Don Carlo Ancelotti no banco do Real Madrid: Dois ciclos inesquecíveis

Carlo Ancelotti há muito tempo que é conhecido pela sua gestão de balneário eficaz, bastante flexibilidade tática e até um dom de manter a calma em momentos decisivos. Não é por acaso que é o treinador com mais títulos nas cinco principais ligas europeias (Espanha, Inglaterra, Itália, Alemanha e França). Tendo iniciado a sua carreira como um treinador rigoroso e metódico (Reggina, Parma e Juve), com o tempo foi-se tornando um líder que ouvia, interpretando o balneário e adaptando a sua estratégia às características da equipa (Milan, Chelsea, Real Madrid e PSG).  

Apesar de não ter ganho nos seus segundos anos no Real e não ter sido tão marcante no Bayern de Munique, a verdade é que poucos treinadores no mundo do futebol se podem gabar de ter sido mais ganhador do que Carlo Ancelotti. Entre todas as suas passagens clubísticas com vitórias (AC Milan, Chelsea, PSG, Real Madrid e Bayern de Munique), há uma que é especial: Madrid e Santiago Bernabéu.

Carlo Ancelotti Real Madrid
Fonte: Real Madrid CF

Se pode dizer-se que a história entre o Real Madrid e a Champions League é uma história de amor, sem dúvida que a parceria entre Carlo Ancelotti e o mítico clube madrileno foi como dar uma batuta a um maestro italiano: Ver a orquestra blanca a produzir magia acontecer no relvado.

A passagem de Don Carlo pelo Bernabéu foi dupla e ambas com um sabor doce, mas diferentes. A primeira (2013-15) foi como “meter a cereja no topo da Champions”, ou seja, um treinador de classe e um clube com sede de glória. A segunda (2021-25) foi como um reencontro de dois amantes que, juntos, parecem sempre destinados a escrever mais um capítulo inesquecível”.

A sua primeira passagem pelo Real Madrid começa em 2013 e terminou em 2015. Vindo de um PSG campeão 19 anos depois, Carlo Ancelotti assinava pelo Real Madrid em 2013. O técnico italiano chegava ao banco merengue como uma árdua tarefa: Substituir o “Special One”. O ciclo de José Mourinho no clube madrileno, apesar de marcar um bate-pé ao rival Barcelona e de regresso às vitórias (uma Liga Espanhola, uma Taça do Rei e uma Supertaça Espanhola), no último ano ressentiu-se uma tensão e desgaste em várias relações entre os jogadores e o técnico português. Era necessário alguém para pacificar o balneário, além de procurar um retorno aos triunfos. Não só isso aconteceu, como surgiu uma estabilidade tática e emocional no grupo. Estava tudo pronto para algo grande e assim foi.

Durante sua primeira época, Carlo Ancelotti conduziu a equipa à histórica (e tão ansiada) conquista da décima UEFA Champions League (a famosa La Décima em 2013/14) com uma vitória intensa, mas justíssima frente ao Atlético de Madrid (4-1 após prolongamento). Além desse principal objetivo, conquistou também a Taça do Rei cerca de um mês antes, vencendo o eterno rival Barcelona na final (2-1) com um golaço de Gareth Bale que ficou para a posteridade.

No princípio, a equipa tinha um 4-2-3-1 com um triângulo no meio-campo e testar o extremo direito entre Ángel Di Maria e Gareth Bale, até estabilizar a posição no galês. Terminou por colocar “Angelito” armador de jogo, funcionando muito bem. A alternância tática só acontecia quando CR7 ia fazer companhia a Benzema numa dupla de ataque demolidora. Na segunda temporada (2014/15), Toni Kroos e James Rodríguez ocuparam os lugares deixados por Xabi Alonso e Di María. Uma época que prometeu no início com a conquista de títulos referentes à época anterior (Supertaça Europeia e Mundial de Clubes), mas terminou sem qualquer conquista (segundo na Liga, eliminado nos oitavos da Taça do Rei e caiu nas meias-finais da Champions League aos pés da Juventus).

A sua segunda passagem começou em 2021, vindo do Everton e com sede de voltar a vencer. Começou-se por um 4-3-3 funcional e já estável dos anos anteriores, nomeadamente o trio do meio-campo (Casemiro, Kroos e Modric). No ataque, só variava o terceiro companheiro (Valverde e Rodrygo) da dupla Benzema-Vini Júnior. Nas duas primeiras épocas, vence quase tudo o que havia para vencer (Champions League, Liga Espanhola e Supertaça Espnhola em 2021/22 e Supertaça Europeia, Mundial de Clubes e Taça do Rei em 2022/23).

Karim Benzema Al Ittihad
Fonte: Al Ittihad FC

Nas últimas duas épocas, transformou-se num 4-4-2 (ou 4-3-1-2) com a presença assídua de médios franceses (Camavinga e Tchouameni) e com a mais relevante peça vinda de Dortmund: Jude Bellingham. O médio inglês foi o grande protagonista em 2023/24 e os brasileiros Vini e Rodrygo a formarem uma dupla de ataque (e Joselu como arma secreta). Muitos jogos, este trio (e quarteto) desbloqueou. Entre 2023/24 e 2024/25, venceu o que faltava e mais uma vez o que já tinha vencido (Champions League, Liga Espanhola e Supertaça Espanhola em 2023/24 e Supertaça Europeia e International Cup em 2024/25). No entanto, ficava o vazio deixado por Benzema: Um craque no ataque como avançado de raiz. Kilian Mbappé ocupou esse vazio e fica um craque para os próximos anos.

