Mais um jogo menos tranquilo por parte da equipa de Portugal, após a vitória ao cair do pano frente à Hungria. Desta vez, o nulo prolongou-se por muito mais tempo do que seria desejável para Roberto Martinez e foi arrefecendo os ânimos em Alvalade. O golo solitário de Rúben Neves chegou na compensação para manter o registo perfeito da seleção portuguesa na qualificação, com dedicatória emotiva a Diogo Jota.
Sem surpresas, foi com uma ideia de jogo vincadamente defensiva que a Irlanda entrou em campo. É o que se pode esperar da maioria dos jogos desta natureza: as equipas mais frágeis querem conseguir o apuramento e anular o poder ofensivo dos “tubarões” é uma das estratégias mais frutíferas para esse fim. Assim, os resultados em jogos de qualificação teoricamente desequilibrados variam muito entre vitórias tangenciais e goleadas. Mas o que é que determina qual dos dois acontece?
A forma como a equipa favorita entra no jogo é determinante e, colocando-se em vantagem nos instantes iniciais, muito dificilmente perde pontos. A tensão começa a materializar-se quando não se consegue converter a notória superioridade na posse de bola em golos. Foi exatamente isso que aconteceu nesta receção aos Irlandeses, com duas ocasiões flagrantes a serem desperdiçadas e pouco mais a registar no primeiro tempo. Na segunda parte, a paciência e compostura tornou-se a maior virtude dos portugueses e acabou por valer a vitória.

O xadrez tático das fases de qualificação é recorrente e a forma cautelosa como as equipas com menos argumentos se apresentam acaba quase sempre por diminuir a qualidade do espetáculo. As mesmas seleções em contexto de fase final, já com uma ligeira (mas importante) sensação de dever cumprido, vão a jogo com uma mentalidade que se pode traduzir como “a partir daqui, tudo o que vier é lucro”. A probabilidade de cometer um erro que permita o golo adversário aumenta exponencialmente.
Para quem analisa a performance da seleção portuguesa, fica a sensação de que seria possível entrar com outra atitude em campo e resolver o jogo mais cedo. Algumas saídas para o contra-ataque pareceram desapoiadas, com o portador da bola a correr sozinho e a ver-se desprovido de opções de passe. O ataque organizado também careceu de fluidez em diversas ocasiões, tornando difícil encontrar espaços na compacta defesa dos boys in green.
Sem alterações sonantes nas convocatórias de Martinez, os jogadores parecem ter praticamente “lugar cativo”, o que não puxa nada por esse esforço extra. Faz falta aquela vontade de mostrar trabalho característica dos estreantes nos minutos em que são aposta. Isso ou simplesmente entrar com outra garra em campo, para decidir o encontro o quanto antes.
Criticar fica difícil quando olhamos para a tabela classificativa, com a campanha portuguesa a ser, até agora, pontualmente perfeita. No entanto, os perfecionistas vêm para além dos resultados e o selecionador nacional deveria ser um deles. Começar a incluir novos nomes que se tornem opções viáveis para renovar o plantel e conseguir um nível exibicional convincente frente a qualquer adversário são “pormenores” que vão escapando.

Fugindo um pouco dos aspetos táticos, é importante realçar a exibição de Caoimhín Kelleher. O guardião ex-Liverpool mudou-se para Brentford e tem vindo a demonstrar que realmente merecia sair da sombra de Alisson Becker. Foi o melhor irlandês em campo e claramente não merecia este desfecho do jogo. Não podia ter feito muito mais no lance do golo, que curiosamente surgiu de um cruzamento, depois de tantos outros que não tiveram sucesso.
Com o corredor central sobrepovoado, Portugal atacou maioritariamente pelos flancos. Os escassos lances desenhados no centro do terreno fizeram uso de passes por cima da linha defensiva irlandesa, que acabaram invariavelmente para lá da linha de fundo ou nas mãos de Kelleher.

O próximo encontro adivinha-se diferente, com a Hungria a querer resgatar os três pontos para manter a esperança (ainda que ténue) da qualificação direta. Para Portugal, somar três pontos poderá garantir desde já a presença no Mundial a disputar no próximo ano, desde que a Arménia não derrote a Irlanda.