Nova era no Barcelona | Início fulgurante dos comandados de Flick

    Atravessando uma das maiores crises financeiras da sua história, a equipa do Barcelona partia com imensas dúvidas para esta nova época desportiva.

    Com a saída de Xavi (uma lenda do clube) do comando técnico, a direção do Barcelona escolheu Hansi Flick para ser o novo treinador da equipa. Sem muita confiança e com algum desconhecimento por parte dos adeptos em relação ao técnico alemão, as expectativas eram naturalmente baixas.

    Os adeptos do Barcelona provavelmente ter-se-ão esquecido que os 8-2 (a pior derrota da sua história) foram infligidos por um Bayern Munique avassalador que era treinado por Flick e que se veio a sagrar campeão europeu, ganhando praticamente todos os títulos nesse ano de 2020.

    Com a incerteza de poder inscrever jogadores e a ter que fazer uma limpeza muito grande do balneário (para estar em conformidade com as regras impostas pela UEFA e da Liga Espanhola em relação ao fair-play financeiro), a equipa do Barcelona iniciou a época com uma das deslocações historicamente mais complicadas do campeonato espanhol: o estádio Mestalla, em Valência.

    Apesar da equipa valenciana não estar a passar pelos seus tempos áureos, seria certamente um duro teste para os comandados de Flick. Com um onze inicial formado por três jogadores de apenas 17 (!) anos, a equipa do Barcelona acusou a falta de entrosamento entre os seus jogadores numa primeira meia-hora de jogo em que o único de positivo a destacar passava pelos pés de Lamine Yamal, o prodígio espanhol que tem encantado toda a Europa.

    Um Valência com várias carências no seu plantel, mas que conseguia ser minimamente organizado e ter algumas transições ofensivas de algum perigo. 

    Não foi surpreendente que fosse a equipa valenciana a chegar à vantagem no marcador, por intermédio de Hugo Duro, num lance em que Iñigo Martinez quebrou a linha de fora-de-jogo e o avançado espanhol conseguiu fazer um cabeceamento de belo efeito, desfeiteando um impotente Ter Stegen.

    Já não apresentando um futebol brilhante até àquele momento, a equipa blaugrana acusou imenso o golo e só não sofreu um segundo golo poucos minutos depois porque Pau Cubarsí (outro dos seus benjamins de futuro muito promissor) tirou uma bola em cima da linha de golo a remate de Duro, depois de um erro monumental de Ter Stegen. 

    E no futebol, muitas vezes se aplica a máxima “quem não mata, morre”. E foi exatamente isso que aconteceu poucos minutos depois. Arrancada de Balde (a sua recuperação é uma das grandes notícias para este Barcelona) pela esquerda, cruzamento teleguiado para a entrada de Yamal, que de primeira assistiu o inevitável Lewandowski e o avançado polaco empatava o marcador justo antes do intervalo.

    Regressado dos balneários, a equipa do Barcelona entrou com outra intensidade e a encostar o Valência à sua baliza. Pouco depois do intervalo, um penalty sobre Raphinha deu a possibilidade do Barcelona dar a volta ao marcador e Lewandowski não a desperdiçou.

    O ingresso de Pedri no terreno de jogo ainda fez com que o Barcelona tivesse um maior controle do jogo. Quando as lesões o respeitam, é realmente uma delícia ver jogar o internacional espanhol e a equipa ganha naturalmente outra dimensão.

    Até ao fim do jogo, o Barcelona podia ter aumentado a vantagem mas Mamardashvili (o fabuloso guarda-redes georgiano), foi negando as intenções da equipa de Flick. 

    Sem sofrer demasiado defensivamente e com um Valência já muito desgastado fisicamente e com poucas soluções, o Barça foi trocando a bola a seu bel-prazer e apesar de ir em busca do terceiro golo que lhe desse uma maior tranquilidade, foi inteligente e não se expôs demasiado a contra-ataques.

    Destaco igualmente o aplauso dos adeptos do Valência a Lamine Yamal, quando este foi substituído. Já está lançada a Laminemania por todos os relvados de Espanha.

    Apesar de não ter conseguido a obtenção de um terceiro golo, a equipa do Barcelona começava o campeonato com uma vitória justa e de muito mérito, sendo a melhor tónica possível para este novo projeto futebolístico, carente e sedento de boas sensações.