Carlo Ancelotti deixou a sua marca na história do Real Madrid de uma forma absolutamente singular. Depois de conquistar o título mundial ao vencer o Pachuca na final (3-0), o treinador italiano atingiu a impressionante marca dos 15 troféus no comando dos merengues, tendo se tornado o técnico mais vencedor dos 123 anos de história do clube.

O seu currículo como treinador dos “blancos” é constituído por: três Champions League, três Mundiais de Clubes, três Supertaças Europeias, duas Ligas Espanholas, duas Taças do Rei e duas Supertaças Espanholas. Com este palmarés em seis épocas em separado, o italiano ultrapassou a mítica lenda Miguel Muñoz, que, ao longo de 14 anos consecutivos no banco do Real Madrid, somou “só” 14 conquistas: duas Taças dos Campeões Europeus, uma Taça Intercontinental, nove Ligas Espanholas e duas Taças do Rei.

Já não estando no banco dos madrilenos no Mundial de Clubes e tendo-se despedido do mesmo no Santiago Bernabéu após o triunfo da sua equipa sobre a Real Sociedad (2-0), ficam para a história: 353 jogos, 250 vitórias, 50 empates, 53 derrotas, 834 golos marcados e 341 golos sofridos.

Carlo Ancelotti
Fonte: Filipe Oliveira / Bola na Rede

O elo de ligação entre Ancelotti e o Real Madrid foi especial e será eterno, como demonstram estas palavras na hora da despedida ao Santiago Bernabéu: “Ninguém jamais vai esquecer os três golos do Benzema contra o PSG ou os dois de Rodrygo contra o City. Nem o passe de Modric com a parte externa do pé. Ninguém pode esquecer os dois golos de Joselu. E eu também não vou esquecer todos os dias que passei aqui”.

Os craques e as equipas que Carlo Ancelotti teve ao seu dispor em Madrid, são de tanta e mais variada qualidade que é de difícil escolha qual foi o seu melhor onze nas duas passagens. Mas com base nos títulos conquistados, números individuais e espetáculos memoráveis, aqui fica uma boa “squadra”:

  • Thibaut Courtois (Guardião que mais jogou na baliza merengue durante a era Ancelotti. Foi de longe o mais seguro e mítico na exibição da final de Paris frente ao Liverpool.)
  • Dani Carvajal (Chegou em 2013 com Ancelotti e pela posição se manteve até aos dias de hoje, da qual foi sempre dono e senhor. AUsências? Só por castigos e lesões.)
  • Rudiger (Uma das contratações acertadas de Carlo. Personalidade, força e rapidez, decisivo nos últimos 3 anos.)
  • Sergio Ramos (Um dos líderes do balneário merengue, uma das personalidades mais queridas do madridismo e o homem que abriu caminho ao sonho da conquista da “la décima”. Presença indispensável no onze tipo de Carlo Ancelotti na passagem por Madrid.)
  • Marcelo (Entre os defesas esquerdos do seu tempo, foi a opção mais notável e carismática que ainda assim teve. Memorável o terceiro golo em Lisboa na final de 2014, após uma excelente jogada individual.)
  • Casemiro (Marcou presença em duas das Champions que o técnico italiano venceu pelo Real Madrid, embora tenha sido mais importante só na segunda. Um médio defensivo posicional do melhor que passou pelo Real e que muita falta fez a Carlo após sair para Manchester.)
  • Luka Modric (Um dos homens de confiança de Ancelotti, dos melhores médios que teve o rpivilégio de ter e jogou todas as suas épocas. Sem discussão tal maravilha.)
  • Toni Kroos (O outro homem de confiança do italiano, praticaamente a par de Luka. Contratou-o em 2014 e foi a sua contratação mais acertada. Grande visão de jogo, não sabia jogar mal eum mestre da simplicidade. Muita falta fez na época que agora finda.)
  • Vinícius Júnior (Subiu de nível às ordens do técnico italiano. Consolidou-se como a estrela do Chamartín, mais que triplicou os seus números individuais e foi candidato à Bola de Ouro. Um dos meninos de ouro de Carlo.)
  • Cristiano Ronaldo (O seu melhor avançado e um dos seus homens de eleição. Com números do outro mundo, Cristiano Ronaldo venceu duas Bolas de Ouro ao comando de Carlo. Além de ter sido a cara da sua primeira Champions League pelo Real (2014), foi o rosto da sua primeira passagem pela capital espanhola. Elementar neste onze.)
  • Karim Benzema (Marcou presença nas duas passagens de Ancelotti por Madrid e nas duas peimeiras Champions League. Durante a primeira, passou a ser a primeira opção na posição nove, na segunda tornou-se candidato à Bola de Ouro que venceria. Subiu de nível durante a segunda gerência do italiano em Madrid.)

Suplentes de Luxo:

  • Jude Bellingham (Uma das principais contratações do Carlo na última passagem pelo Real Madrid e que dificilmente se podia ter pedido melhor resultado. Foi um dos principais obreiros da época 2023/24, muitos golos para um médio centro, sempre em modo super e autor de bonito futebol. Capaz de desbloquear qualquer situação.)
  • Rodrygo (Fica na memória dos adeptos, todos os momentos que foi joker rumo à vitória, como o momento em que um bis do brasileiro eliminou o Man. City e colocou o Real Madrid na final da Champions League de 2022. Um craque e driblador nato.)

Ciao Carlo e ci vediamo dopo!

Jorge Afonso
Jorge Afonso
O Jorge apaixonou-se pelo futebol num dérbi em Alvalade e nunca mais largou. Licenciado em Comunicação Social e mestre em Ciência Política, vive entre estatísticas, memórias épicas e o encanto de equipas como o Barça de Guardiola ou a França de Zidane.

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