“É um clube em que todos os jogadores sonham jogar, e onde os sonhos se tornam realidade”, afirmou o internacional inglês Marcus Rashford aquando da sua apresentação pelo Barcelona.
O clube catalão assegura os serviços do extremo inglês por empréstimo dos ingleses do Manchester United até final da época com opção de compra não obrigatória avaliada em 30 milhões de euros.
Tendo em conta o fato do clube catalão estar a atravessar uma grave crise financeira, envolto em grandes polémicas (sendo inclusive várias vezes impedido de inscrever os jogadores no timing ideal) apesar de conseguir fechar as suas contratações, como foram o caso de Dani Olmo e de Pau Victor na época passada, o Barcelona fez uma época fantástica e muito acima das expectativas.
A indefinição em torno da legalidade ou ilegalidade da inscrição dos já citados jogadores, resultou num processo que se arrastou até fins de Abril, ou seja, quase até ao fim da Liga Espanhola da época transacta, o que é algo inusual, e bastante questionável e um pouco vergonhoso.
Rashford é um jogador extremamente talentoso, mas tem estado muito tempo afastado dos holofotes, e cujo valor de mercado desceu vertiginosamente nas últimas épocas. Sobejamente conhecido pela sua vertente solidária e o seu lado humano (sendo dos jogadores que mais participa de causas sociais), essa faceta foi mais destacada nos últimos tempos do que propriamente a sua performance futebolística.
Por todos esses motivos, é normal que a contratação de Rashford não tenha gerado um grande interesse nem despertado um grande entusiasmo na imprensa espanhola e junto dos adeptos do clube blaugrana, mas eu sou daqueles que considero que o extremo inglês pode fazer a diferença na equipa do Barcelona, que foi na minha modesta opinião, a melhor equipa da época passada a par dos franceses do PSG.
O destino e uma bola ao poste de Lamine Yamal nos descontos da segunda parte da segunda mão da meia-final contra os italianos do Inter Milão, impediu a final da Champions League com que todos os adeptos do “Jogo Bonito” (dos quais eu sou um fã acérrimo) sonhavam.
Nico Williams, que já havia estado perto de representar o clube na época transacta, voltou a ser o nome mais falado para reforçar o ataque do Barcelona, e a abrir uma janela que ele próprio a tinha fechado no Verão passado por receio legítimo de que o Barcelona o conseguisse inscrever, algo que nem Joan o presidente Laporta nem o director desportivo Deco (ex-internacional português), lhe conseguiam garantir.
O extremo espanhol era sem dúvida o que mais ilusão criava no seio do balneário da equipa catalã (nomeadamente do seu amigo e companheiro de seleção Lamine Yamal), assim como junto da afición culé.
Posteriormente falou-se em Luis Díaz, mas os ingleses do Liverpool foram intransigentes nas suas pretensões de uma proposta de mais de 80 milhões de euros pelo extremo colombiano, negócio que o Barcelona não pode assumir devido aos tais problemas relacionados com o fair-play financeiro, não só pelo valor da contratação, mas pelo salário que Díaz poderia vir a auferir no emblema catalão.
Da mesma forma que devemos enaltecer o extraordinário trabalho do treinador alemão Hansi Flick (tendo conseguido melhorado quase todos os jogadores), também devemos afirmar que a sua tática é um pouco “kamikaze” e expõe imenso a sua equipa a constantes desequilíbrios defensivos devido a jogar sempre com a linha defensiva muito avançada, e que apesar de contar nas suas filas com um jogador cerebral como o Pedri, a generalidade da equipa só sabe jogar em alta voltagem e correndo de forma desenfreada, ideal para o estilo de jogo de Flick.
Rashford é outro jogador de características semelhantes à de Nico Williams, e se há treinador que pode recuperar o jogador inglês para o futebol de alto nível, é claramente o técnico alemão Flick.
Demonstrou isso na época transacta e ganhou um crédito gigante por mérito próprio. Não foi uma época perfeita do Barcelona devido ao percalço final na Champions League, mas foi uma época quase perfeita e muitíssimo acima das projeções iniciais para um plantel tão jovem e uma equipa em construção. Se conseguir melhorar defensivamente e acrescentar um pouco de pausa ao seu jogo, tem plantel mais do que suficiente (numa mescla de experiência e juventude), para voltar a repetir os êxitos da época passada.
Rashford começará como suplente e acredito que o mesmo está perfeitamente consciente disso. O seu estatuto mudou drasticamente nas últimas épocas, apesar de ter tido exibições de grande qualidade na sua passagem pelo Aston Villa nos últimos meses da época passada. Quatro golos e seis assistências não são números brilhantes, mas estes foram obtidos em apenas 17 jogos.
Será Rashford capaz de recuperar o seu melhor futebol nesta sua primeira experiência fora de Inglaterra? Eu estou convicto de que sim. Muitos foram os fatores que atribuíram a esta brutal quebra de rendimento do talentosíssimo extremo inglês (falta de motivação, necessidade de um novo rumo na carreira, falta de compromisso, problemas extra-campo, a instabilidade do Manchester United).
Mas um jogador de 27 anos está mais do que a tempo de conseguir voltar ao seu melhor nível e calar todos os seus críticos, que por vezes o usaram injustamente como bode expiatório do péssimo rendimento da equipa do Manchester United nas últimas épocas.
Rashford tem a sua percentagem de responsabilidade, mas os problemas do Manchester United são infinitamente mais profundos do que uma queda de rendimento de uma duas suas maiores estrelas.
