Vila do Conde como obstáculo para o título: 5 exemplos

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Benfica

Começa a ser recorrente a viagem a Vila do Conde na recta final dos campeonatos, sobretudo naqueles em que há hipóteses claras de o Benfica ser campeão. Em todas as ocasiões, que aqui tentamos recordar, nunca encontrou o SL Benfica facilidades.

Nunca um jogo nestas circunstâncias, de luta pelo título, colocou à frente do Benfica um Rio Ave FC incompetente ou desleixado. Nas vezes em que foi possível ultrapassar o obstáculo, foram precisos sangue, suor e lágrimas; noutras ocasiões, Vila do Conde e o Estádio do Arcos foram mesmo intransponíveis para um Benfica mais ansioso ou ingénuo.

Dado o nível demonstrado pelos comandados de Roger Schmidt, a acontecer que seja como no primeiro caso. Rasgadinho, muita luta, mas vitória encarnada no final.

2004-05

Jornada 28

Parecia o Benfica de Trapattoni ter encarrilado para o título. Vinha dum ciclo de 11 jogos sem perder, tinha acabado de vencer o Marítimo em casa por 4-3 – uma loucura de jogo, com golo trademark de Mantorras perto do fim – e os rivais, Sporting, Braga e Porto, estavam a seis pontos. Parecia tudo tranquilo e a postos para uma viagem agradável a Vila do Conde, ainda que lá morasse um Rio Ave invicto em casa. Obra de Carlos Brito.

Na até ali melhor receita de sempre dos Arcos (que se disse resultar da presença de 12800 adeptos, a exceder os 10751 oficiais de lotação), o Benfica aproveitou a boleia da onda encarnada e tentou desde cedo resolver o jogo. Foram-se falhando oportunidades, o nervosismo foi crescendo, e já o Rio Ave se lambuzava com o empate – que recompensava sobremaneira os seus muitos esforços defensivos – quando Saulo, aproveitando o desesperado desequilíbrio benfiquista para cavalgar até Quim e descobrir Miguelito, a aparecer pela esquerda.

Ora, a peripécia que tinha começado às 19h15 terminaria dali a pouco, quase ao mesmo tempo em que se iniciava a recepção do Sporting ao Beira-Mar. Aos 83’, Liedson fez o 1-0 e colocou leões a míseros três pontos do primeiro lugar.

Na semana seguinte, novamente Mantorras a marcar perto do fim na Luz, a evitar vitória do União de Leiria – o Sporting foi então a Moreira de Cónegos dar três a um, anulando a tal vantagem de seis pontos, transformando-a em pormenor de um ponto.

Foi esta a receita para o jogo do ano, jogado umas jornadas depois: começou em Vila do Conde a nervoseira benfiquista, que das últimas seis jornadas só venceu três – tremeu muito, mas lá conquistou o título 11 anos depois, com a cabeçada de Luisão sobre Ricardo.  

2014-15

Jornada 26

Aquele Benfica de Jorge Jesus ficou sem Europa muito cedo na temporada, o que permitiu foco total na revalidação do título. Fez-se campeonato exemplar, com 26 vitórias em 34 jogos e apenas três derrotas: duas delas de levar as mãos à cabeça e, não fosse a inconsistência do Porto de Lopetegui, de complicar contas em momentos-chave. A juntar à tolerável derrota em Braga, à 8.ª jornada, as derrotas em Paços de Ferreira, no virar da Liga, e a de Vila do Conde.

Se a 26 de Janeiro, o Benfica deixou os três pontos na Capital do Móvel e não aproveitou assim a derrota do Porto nos Barreiros, podendo aumentar para nove pontos a vantagem na tabela, a derrota nos Arcos foi incompreensível sobretudo pela maneira atabalhoada como se possibilitou que o Porto ficasse a um ponto – não fosse novamente a equipa de Lopetegui escorregar na perseguição, deixando mais pontos na Madeira (empate na Choupana).

Em Vila do Conde, o Benfica entrou a ganhar com um golo aos cinco minutos, talvez demasiado cedo para uma equipa tão confiante. Porque houve natural alívio da intensidade e da agressividade imposta no relvado, houve sobranceria em certas alturas e o Rio Ave de Pedro Martins aproveitou como pode – quando Ukra empata de grande penalidade, aos 74, os benfiquistas aperceberam-se da alhada em que se tinham metido. Já era tarde para readquirir o controlo, os da casa impuseram a sua vontade, Luisão é expulso aos 85 para ajudar à festa e o irrequieto Del Valle marca já depois da hora.