    O segundo jogo da liga foi em casa (no estádio de Montjuic, uma vez que o mítico Camp Nou está em obras) contra o Athletic, equipa que conta nas suas fileiras com Nico Williams, o entusiasmante extremo espanhol e que tinha sido a grande prioridade do Barcelona para reforçar a sua equipa, sendo que não conseguiu concretizar esse sonho porque não pôde inscrever o internacional espanhol por não cumprir com as regras de fair-play financeiro.

    Para libertar massa salarial, a equipa catalã também se viu “obrigada” a prescindir dos serviços do craque Ilkay Gundogan (regressou ao Manchester City), um jogador que tinha sido contratado na época passada para ser o líder desta nova era no Barcelona.

    Mergulhado numa profunda crise económica, o Barcelona continuava sem conseguir inscrever Dani Olmo, o médio-ofensivo espanhol e que tinha sido um dos grandes destaques da Espanha no último Europeu.

    Mas no meio de todas estas baixas, o Barcelona conseguiu recuperar os serviços do jovem espanhol Fermín López, a grande estrela da seleção espanhola olímpica e que vinha de ser campeão europeu e olímpico.

    Com apenas uma alteração no onze inicial (entrada de Pedri para o lugar de Casadó), a equipa do Barcelona entrou muito bem no jogo e inaugurou o marcador à passagem do minuto 24, por intermédio de Lamine Yamal, num movimento de fora para dentro, bem característico do extremo espanhol.

    Com Pedri em campo, o jogo do Barça ganha mais fluidez e sentido. Marc Bernal (com apenas 17 anos) tem um estilo de jogo muito parecido ao de Sergio Busquets, uma das grandes lendas do clube. Flick não hesitou em apostar nele apesar da sua tenra idade e a confiança do treinador reflete-se em campo, com o jovem espanhol a exibir-se a grande nível e a não acusar o peso da responsabilidade.

    Apesar de ir em busca do segundo golo, Pau Cubarsí (que tem muito talento mas que ainda peca de demasiada impetuosidade e ingenuidade fruto da sua juventude) concedeu um penalty infantil já perto do intervalo e Oihan Sancet empatou o marcador.

    O jogo foi empatado para o intervalo e o Barcelona com a sensação de que merecia outro resultado.

    Conseguindo controlar bem as investidas de Nico Williams (constantemente assobiado por uma grande parte dos adeptos do Barcelona por sentirem que andou a jogar com o clube durante todo o Verão), a equipa não sofria defensivamente e controlava absolutamente todas as operações.

    Lewandowski já tinha avisado duas vezes mas ao minuto 75, conseguiu furar as redes da baliza adversária. Um ataque conduzido por Raphinha (grande início de época do internacional brasileiro que já passou pelos nossos relvados), desmarcação perfeita de Pedri, cruzamento atrasado e o guarda-redes do Athletic defendeu para a frente onde surgiu o avançado polaco pleno de oportunidade e a rematar para o fundo da baliza basca.

    Até ao fim do jogo, não houve grandes oportunidades a registar de parte a parte. Contudo, há que dizer que esta equipa já tem o selo de Flick em duas coisas essenciais: a frescura física (a equipa do Barcelona baixava muito fisicamente nas segundas partes no ano passado) e a organização defensiva, claramente uma equipa muito menos permeável que a do ano transacto.

    O terceiro jogo desta fase absolutamente louca de jogos (quatro jogos em apenas 14 dias, uma absoluta barbaridade nesta altura da época) foi contra o Rayo Vallecano fora de casa. Um campo tradicionalmente complicado para as equipas mais poderosas do futebol espanhol, devido às dimensões do relvado e ao fato da equipa madrilena empregar uma grande intensidade nos jogos que se disputam no seu estádio.

    A grande notícia prévia ao jogo em Vallecas foi o fim da novela Dani Olmo. Beneficiando da lesão de longa duração do dinamarquês Christensen, o Barcelona conseguiu inscrever o médio-ofensivo espanhol para este jogo.

    Apesar de já estar inscrito, o técnico alemão decidiu não colocá-lo de início e apenas fazer uma alteração na equipa que tinha jogado com o Athletic. A inclusão de Gerard Martín para o lugar de Balde devido ao seu melhor jogo defensivo.

