
Agora que o presidente do Sport Lisboa e Benfica, Rui Costa, confirmou a continuidade de Ángel Di María na Luz por mais uma época, é altura de perceber que peso terá essa renovação no futuro do clube. De que forma impacta o plantel, a filosofia instaurada, o clube, a massa adepta e a carreira do próprio atleta?
Será esta renovação positiva para o clube e para o jogador ou unicamente para uma das partes envolvidas? Este artigo procura não só analisar e responder essa exata questão, como também todas as que surgem pelo processo.
O rendimento de Di María no regresso à Luz
No que diz respeito à continuidade de um atleta num clube, nada mais relevante há a observar se não o rendimento que o atleta já proporcionou anteriormente.

Neste caso, Di María, depois do seu regresso a Lisboa em 2023-2024, não deve ser alvo de um escrutínio exclusivamente negativo por parte da opinião pública. Para além de injusto, é também incipiente classificar um jogador de 36 anos, capaz de produzir 30 golos e assistências ao longo da temporada, como o principal problema para o insucesso do clube.
Caracterizar o atleta como o ápice da perfeição ou o “exemplo-mor” também não representa o pensamento mais apropriado, no entanto, há que perceber e entender a influência que o argentino teve no jogo encarnado na última temporada. Sem a utilização regular do modelo de pressão outrora instaurado por Schmidt, que realmente não é compatível com as características do esquerdino, Di María soube aproveitar esse facto para se destacar e ser um dos principais motores dos encarnados.
A nível ofensivo, foi aquele que mais ajudou, que mais decidiu e aquele que desempenhou o papel mais crucial durante a temporada. Essa responsabilidade que lhe foi concedida, ou que o próprio conquistou, deu-lhe o protagonismo que se mostrou fundamental em inúmeros momentos da temporada. Por isso, se olharmos para aquilo que o argentino foi capaz de proporcionar dentro das quatro linhas, a possível ou ideal repetição do mesmo feito seria indiscutivelmente positiva para o sucesso dos encarnados.
Ainda assim, será natural um jogador fazer a sua época com mais jogos (40) de toda a sua carreira aos 36 anos? Essa é uma questão diferente.
O peso da gestão

Ainda que as estatísticas se possam mostrar quase utópicas face à idade que o jogador carrega, a época de Di Maria também ficou naturalmente marcada por momentos menos positivos. Isso deve-se, em grande parte, à gestão feita em torno da sua figura.
Tal como já referido anteriormente, o papel de destaque atribuído a Di María foi muitas vezes positivo para a equipa, no entanto, essa luz proveniente do argentino fez cegar e obstruir o equilíbrio e a razão. Se fazer 30 golos e assistências aos 36 anos pode parecer sobrenatural, é, por outro lado, completamente natural o próprio atleta não conseguir contribuir de igual forma 90 minutos sobre 90 minutos e, quiçá, sobre 120 até.
Em diversas ocasiões ao longo da última temporada, a gestão de Di María foi, sim, o problema para o sucesso da equipa. Quando um jogador não apresenta rendimento ao longo do jogo, é regularmente substituído, e não há nada de errado nesse processo. Todavia, a sua falta de rotação prejudicou ocasionalmente a sua performance e a de toda a equipa, algo que Roger Schmidt não conseguiu ou não pode reconhecer.
Posto isto, de que forma se enquadra Dí María no planeamento da temporada que se segue? Tentemos perceber.
A utilização devida
Pelos jogos realizados nesta pré-temporada, já foi possível perceber que Roger Schmidt está a tentar implementar de novo o modelo que o fez a si, e ao clube, campeão na sua época de estreia. Modelo esse, que não foi possível utilizar na época passada por conta de jogadores que não faziam parte do enquadramento característico necessário. Nesse sentido, Roger Schmidt priorizou os jogadores em detrimento de uma filosofia ou ideal, algo que parece estar a ser resolvido.
Pelas contratações feitas esta época, é possível reconhecer que está a ser seguida uma linha de pensamento rigorosa e que tem um fim bem definido. No entanto, como é que Di María entra nesta equação? Essa é a grande incógnita atualmente.

O que está em causa não é a qualidade do jogador, pois, tal como demonstrou na temporada passada e, mais recentemente, na Copa América, foi inclusivamente um dos melhores jogadores da competição. Está em causa, sim, a sua junção a um ideal ao qual ele não pertence necessariamente. O gegenpressing não foi feito a pensar em jogadores como Di María e o próprio também não deve pensar muito nele.
Sendo assim, há elementos que terão de mudar. Sejam eles o jogador, a forma como a equipa se vai adaptar ao jogador ou a forma como o jogador se vai adaptar à equipa. Esses são pontos fundamentais para a compreensão da questão e para a sua resolução.
Com a ascensão de jogadores como Rollheiser, Prestianni, Schjelderup, Tiago Gouveia e o já habitual, David Neres, o Benfica não se pode dar ao privilégio de desperdiçar tamanho talento em detrimento de algo que pode não funcionar. A razão e a percepção real dos acontecimentos tem de ser, por isso, aquela que dita as escolhas visando o melhor funcionamento do plantel.
O futuro de Di María

Ou seja, no papel, a renovação de Di María é uma notícia extremamente positiva para o Benfica, isto porque, a continuidade de um jogador de classe mundial no plantel não pode ser algo recusável.
Contudo, para que a história acabe com um final feliz, é preciso saber gerir e perceber de que forma todas as partes podem sair beneficiadas. A boa utilização e gestão do jogador são, assim, o pilar fundamental para que aquilo que no papel parece ser ideal, seja realmente concretizável na prática. É possível.