📲 Segue o Bola na Rede nos canais oficiais:

Que livros de desporto devo ler nesta Quarentena? Sven-Göran Eriksson – A Minha História, de Stefan Lövgren

- Advertisement -

Sven-Göran era um gentleman. Dos bons, daqueles de cinema e que encarnava a frieza escandinava na perfeição. Precoce na competência, leva o semi-profissional IFK Gotemburgo à conquista da Taça UEFA em 1982, preconizando as ideias britânicas que Bob Houghton e Roy Hodgson levaram para a Allvenskan, anos antes.

Numa Europa dominada pela rigidez germânica da marcação homem a homem e dos líberos, Sven deixou-se influenciar pela tradição britânica das duas linhas de quatro e as transições rápidas. De ideias fixas e revolucionárias, chega a Lisboa e é recebido como nunca pensou.

“Aterramos no aeroporto da Portela num quente dia de Junho. O avião estacou longe do terminal e no meio de grande agitação. Centenas de pessoas estavam atraídas pela aeronave. Pensei que estavam à espera do primeiro-ministro, ou de alguém igualmente importante, mas estavam à minha espera, o novo treinador do Benfica, um dos maiores clubes do mundo” é a forma como introduz o seu primeiro capítulo sobre a estadia em Lisboa, no livro Sven-Goran Eriksson – A Minha História, de Stefan Lovgren e traduzido para português por Afonso Melo.

Foi esta a simplicidade que permitiu o rápido e saudável acolhimento das suas ideias no seio de um plantel recheado de estrelas. Havia Bento, Humberto, Carlos Manuel, Chalana e Néné, e muitos outros que inscreveram o nome a letras douradas na história benfiquista.

Sven, mais novo que alguns dos jogadores, conquistou a admiração dos atletas com uma naturalidade supersónica que só a classe aliada à competência permitem. Os jogadores não sabiam, mas algo os fazia acreditar que o homem que se treinava com um panamá da Macieira – a mais inovadora manobra de marketing de uma marca portuguesa – tinha chegado para revolucionar o clube e o futebol português. Na mentalidade e no relvado.

“Tal como no Gotemburgo, tive que começar pela base. Os jogadores do Benfica não estavam habituados ao 4-4-2. Não tinham conhecimentos sobre marcação à zona, a pressão e o apoio. Trabalhávamos um a um, dois a dois, três a três. O ponto chave era a defesa. Pegava num jogador e afastava-o dois metros para um lado, pegava noutro e afastava-o dois metros para o outro: como reduzir espaços aplicando a marcação à zona? Se o defesa-esquerdo tinha a bola em dinâmica ofensiva, que devia fazer Chalana, o extremo? Repisámos os mesmo movimentos vezes sem conta. Percebo perfeitamente que os jogadores tenham odiado esses primeiros tempos de treino.” – Excerto transcrito, p.58.

Com esta abordagem, o treinador sueco criou uma super-equipa que conquistaria a dobradinha interna e chegaria à final da UEFA. Sete anos depois, regressaria para alcançar a final da Champions.

Um livro que conta a história do treinador sueco, uma das maiores figuras dos bancos de todo o mundo
Fonte: Wook

No interregno desses dois momentos, passeou-se pelo Calcio na sua fase dourada. Ao comando da AS Roma, onde passou muitas dificuldades numa primeira fase e depois na ACF Fiorentina. Ainda treinaria em Génova, assumindo os destinos da UC Sampdoria, antes de chegar à SS Lazio.

Mal recebido numa cidade que já tinha sido sua, decide ainda vender a estrela maior do conjunto. A dispensa de Signori despoletou uma onda de violência, que só acalmou quando aquela fabulosa equipa começou a cavalgar para o Scudetto, 25 anos depois. Na ”melhor equipa que já treinou”, palavras suas, havia Mihajlovic e Nesta no centro da defesa; Verón, Sensini, Almeyda, Simeone, Stankovic e Nedved suportavam um ataque com Boksic, Mancini e Salas.

Foi um dos melhores momentos da sua carreira, que colocaria o seu nome na galeria dos imortais e precipitaria o convite da FA para o cargo de seleccionador Inglês. Foi o primeiro estrangeiro da história naquele que seria considerado, tempos antes, como o “trabalho impossível”.

Teve à disposição a geração de ouro do futebol inglês, mas os resultados ficariam sempre aquém, não sendo capaz de acomodar no seu 4-4-2 as qualidades de Gerrard, Beckham, Lampard e Scholes. Com o auxílio dos sedentos tablóides ingleses, a sua imagem deteriorou-se e a pré-reforma chegou com a derrota frente a Portugal, no Mundial de 2006.

A partir daí, afirmou-se como globetrotter e percorreu o mundo à procura de garantias que o pusessem a salvo do grande esquema financeiro do qual foi vítima, quando recebeu o convite para colocar o Notts County no topo do futebol inglês.

É o livro essencial na percepção do homem e do treinador, das motivações e das influências que o levaram ao estrelato e das dificuldades que passou no ocaso da sua carreira. Um revisitar de todos os momentos que tornaram Sven numa das lendas dos bancos mundiais.

 

Artigo revisto por Joana Mendes

Pedro Cantoneiro
Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, de opinião que o futebol é a arte suprema.

Subscreve!

Artigos Populares

Benfica: Já é conhecida a lesão de João Veloso

João Veloso sofreu uma luxação anterior do ombro direito. Médio de 20 anos lesionou-se durante o Académico de Viseu x Benfica B.

Benfica District em avaliação: José Pereira da Costa esclarece como será a Assembleia Geral

José Pereira da Costa, presidente da Mesa de Assembleia Geral, clarificou alguns detalhes sobre a próxima Assembleia Geral do Benfica.

Matheus Nunes aborda tempos depois da saída do Sporting e diz: «Este é o momento mais feliz desde que cheguei a Inglaterra»

Matheus Nunes conta como está a ser experiência em Inglaterra: desde o tempo no Wolverhampton ao presente no Manchester City.

O plano estratégico do AVS SAD para tentar condicionar o FC Porto no Estádio do Dragão

O AVS SAD apresentou um plano estratégico estruturado no Estádio do Dragão, mas o início da segunda parte comprometeu os planos de João Henriques.

PUB

Mais Artigos Populares

Toni Kroos escolhe 4 favoritos a vencer o Mundial 2026: Portugal é um deles e há surpresa

Toni Kroos apontou Portugal, Espanha, França e Marrocos como favoritos no Mundial 2026. «Não podem ser quatro da Europa», disse.

Claude Puel volta ao ativo e rende Franck Haise no comando técnico do Nice

Claude Puel é o novo treinador do Nice. O experiente técnico de 64 anos foi o escolhido para suceder a Franck Haise no comando da equipa da Ligue 1.

Rafa Silva está «infeliz» no Besiktas e motivo pode estar relacionado com Kokçu: «Eu sei por que está infeliz»

Tayfur Bingol, ex-jogador do Besiktas, diz saber o porquê de Rafa Silva estar descontente no respetivo clube turco.