Com o Porto a três pontos depois de poder ficar a um, surgiu estranho mistela de sentimentos, a satisfação e o alívio de mãos dadas com a ansiedade de desgraça iminente.  Reformulação de planos – aguentar a vantagem até ao Benfica-FC Porto, da jornada 30. Feito, na Luz houve um 0-0 e abriu-se a porta do bicampeonato. Confirmado em Guimarães, na penúltima ronda, porque novamente Lopetegui não foi além dum empate no Restelo, por causa dum famoso golo de Tiago Caeiro.  

2015-16

Jornada 31

Começa aqui a história de Jiménez com Vila do Conde, numa coincidência que de circunstâncias tão semelhantes chega a ameaçar desvanecer-se no tempo, aglutinando-se ao episódio do ano a seguir para formar apenas uma grande lembrança na memória colectiva. Os dois jogos por 0-1, os dois golos à passagem do último quarto-de-hora: 2015-16 aos 73’, época seguinte aos 75’.

Se o golo de 2016-17 é mais memorável pelo contra-ataque tirado dos manuais especializados, 2015-16 representa um dos jogos mais dificeis numa série chata, chatinha. Apesar do Benfica só ter perdido um jogo desde a jornada 14 (inexplicavelmente com o Porto de Peseiro, na Luz…), as coisas foram-se complicando, sobretudo como visitante. Antes de Vila do Conde, já Jiménez tinha resolvido perto do fim em Coimbra; Antes disso, fora Jonas a resolver fora de horas no Bessa; Na jornada 33, a epopeia dos Barreiros, no jogo em que Renato é expulso ainda na primeira parte. Felizmente, houve sempre estrelinha de campeão, entidade sobrenatural da qual Rui Vitória abusou em muitos momentos – e por aí talvez se justifique o descalabro que foi quando o poder da mesma se esgotou, em 2017-18…

 O Rio Ave não perdia nem sofria golos há quatro jogos, ou 473 minutos. O Benfica, por seu turno, vinha de oito jogos a ganhar na Liga e nove consecutivas eram as vitórias fora de casa (mas lá está, só em duas não se sofreu golos).

Pedro Martins acabaria por levar o Rio Ave à Liga Europa, e o Benfica sofreu com essa competência: Wakaso, Tarantini e Pedro Moreira tornaram Renato obsoleto e obrigaram Jonas a procurar terrenos onde podia vaguear inofensivamente. 

O Benfica sofreu durante a maior parte do jogo, chegou ao golo num daqueles exemplos de “pragmatismo”, aproveitando a bola parada.

2016-17

Jornada 32

A mesma descrição do jogo anterior se aplica a esta, com a única diferença de que o Benfica desfez o nó com uma maravilha de jogada na qual fica bem patente a colossal visão futebolística de Jonas, descobrindo Salvio duma maneira em que outros só descobririam uma charutada para a bancada.

Este Rio Ave, que já não era de Pedro Martins, mas de Luís Castro, tinha um onze bem mais para a ‘frentex’, com Lionn no apoio a Gil Dias na ala direita, Krovinovic ao lado de Tarantini, um imberbe Rafa Soares a cavalgar pela esquerda, a aproveitar o espaço deixado pelo cabo-verdiano Héldon.

Vitória fulcral para o título: além de ser a jornada 32, o Porto escorrega na Madeira, frente ao Marítimo (1-1), aumentando a vantagem encarnada para cinco. O título consumou-se na jornada seguinte com um fabuloso 5-0 ao Vitória Sport Clube, que ao intervalo já era 4-0.

2018-19

Jornada 33

Se formos analisarmos individualmente cada uma das últimas 25 épocas de Benfica, não encontraremos segunda volta tão avassaladora como a de Bruno Lage. Nos seus 19 jogos ao comando desse Benfica 18/19, 72 golos marcados. Quatros, cincos, seis, um dez, os placards dos jogos do Benfica eram delírios de criançada.

Em Vila do Conde, talvez o jogo mais difícil da caminhada para o 37.º titulo, a par do jogo do Dragão e do pateta 2-2 com o Belenenses, a única nódoa no imaculado registo: ainda para mais, Bruno Lage, que nesse dia fazia 43 anos, vinha receoso. Nas duas jornadas anteriores, com Braga e Portimonense, o Benfica tinha sempre dado uma parte de avanço ao adversário.

Sabia muito bem o técnico português que, ali, capricho igual seria a morte do artista. Por isso mesmo, nuns Arcos à pinha já depois da tradicional e estrondosa recepção ao autocarro, o Benfica quis cedo resolver um jogo que teimou em ficar completamente esclarecido – nunca deitando a toalha ao chão, o Rio Ave deu incrível réplica, respondeu sempre aos golos adversários e fez o que pode até ao apito final. 

Pedro Cantoneiro
Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, de opinião que o futebol é a arte suprema.

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