É ano de Mundial e certamente que isso também terá tido um peso na decisão de Rashford, que necessita de ter uma grande sequência de jogos e de se voltar a sentir importante. Abdica de 30% do salário (o que demonstra que tem conhecimento da frágil situação financeira do emblema espanhol), demonstrando compromisso e sentido de clube, sem ainda ter disputado qualquer jogo com a sua nova equipa.
Além disso, Rashford sabe que terá muito tempo de utilização, caso tenha um bom rendimento nos treinos e quando for chamado a dar o seu contributo. De início, creio que terá o papel que Ferran Torres teve na época passada, uma espécide de jogador número 12, aquele a quem Hansi Flick irá recorrer em primeiro lugar quando tiver que refrescar o ataque da sua equipa.
No atual contexto do Barcelona, é um luxo poder ter um jogador da qualidade de Rashford como solução revulsiva para poder entrar em campo, e conseguir fazer a diferença através de uma das suas arrancadas estonteantes (aproveitando o cansaço físico dos adversários nas segundas partes dos jogos), ou do seu potente pé direito.
Rashford não pode ser tratado como um jogador qualquer. 305 golos e 90 assistências (!) até agora na sua carreira, são números dignos de todo o registo. Rashford começou a jogar no plantel principal do Manchester United (clube a que chegou com 7 anos de idade) quando ainda não tinha completado 19 anos de idade, na época 2015/2016.
Marcus Rashford entrou para o estrelato, bisando na sua estreia pelo Manchester United, nos 16 avos-de-final da UEFA Europa League frente ao Midtjylland.
Foi uma entrada de sonho na primeira equipa. Rashford chegou rapidamente à titularidade no United, sendo titular em 18 dos últimos 19 jogos em 2015/16. Chegou a ter como colegas de equipa, nomes como Zlatan Ibrahimović, Wayne Rooney e Edinson Cavani, e conseguiu impor-se pela sua tremenda qualidade, grande personalidade e a sua irreverência.
Rashford terá de competir pela titularidade com um jogador que teve uma época quase irrepetível na minha modesta opinião: Raphinha. Com Hansi Flick ao leme, passou de um jogador transferível a um dos três melhores jogadores da equipa e aquele que apresentou números mais impressionantes (superiores aos do prodígio Lamine Yamal, o que reflete a extraordinária época do internacional brasileiro): 34 golos e 25 assistências, sendo que marcou qualquer coisa como 13 golos e dando 9 assistências na última edição da Champions League.
O extremo brasileiro (com passagem exitosa no futebol português pelo Vitória SC e pelo Sporting), alcançou um rendimento inimaginável, acredito que até para o próprio Raphinha, que é claramente um dos grandes candidatos a conquistar a Bola de Ouro no próximo mês de Setembro.
Talvez o prejudique não ter jogado a final da Champions League e ter baixado de rendimento nos últimos dois meses da temporada, mas certamente que estará na luta pela conquista do galardão individual mais importante.
Se Raphinha mantiver o mesmo nível da época passada e ainda para mais sendo um dos capitães de equipa, dificilmente Rashford lhe ganhará a titularidade.
Mas em todos os plantéis, é importante haver competitividade. Rashford também pode ser usado como falso 9 (embora não seja de todo a sua melhor posição), mas em alguns jogos, pode ser usado dessa forma, dando descanso ao já veterano mas muito produtivo Robert Lewandowski, que marcou mais de 40 (!) golos na época passada, sendo outro dos jogadores de rendimento absolutamente espectacular no Barcelona de Flick, e a quem uma inoportuna lesão o impediu de ter números ainda melhores do que os que teve.
Raphinha também poderá jogar pelo meio por vezes em jogos nos quais o Barcelona enfrente equipas mais débeis e onde tenha a total iniciativa do jogo, e jogarem lá na frente as setas Lamine Yamal e Marcus Rashford em apoio ao avançado polaco.
Acredito que não será algo que possa ser utilizado muitas vezes por Flick, mas é sempre importante dispor desta versatilidade e flexibilidade táctica, para poder surpreender os seus adversários e propor uma ideia de jogo diferente daquela que costuma apresentar a equipa blaugrana.
Eu prevejo muitas diabruras e grandes momentos da dupla de extremos Lamine Yamal e Marcus Rashford e confio que a sua adição melhora o plantel do Barcelona, dispondo de uma solução ofensiva (que apesar de não estar no seu melhor momento) com uma classe inquestionável, e que apenas necessita de voltar a adquirir índices de confiança que lhe permitam explanar toda sua qualidade num terreno de jogo.
Pelo fato de vir por empréstimo, e por ser uma cláusula de compra não obrigatória, na minha opinião, o negócio não apresenta qualquer risco para o Barcelona, que pode inclusive obter um rendimento fantástico de um jogador diferencial, caso este assim o queira.
“É simples, quero ganhar tudo. Acho que este é o melhor lugar para ganhar títulos. É uma equipa muito ambiciosa e vou tentar ajudar a equipa da melhor forma possível.”, afirmou igualmente Rashford na sua apresentação como novo número 14 da equipa do Barcelona.
Esta sua ambição e fome de vencer já são um excelente cartão de visita de Marcus Rashford no Barcelona. Se as lesões o acompanharem e se mantiver este nível de compromisso e dedicação, confio que possamos voltar a ter a melhor versão do extremo inglês.