edição d’”O Clube lá da Terra”, que conta com uma conversa com Mário Silva, presidente do CAPP e Rui Ferreira, director desportivo do clube.

    Bola na Rede [BnR]: Está há muito tempo neste cargo de Presidente?

    Mário Silva [MS]: Não, estou desde o dia 12 de Maio de 2018.

    BnR: Mas já acompanhava o CAPP antes de assumir a presidência?

    MS: Não, vinha apenas ver alguns jogos. Isto foi assim: apareci aqui porque tenho um filho com dez anos que começou a pedir para vir jogar Futebol. Eu já não entrava num campo de Futebol há dezoito anos devido a uma infelicidade que tive na vida, faleceu um filho  meu [Luís Miguel “Mafra”] – com vinte anos – que foi nove anos jogador do Sporting CP e um ano sénior na equipa B do SL Benfica; teve um acidente, faleceu e, a partir daí, deixei mesmo de ver Futebol. Agora, este menino com dez anos começou a pedir para vir jogar porque também tinha cá amigos e eu vim com ele em janeiro de 2018. Vim mais a título de experiência – porque se ele não gostasse acabaria por sair –, mas ele gostou de estar aqui com os amigos e eu também gostei muito do ambiente. Fui muito bem recebido pela antiga direcção e pelo nosso Coordenador de Futebol, que ainda hoje está cá, o Carlos Aguiar, e que é uma pessoa excepcional e muito trabalhadora.

    BnR: Carlos Aguiar que já foi jogador do clube e esteve presente num jogo frente ao FC Porto.

    MS: Exactamente.

    Rui Ferreira [RF]: Mas entretanto houve eleições e tu decidiste concorrer.

    MS: Houve eleições e um elemento do clube, o Sr. Fonseca, começou a desafiar-me para me candidatar à presidência. Acabei por juntar mais algumas pessoas, fizemos uma lista e cá estamos.

    BnR: O CAPP já está há algum tempo em crescendo. Depois de uma descida à divisão de Honra em 2015, conseguiram duas subidas consecutivas até ao CNS. O ano passado acabaram por descer – sendo a primeira equipa abaixo da linha de água e a lutar com “rivais” como o SU Sintrense e o 1.º Dezembro – mas tem sido um projecto que tem crescido e consistente. Qual o segredo?

    MS: O segredo é muito trabalho de todos. Começando aqui pelo Rui Ferreira, que acompanha a equipa sénior do clube, passando pelos membros da direcção, treinadores e roupeiros, todos trabalham imenso. Este é um clube que vive à base de trabalho e de “carolice”, somos todos voluntários e temos vindo a dinamizar o clube à procura de mais apoios, uma vez que sem dinheiro, não há Futebol. Mas, ao mesmo tempo, temos desenvolvido as camadas jovens, aumentando o número de jogadores em 40% apenas nesta temporada, desde os petizes até aos juniores. O clube tem alguns desafios difíceis como a falta de transportes públicos nesta zona, não há comboio aqui ao lado e estamos numa ponta do Concelho de Sintra, mas, com muita luta, temos conseguido ter jogadores para todos os escalões e aumentámos muito a nossa formação.

    O balneário do CAPP tem um espaço personalizado para cada jogador
    Fonte: Bola na Rede

    “Já tivemos dois jogadores dos Benjamins B, e que ainda são Traquinas, a ir ao Benfica e ao Sporting, tivemos outro guarda-redes que também foi chamado ao Sporting”.

    BnR: E já se encontra talento?

    MS: Já tivemos dois jogadores dos Benjamins B, e que ainda são Traquinas, a ir ao Benfica e ao Sporting, tivemos outro guarda-redes que também foi chamado ao Sporting e temos uma atleta que é guarda-redes de infantis a ser chamada à selecção da AF Lisboa; portanto, penso que já se começa a ver frutos.

    BnR: E são jovens que são aqui desta zona?

    MS: Alguns daqui e outros de fora. Temos alguns de Mem Martins, Algueirão e Cacém, também dessas zonas.

    BnR: E no passado, houve algum jogador que tenha sido formado aqui e que tenha conseguido dar o salto?

    MS: Tivemos um jogador, que era guarda-redes, o Valter Onofre, que saiu daqui para o Sporting e que era um excelente guarda-redes. Não sei se o Rui se lembra dele.

    RF: Só de ouvir falar, mas sim. Depois ainda jogou no SC Braga.

    BnR: Tivemos jogadores, como por exemplo o Cláudio Oeiras, que ficou famoso por eliminar o FC Porto da Taça, e que passou por aqui, e o Nuno Abreu, ambos com passagens pelo Benfica.

