Chegou ao fim mais uma edição do Rali Dakar, este que, talvez tenha sido, o mais duro dos que já foram realizados na Arábia Saudita. Foram mais de 4.700 quilómetros, em duas semanas, nesta que é a mais prestigiada competição de todo-o-terreno do mundo.
O grande vencedor foi o inigualável Carlos Sainz que, aos 61 anos, tornou-se no mais velho a triunfar num Mundial FIA e o primeiro a vencer no Dakar com quatro carros de marcas diferentes. Ao fim de muitos anos a competir nesta prova, demonstrou continuar a ter o espírito competitivo e a classe que sempre o distinguiu. Esta sua quarta vitória no Dakar ficou marcada pela singularidade da máquina que conduziu até à vitória, com um veículo híbrido, movido a motores elétricos e um extensor de autonomia, algo pioneiro na competição.
Outro dos grandes destaques desta edição foi o duelo entre os dois mais poderosos das areias do deserto: Carlos Sainz e Sébastien Loeb. Foram disputas renhidas que previam o melhor do automobilismo para as últimas etapas. A penúltima prova ficou marcada por um erro de Loeb que comprometeu a vitória e afastou qualquer hipótese que poderia ter para ser feliz na final. Depois de um dano na suspensão do carro, o francês atrasou-se e ficou a 1h23m do espanhol. Esta reviravolta na competição fez com que a dupla Carlos Sainz/Lucas Cruz apenas tivesse de carimbar presença na última etapa, sem cometer erros, para ter uma vitória certa.
A fazer companhia ao espanhol, Guillaume de Mevius terminou em segundo lugar, na sua primeira participação, depois de uma excelente estreia com prestações consistentes, mesmo que beneficiando dos vários abandonos que aconteceram. Sébastien Loeb completou o pódio e terá de esperar mais um ano para conseguir o tão desejado triunfo.
SSV
Na penúltima etapa do Dakar, a corrida dos SSV (T4) teve algumas mudanças na classificação, o que antevia uma final bem disputada.
As duplas Xavier de Soultrait/Martin Bonnet e Jerome de Sadeleer/Michael Metge ficaram separadas por, apenas, 2m49s e deixaram tudo em aberto para a etapa final. Depois de muita expectativa, foi Soultrait quem levou a melhor e carimbou a sua vitória num sprint final, superando o seu rival e vencendo o seu primeiro Dakar. Yasir Seaidan e Adrien Metge fecharam o pódio.
O equilíbrio entre todos e a imprevisibilidade para encontrar um vencedor, acabaram por afastar as hipóteses de vermos um português a subir ao primeiro lugar do pódio. João Ferreira e Filipe Palmeiro fizeram uma excelente última etapa, terminando em segundo lugar, enquanto que na geral fecharam o Top 5.
Challenger
Nos Challenger (T3), a grande novidade foi a vitória de Cristina Gutiérrez que se tornou na segunda mulher a vencer um Dakar (na sua classe), depois de Jutta Kleinschmidt o ter feito em 2001. Cristina começou a última etapa 25 minutos atrás de Mitchell Guthrie, que terminou em segundo lugar, e aproveitou os problemas mecânicos do seu adversário para fazer história. O terceiro posto ficou a cargo de Rokas Baciuska e Oriol Vidal Montijano.
Os portugueses terminaram esta categoria com resultados bastante positivos, com destaque para Ricardo Porém que carimbou o oitavo lugar. O seu compatriota João Monteiro não conseguiu uma posição no Top 10, contudo, depois de uma prova consistente, ficou-se pelo 13º posto.
Motas
Nos motorizados, Ricky Brabec foi o grande vencedor da 46ª edição do Dakar, depois de apenas ter precisado de fazer uma gestão na última etapa. As posições não se alteraram no último dia e em segundo e terceiro lugares ficaram Ross Branch e Adrien Van Beveren.
Brabec fez um Dakar quase perfeito, com uma condução bastante sólida e inteligente, ao ter consciência dos erros que não poderia cometer para que não comprometesse os bons resultados que ambicionava. Foi a sua estratégia conservadora que definiu performances irrepreensíveis nas pistas.
O português Rui Gonçalves, depois de fazer um extraordinário rali – estava em 24º lugar na geral à partida da 11ª etapa – teve um final inglório, uma vez que se viu obrigado a abandonar, depois de uma queda na penúltima prova.
O balanço da participação portuguesa é bastante positivo, com os pilotos a darem boas indicações e fazerem ótimas corridas. O melhor classificado foi António Maio que, depois de terminar a última etapa em 22º lugar, garantiu uma honrosa presença entre os vinte melhores (18º lugar). Outro dos grandes destaques foi o piloto Bruno Santos que, aos comandos da sua Husqvarna, teve um excelente desempenho no seu primeiro Dakar. Fechou a sua participação no 28º posto da classificação geral e o segundo lugar entre os rookies. Logo de seguida, em 29º lugar, está Mário Patrão, também primeiro lugar nos veteranos, que fez um rali bastante favorável ao novo projeto Honda, estando dentro do Top 30 da geral.
Foi, assim, a 46ª edição do Rali Dakar que nos presenteou com duelos impressionantes e etapas duras que desafiaram o instituto competitivo dos pilotos. A armada lusa teve, mais um ano, uma forte representatividade no deserto, apresentando bons resultados que premeiam os esforços que existem durante toda a preparação para uma competição desta importância.
O Dakar 2024 ficou marcado pela lição de como se pode ser competitivo, competente, profissional e apaixonado pela modalidade, ao fim de tantos anos. Carlos Sainz foi, mais uma vez, o rei dos motorizados e é fácil perceber porque é que o consideram o melhor de todos os tempos.