Dunga: o timoneiro de um Brasil ‘afundado’

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    O Dunga está para o futebol como a Dilma está para a política: a afundar o Brasil.

    Consegue imaginar uma Fase Final do Mundo sem o Brasil? Parece improvável, não?! Mas conseguia imaginar a Islândia, a Albânia ou a Irlanda do Norte apuradas diretamente para um Europeu? Também parecia improvável. Só que a verdade é que a improbabilidade faz parte do Futebol. Um Campeonato do Mundo sem o Brasil? Seria a primeira vez na história do Futebol Mundial. Mas já houve primeiras vezes para tantas outras coisas no Mundo!

    O Mundial de 2018 ainda está longe, mas na América do Sul a fase de qualificação já se começou a jogar. E com Dunga ao comando. Penso que o Brasil se apurará com muita dificuldade. É certo que há quatro vagas diretas e mais uma de playoff que é praticamente uma porta de acesso garantido ao Mundial. Porém, para esses lugares há mais seis pretendentes além do Brasil: Chile, Argentina, Colômbia, Uruguai, Paraguai. e o surpreendente 1.º classificado, com quatro vitórias em quatro jogos – Equador.

    O Brasil com Dunga torna a minha previsão não tão surpreendente. Todos os brasileiro dizem que o Brasil está ‘ruim’, mas quase toda a gente não entende porquê. O que está mal quando o jogador brasileiro continua a jogar nos melhores campeonatos do Mundo?

    O Brasil de hoje está ‘AFUNDADO’ na sua identidade, nas suas ideias. É uma nau com um destino, mas sem rumo. O Brasil com Dunga quer chegar à Russia em 2018, como Portugal quis chegar novamente à Índia em 1500, só que afinal Alvares Cabral descobria o Brasil, e pode ser que Dunga descubra… O fundo do poço! Talvez ele precise de pedir emprestada a poção mágica a Panoramix ou a Nossa Sr.ª do Caravaggio a Scolari. Pelas suas decisões e escolhas não parece que irá chegar à Russia, certamente.

    Há escolhas de Dunga que no mínimo são… Engraçadas. No máximo, diria… Ridículas!

    Um selecionador se não sabe jogar bem terá de saber escolher melhor. Se um selecionador não sabe escolher bem, então terá de saber jogar melhor. Dunga: nem a versão 1, nem a versão 2!

    Não entende nada de Futebol? Acha que o Futebol é dar pontapés até colocar a bola na rede? Pare para pensar. O Brasil de antes colocava menos questões para um leigo do futebol do que hoje para um expert analista. O que terá mudado assim tanto? Onde estão os Ronaldinhos, Rivaldos, Kakas, Ronaldos, Romários, Bebetos, Sócrates, Garrinchas e Péles? O Futebol evoluiu, e muito, só que no Brasil continua a acreditar-se que o “camisa 10” leva uma nação às costas. São 200 milhões de habitantes, e viver de uma só vedeta como Neymar é frustrante.

    No Brasil atual falta claramente uma filosofia de jogo, padrões de comportamento, um perfil de jogador e acima de tudo a tão aclamada constância nas escolhas, que numa seleção faz ainda mais sentido. O tempo para transmitir ideias, para as treinar e para as consolidar já é pouco. Se, ainda assim, Dunga faz questão de demonstrar imensas dúvidas numa equipa tipo, tudo se torna bem mais complicado.

    Vamos debruçar-nos sobre as duas últimas competições realizadas pelo Brasil – Copa América, Junho de 2015, e Qualificação Mundial, Outubro e Novembro de 2015 – até ao momento. São oito jogos em que o Brasil conseguiu quatro vitórias (Peru e Venezuela, ambas duas vezes), dois empates (Paraguai e Argentina) e duas derrotas (Colômbia e Chile). O Brasil só conseguiu vencer 50% dos jogos e frente a adversários acessíveis. São 12 GolMar e oito GolSof (médias de 1,5GM e 1,0GS por jogo). Aquém das expectativas!

    Destas competições, mostraremos – na ilustração abaixo –  apenas os jogadores que sempre foram titulares nos oito jogos. São eles Daniel Alves (Barcelona), Miranda (Inter Milão), Elias (Corinthias) e Willian (Chelsea). Neste lote poderíamos incluir Filipe Luiz (Atl. Madrid), que fez sete jogos a titular, e, claro, Neymar (Barcelona), que fez apenas quatro jogos por causa da suspensão da FIFA, mas teria feito mais.

    O Brasil de Dunga é uma equipa de muitas dúvidas, de muitas indefinições, o que gera muitas incertezas na qualidade de jogo e nos resultados. Qualidade a mais, pressões exteriores, influências de empresários, comissões em transferências, falta de liderança, indefinição de ideias, falta de critério nas escolhas e colocação de interesses pessoais acima dos interesses da seleção leva a este tipo de situações.

    Sem muita exaustão, lançaremos apenas algumas das interrogações às escolhas de Dunga.

    Ponta de Lança: Quem imaginaria o Brasil com falta de referências no “homem-golo”?

    As escolhas de Dunga são em tudo questionáveis. Oportunidades dadas a uns e falta de oportunidades dadas a outros. Dunga chamou Fred (32 anos), Diego Tardelli (30 anos), Ricardo Oliveira (35 anos) e Firmino (24 anos). Em toda a sua carreira, juntos têm 79 internacionalizações e 29 golos.