    MS: Sim, exactamente. Ambos jogaram com o meu filho no Benfica. O Cláudio foi do SC União Torreense e o meu filho foi do Sporting, no mesmo ano, para a Luz; era o companheiro de viagem do meu filho; todos os dias iam os dois juntos para Lisboa, o meu filho apanhava-o em Negrais.

    BnR: De onde é o Marco Caneira…

    MS: Que também jogou com o meu filho no Sporting desde os infantis até aos juniores. Assim como o Simão Sabrosa, que era mais novo, mas jogava no escalão acima.

    BnR: E o Tiago Petrony, que é campeão do Mundo de Futebol de Praia…

    RF: E ainda há mais. Temos, por exemplo, o João Gomes que, apesar de não ter sido formado aqui, passou por cá e que agora está no Estoril-Praia SAD e assinou um contrato profissional este ano. Ele fez aqui as duas primeiras épocas de sénior, oriundo do CF “Os Belenenses”, depois foi para o CD Mafra e este ano foi com o treinador Luís Freire para o Estoril. Temos também o Rui Pereira, que agora está na Segunda Liga, no Mafra, e que também passou por aqui na formação e depois na equipa sénior. Depois temos dois no CNS, um no CD Fátima e outro no CF “Os Armacenenses”, que são dois jovens com futuro e cuja carreira acompanhamos, que são o Miguel Artur e o Malaine Camará.

    BnR: Portugal está agora a iniciar a defesa do Campeonato Europeu e há jogadores, como Cristiano Ronaldo e Rui Patrício, que já estão nos trinta. Sente que o caminho para mais sucessos europeus como o de 2016 passa por este investimento na formação?

    MS: Eu penso que temos bons talentos. Obviamente que como o Ronaldo, penso eu, vai ser muito difícil termos alguém igual. Como um Patrício acredito que sim, Portugal teve sempre bons guarda-redes. Penso que o caminho está criado e que vamos estar sempre lá em cima perto do topo no Futebol de selecções.

    RF: Isso é verdade, como formação sempre estivemos nos melhores do Mundo. E a prova disso são os jogadores que temos no estrangeiro. Cada vez mais os clubes apostam na formação, até como forma de rendimentos futuros e de receita. Um clube que consiga formar um bom jogador pode, futuramente, ter muito bom retorno monetário.

    BnR: Temos o caso do Renato Sanches, com a saída do Benfica para o FC Bayern Munique, que deu retorno ao clube formador, o Recreativo Águias Musgueira.

    RF: Ou mesmo do Nélson Semedo, aqui no Sintrense.

    MS: Nós estamos num processo de certificação de formação mesmo com esse objectivo: ter algum talento criado aqui. Até porque mesmo para competir no CNS é necessária essa certificação e já estamos a tratar disso para a próxima temporada. Mas eu penso que a formação poderá ser muito importante e trazer dinheiro ao clube.

    RF: Dinheiro e não só, porque hoje em dia há reconhecimento de quem forma bem e é o pão que alimenta os clubes, porque não temos condições financeiras para comprar lá fora. É um patamar que não é o nosso e por isso mesmo vamos investir em formar talentos aqui. Nesse sentido, estamos a ponderar construir um segundo campo para criar uma equipa de sub-23. O pessoal que sobe a sénior às vezes tem dificuldade em encaixar numa equipa principal e pode ser bom ter uma equipa que entre em competição, como o Sintrense B ou o FC Alverca B.

    A bancada do clube costuma estar bem diferente em dias de jogo
    Fonte: Bola na Rede
    BnR: No passado recente vimos vários jogadores brasileiros nos campeonatos portugueses e uma mentalidade que o jogador nacional era inferior ao brasileiro. A conquista do Euro 2016 veio encerrar essa mentalidade e hoje em dia o jogador português é visto com outros olhos?

    MS: Eu penso que sim. Temos muitos jogadores no estrangeiro e que são sinónimo de qualidade.

    RF: Temos imensos jogadores no estrangeiro, em campeonatos como o búlgaro, e isso mostra o nosso valor. Mesmo aqui, temos jogadores formados nos grandes, como o Tiago Santos – formado no Benfica – ou o Miguel Pinto, que foi formado no Benfica, mas que esteve três anos na Holanda, no FC Twente. Há muitos jogadores de qualidade que não são mediáticos mas que têm imensa qualidade. E depois há a questão dos empresários, que muitas vezes fazem pressão e querem colocar os seus jogadores.

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    Vítor Miguel Gonçalves
    Vítor Miguel Gonçalveshttp://www.bolanarede.pt
    Para Vítor, os domingos da sua infância eram passados no velhinho Alvalade, com jogos das camadas jovens de manhã, modalidades na nave e futebol sénior ao final da tarde.