O novo sistema tático do Benfica e as 2 fragilidades no plantel encarnado

Benfica

Embora não tenha sido uma novidade absoluta, o Benfica apresentou-se diante do Santa Clara no encontro dos quartos de final da Taça da Liga com um sistema de jogo diferente do 4-3-3 com que Bruno Lage iniciou a sua passagem pelas águias. Além da vitória, conseguida já depois dos 70 minutos, o técnico do emblema da Luz ganhou uma nova possibilidade a explorar.

Embora sem bola se mantenha num 4-4-2 com Kerem Akturkoglu a juntar-se ao avançado na pressão, com bola o Benfica posicionou-se de forma assimétrica e com dinâmicas diferentes no corredor esquerdo e no corredor direito. Mais importante que o corredor, que não é padronizado, é o perfil do jogador que joga de cada lado e a maneira de o enquadrar e potenciar as suas características.

Por esta razão, os jogadores do lado esquerdo são os que mais beneficiam neste 3-4-2-1 no momento ofensivo com Álvaro Carreras a ficar mais baixo em construção e a dar o corredor a Jan-Niklas Beste. A versatilidade do lateral espanhol não é novidade e o rendimento que oferece nas mais variadas funções é uma grande notícia para o Benfica.

Álvaro Carreras Benfica
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Jogando mais baixo no terreno, o lateral dos encarnados torna-se numa mais-valia para a saída de bola. Sabe jogar em espaços curtos, fazendo uso do drible para superar adversários, tem capacidade no passe e procura constantemente cobrir o extremo, atuando mais aberto ou mais fechado e ajustando o posicionamento. Contra o Santa Clara foram várias as vezes em que, sozinho, limpou a pressão quer em condução quer fazendo uso do passe.

Saem também valorizados os perfis de Jan-Niklas Beste e Kerem Akutrkoglu. No modelo de Roger Schmidt, o alemão podia funcionar como um lateral muito profundo, mas o ala encarnado beneficia em jogar mais perto de zonas de definição. Chega de trás para a frente, rompe em velocidade e tem sentido de baliza. Kerem Akturkoglu, melhor jogador do Benfica nesta temporada, continua a gozar de liberdade para procurar pisar terrenos exteriores, mas atua mais por dentro e, portanto, perto da baliza adversária onde é mais capaz de fazer a diferença.

À direita o casamento não foi tão feliz. Se Alexander Bah cumpre o papel de lateral que ataca a linha de fundo e se projeta, beneficiando em não estar tão envolvido na construção, Zeki Amdouni jogou como peixe fora de água. E é esta uma das duas lacunas do plantel do Benfica que concentra vários jogadores capazes de jogar à esquerda (Jan-Niklas Beste, Kerem Akturkoglu, Zeki Amdouni, Andreas Schjelderup), mas só conta com Ángel Di María para o lado direito. Nesta equação não entram os nomes de Gianluca Prestianni, que se encontra lesionado, mas é alternativa direta, nem de Benjamín Rollheiser, nome que servirá para identificar a segunda lacuna das águias.

Ángel Di María Benfica
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Por agora, dará para conjugar no máximo dois jogadores em zonas preferenciais. Um será sempre Kerem Akturkoglu que, pelo rendimento apresentado, não pode sair da esquerda. O segundo poderá variar entre Jan-Niklas Beste, mais aberto, ou Zeki Amdouni, nas costas do ponta de lança.

A segunda falha no plantel do Benfica está no meio-campo. O Benfica não tem no plantel qualquer jogador com características de organizador de jogo ou de gestão de tempos. Orkun Kokçu, pela facilidade e qualidade no passe, é o mais próximo deste nome – daí a importância que assume no Benfica – mas vive constantemente à procura do limite e do passe de rutura. O turco é mais um desequilibrador no passe que um equilibrador na equipa, perfil que não existe.

Renato Sanches, que somou a primeira titularidade pelas águias nesta segunda vida, esteve apagado e muito inseguro. Não se sente confortável a funcionar como primeiro médio, recebendo a bola perto dos defesas e vendo o jogo de frente tão longe da baliza e, por várias vezes, afastou-se destas zonas. É um médio capaz de queimar linhas em condução, mas precisa de jogar mais à frente. Fredrik Aursnes, um jogador que tem funcionado como compensador, atacando o espaço com movimentos de rutura, foi obrigado a recuar para assegurar a saída de bola. Nenhum destes é organizador, Leandro Barreiro e Florentino também não o são, e este cenário limita a capacidade do Benfica gerir o jogo.

Renato Sanches Ricardinho Benfica Santa Clara
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Diante do Santa Clara, estas fragilidades não foram decisivas, mas Bruno Lage teve de ir ao banco assegurar a vitória. Ángel Di María e Vangelis Pavlidis saltaram do banco para fazer a diferença e, num ápice, tornar um jogo chato (mais do que difícil) numa passagem tranquila. Noutros contextos e cenários, poderão ser problemas maiores.

BnR na Conferência de Imprensa

Bola na Rede: Depois de um início complicado, o Santa Clara acabou por crescer no encontro pela capacidade de manter o Benfica mais longe da sua baliza e procurar sair em transição, mas por poucas vezes foi capaz de criar a sensação de perigo. Com bola, o que faltou ao Santa Clara para causar maior perigo e ferir o Benfica?

Vasco Matos: Sabemos que não é fácil. O Benfica esteve sem nos criar perigo, é verdade, mas em momentos de transição não conseguimos assustar o que queríamos, também fruto das características dos nossos jogadores. Nós, equipa técnica, decidimos que tínhamos de utilizar jogadores que não têm sido tão utilizados no nosso campeonato. Isso para nós é muito importante para ter o grupo extremamente ligado. Sabíamos obviamente que não íamos ter as características de alguns jogadores que, em alguns momentos do jogo, não estavam dentro de campo, mas não abdicamos do grupo e da força da nossa equipa. Faltou-nos um pouco de velocidade e verticalidade em alguns momentos, mas não abdicamos da força do grupo, da união, do espírito e tentámos tudo. Em termos de organização e estratégia fomos perfeitos até aos 70 minutos. Não me lembro na primeira parte, tirando a situação de perigo do Akturkoglu, de nenhum lance do Benfica e nós temos o lance do Klismhan pelo lado esquerdo em que o Safira manda a bola por cima do poste. Fomos extremamente organizados. Percebo a sua pergunta, mas não abdico da força do grupo. Os jogadores que não têm tanta utilização no campeonato, tinham de jogar hoje porque trabalham muito. Nós não somos 11 jogadores, somos muito mais que isso. Somos um grupo muito forte, com uma identidade muito forte. Hoje perdemos em algumas coisas, mas no futuro vamos ganhar coisas mais importantes.

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Diogo Ribeiro
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O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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