    Comparação entre os avançados brasileiros Fonte: Dados do zerozero
    Comparação entre os avançados brasileiros
    Fonte: Dados do zerozero

    Excluindo Firmino, que era médio centro no Hoffenheim, os outros três têm em comum ter mais de 30 anos e terem jogado ou jogarem no Brasil. Os avançados que atualmente estão em afirmação no melhor futebol Mundial, que é na Europa, são: Fernandão (28 anos), Jonas (31 anos), Luiz Adriano (28 anos) e Alex Teixeira (25 anos). Em toda a sua carreira têm juntos 12 internacionalizações e dois golos. Dá para entender? Os quatro avançados escolhidos por Dunga têm uma média de 0,4 golos/jogo em campeonatos de menor expressão. Os quatro avançados nunca escolhidos têm uma média de 0,7 golos/jogo no exigente Futebol Europeu. É certo que no Brasil há quem não os conheça. Informem-se. Futebol são números!

    As chamadas de Roberto Firmino são tão gritantes como a convocação. que nunca existiu, à seleção de Alex Teixeira. Se Dunga adapta um médio ofensivo ex-Hoffenheim que hoje tem um golo marcado em 21 jogos no Liverpool como avançado-centro, como é que não chama Alex Teixera? Médio ofensivo do Shaktar com 26 golos marcados em 26 jogos!!! Porque não dá a mesma oportunidade dada a Firmino?

    Os avançados que têm sido chamados e os que têm ficado de fora Fonte: Imagens recolhidas da Getty Images
    Os avançados que têm sido chamados e os que têm ficado de fora
    Fonte: Imagens recolhidas da Getty Images

    Guarda-redes da Série B a titular da Seleção do Brasil!

    Pouco há a dizer acerca deste assunto porque alguém acordou o Dunga deste pesadelo. Ainda assim, com todo o respeito pelo Jefferson (Botafogo, 32 anos), se ele nunca saiu do Botafogo é por alguma razão. Dunga abriu os olhos e hoje tem ao seu dispor uma promessa brasileira: Alison Becker (Internacional, 24 anos) é uma escolha de futuro (vejam as suas defesas no Youtube e estaremos de acordo). Neto (Juventus, 26 anos, ex-Fiorentina), com o fim de carreira de Buffon, voltará de novo à seleção.

    Lançar farpas a partir de algumas generalidades das escolhas e não escolhas de Dunga!

    Dunga está bem servido na lateral esquerda com um dos melhores laterais esquerdos do Mundo, Marcelo, mas ainda assim decide apostar num também bom lateral esquerdo: Filipe Luiz. Contudo, já chamou Douglas Santos (Atl. Mineiro) e Geferson (Internacional) e não manteve chamada no experiente Maxwell (PSG), ou no promissor Alex Sandro (Juventus), ou no lateral esquerdo titular de uma das melhores equipas do mundo – Rafinha (Bayern). Este nunca foi chamado à seleção brasileira! Só que Douglas Santos e Geferson ainda estão no Brasil à espera da transferência.

    Dunga está queimando Thiago Silva (PSG); enquanto isso chama Gil (Corinthias) e o que não joga, Gabriel Paulista (Arsenal). Maicon (Porto), Jardel (Benfica), Rhodolfo (Besiktas) e Danilo Silva (D. Kiev) nunca mereceram uma oportunidade de chamada. Só que o Gil ainda está no Brasil à espera da transferência.

    Philippe Coutinho (Liverpool, ex-Vasco) saiu do Brasil com 18 anos em 2010, Lucas Leiva (Liverpool, ex-Grémio) saiu com 20 anos em 2007, Ramires (Chelsea, ex-Cruzeiro) saiu com 22 anos em 2009, Diego (Fenerbahçe, ex-Santos) saiu com 19 anos em 2004, Fred (Shaktar, ex-Internacional) saiu com 20 anos em 2013. Estes são nomes que caíram no esquecimento depois de saírem muito novos e terem as suas transferências milionárias para a Europa. Dá para juntar Wendell (Leverkusen, 22 anos), Alan Loureiro (Nápoles, 24 anos), Felipe Anderson (Lazio, 22 anos) e Lucas Silva (Marselha, 22 anos), que nunca jogaram na seleção, mas que já saíram do Brasil. Parece que só o treinador Europeu, na hora da compra, tem de ver o futebol Brasileiro; o selecionador Brasileiro, na hora da escolha, esquece-se de ver o Futebol Europeu!

    Everton Ribeiro (Al Ahli, ex-cruzeiro) foi chamado este ano à seleção! Conselho de amigo, Dunga: se queres ganhar dinheiro chama o Gabriel Barbosa (Santos, 19 anos), com 21 golos marcados este ano e que nunca jogou pela seleção. É só fechar o valor com o empresário! Chamar Lucas Lima e Renato Augusto, craques do Brasileirão, vai ajudar, mas estes jogadores já o mundo do futebol conhece!

    O futebol do Brasil continua profundamente afundado no passado e nas feridas abertas pelas goleadas sofridas no Mundial. Continua a refletir sobre o sofrimento por algo que deveria ter servido de estímulo para novos paradigmas e metodologias. Quase toda a gente já teve um momento mau na vida. Este é o momento atual do Brasil. Às vezes é preciso bater no fundo do poço para se perceber o tamanho do buraco. Só que o 7-1 da Alemanha, os 3-0 da Holanda e a eliminação prematura na Copa América não pareceram ser o fundo do poço. Até onde este timoneiro naufragará a nau brasileira?!

    Foto de capa: Facebook da CBF

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    Paulo Sousa
    Paulo Sousahttp://www.bolanarede.pt
    Um português residente no Brasil. Vive com intensidade e aprendeu a não ter medo de escolher. Ama e trabalha com o Futebol, que colide com alguns dos seus valores morais. Futebolísticamente interessa-se por assuntos polémicos e desmistificar ideias não sustentadas em fatos. Inconformado, contagia-se pelos porquês que o levam a amadurecer.                                                                                                                                                 O Paulo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.