    Foi um péssimo início de jogo do Barcelona, que se viu a perder bem cedo. Logo ao nono minuto de jogo, uma desconcentração absoluta da defesa catalã deu espaço a um ataque do Rayo Vallecano e Unai López aproveitou da melhor maneira o cruzamento atrasado de de Frutos.

    Ver-se a perder num campo tão difícil seria realmente o primeiro grande teste para este Barcelona de Flick. 

    Os comandados de Flick não mostravam intensidade nem fluidez no seu jogo. Era um futebol bastante previsível e jogava-se àquilo que o Rayo Vallecano queria. Uma ou outra jogada individual de Lamine Yamal e pouco mais a registar numa primeira parte na qual a equipa adversária não soube aproveitar para aumentar o marcador perante o menor fulgor da equipa blaugrana.

    Ao intervalo, Flick decidiu fazer entrar Dani Olmo (para o lugar do desinspirado e inconsequente Ferran Torres) e o cariz do jogo mudou completamente. 

    Para além de ser um craque, Olmo é daqueles jogadores que contagia os seus colegas com o seu dinamismo e com a sua intensidade. Um jogador que sabe jogar muito bem entre linhas e que combina muito bem com Pedri e Bernal, que estava a ser uma das revelações deste novo Barcelona.

    O Barcelona começou imprimir mais velocidade ao seu jogo e as oportunidades sucediam-se, sendo de destacar um grande remate de Dani Olmo à barra da baliza de Cárdenas.

    A equipa do Rayo Vallecano (que ainda não pôde contar com a sua nova estrela James Rodriguez, jogador bem conhecido dos nossos adeptos) demonstrava sinais evidentes de cansaço físico e já não conseguia ser tão intensa como tinha sido na primeira parte.

    E esta equipa do Barcelona quando tem espaço, é uma equipa muito perigosa e que merece imenso respeito. 

    O golo do empate do Barcelona tornou-se algo inevitável e esse acabou por surgir por intermédio de Pedri a passe de Raphinha, a concluir um grande contra-ataque que ele mesmo tinha iniciado.

    A sociedade Yamal-Olmo estava endiabrada e veio a dar frutos pouco tempo depois (isto já depois de Lewandowski ter um golo indevidamente anulado na minha modesta opinião). Grande jogada do prodígio espanhol, a ver Olmo já dentro da área e este com um remate bastante colocado, pôs o Barcelona em vantagem no marcador.

    Era a estreia sonhada de um jogador que voltava a casa depois de ter saído de La Masia aos 16 anos para ir jogar para o futebol croata e que regressava com estatuto de craque e pela porta grande ao clube dos seus amores.

    Até ao fim da partida, o Barcelona esteve em completo controlo das operações, não concedendo praticamente oportunidades de golo aos jogadores da equipa adversária, podendo inclusive ter aumentado o marcador numa ou noutra ocasião.

    Só perto do último minuto de descontos é que o Rayo Vallecano podia ter empatado a partida numa desatenção de Kounde (muito habitual no internacional francês, diga-se de passagem) e que só não frustrou os objetivos da sua equipa pela ineficácia de Nteka.

    Ultrapassado esse susto, os três pontos foram garantidos com total justiça depois de uma grande segunda parte do Barcelona, liderados por um estelar Dani Olmo, que tem tudo para ser um dos melhores jogadores desta Liga Espanhola.

    A má notícia da noite foi a lesão gravíssima de Marc Bernal, que estava a realizar um excelente início de temporada. Uma rotura de ligamentos cruzados que faz com que o jovem espanhol perca toda a temporada e que provavelmente vai ter que fazer o Barcelona mudar a sua política de contratações e lançar-se no mercado por um médio-defensivo ao invés de um extremo (quando se falava na remota possibilidade de contratarem o internacional português Rafael Leão).

    Uma equipa que tem Yamal, Olmo, Pedri, Raphinha, Lewandowski, Cubarsí, entre outros, tem toda a legitimidade de sonhar com títulos. Uma mescla de experiência com juventude que pode claramente fazer aumentar a sala de troféus da equipa catalã. 

    A amostra ainda é muito pequena obviamente, mas este início da era Flick está a ser fulgurante e prometedor.

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