O Espanyol no verão de 2025: um mercado exemplar

O Espanyol terminou a última temporada da La Liga na 14.ª posição, cumprindo as expectativas esperadas. Os catalães estavam de regresso ao escalão máximo do futebol espanhol, depois de uma temporada no segundo escalão, onde não impressionou. A equipa somente conseguiu a promoção através do duro play-off eliminando o Real Oviedo na final. Esperava-se uma época de claro domínio, com um bom futebol, algo que não ocorreu, o que criou algumas dúvidas no seio dos analistas. O emblema é um histórico do seu país, mas praticamente ninguém sobrevive da história e o projeto era olhado com desconfiança e o Espanyol integrava o lote de candidatos à descida.

Manolo González acabou mesmo por surpreender e a época foi relativamente tranquila, permitindo a que jogadores se destacassem, tal como Joan García, Omar El Hilali ou Javi Puado, que se afirmaram como dos melhores elementos das respetivas posições na La Liga. O próprio técnico foi um dos destaques. O galego fez a maioria da sua carreira nos escalões secundários, passando algumas épocas no Badalona, mas no começo de 2023/24 foi confirmado no Espanyol B, conseguindo a promoção à formação principal poucos meses depois da saída de Luis Ramis. Foram seis vitórias em 16 encontros, o suficiente para alcançar a promoção. Embora o futebol praticado estivesse longe de ser o melhor, era prático. Hoje em dia, o técnico é considerado um pilar do projeto.

Grande parte do sucesso da última temporada deve-se a Fran Garagarza. O diretor desportivo ficou conhecido pelo seu trabalho no Eibar, clube do País Basco que se conseguiu manter na La Liga por várias temporadas, pese ser originário de uma cidade pequena, com poucos recursos. Assinou pelo Espanyol em 2023 e o seu trabalho é considerado como bem acima da média. O dirigente chegou ao verão de 2025 com a missão de melhorar o plantel, com o objetivo de levar o clube a realizar uma época novamente tranquila, sonhando com uma vaga no top 10 do campeonato. Para isto, seria necessário elevar a qualidade do plantel, tendo em conta que o orçamento está longe de ser um dos mais elevados da La Liga.

Fran Garagarza faz parte do lote de diretor desportivos que têm pouca margem de erro. Se em emblemas de maior nomeada, existe a possibilidade de que algumas contratações não corram bem, em instituições como o Espanyol cada passo dado tem que ser bem medido, com uma análise exaustiva. O dinheiro não é muito e tem que ser bem gasto. A acrescentar a isto, a direção não tem muita ‘vontade’ em investir, estando mais recetiva a realizar cortes.

A grande telenovela do mercado de verão do Espanyol até ao momento envolveu Joan García. O guarda-redes foi apontado ao futebol inglês, principalmente ao Arsenal, durante várias semanas, mas acabou por somente mudar de lado na capital da Catalunha. O Barcelona foi o seu destino, com os blaugrana a pagarem os 25 milhões de euros da sua cláusula de rescisão. O guardião passou de adorado (claramente o melhor jogador do plantel e um dos melhores da sua posição na La Liga) a mal-amado e será seguramente assobiado no seu regresso ao Cornellà-El Prat. Ponto positivo: os cofres do clube ficaram cheios.

O plantel sofreu outras modificações. José Gragera foi ganhar estofo para a La Liga 2, onde será trabalhado por Antonio Hidalgo no Deportivo de La Coruña. Marash Kumbulla (que ainda pode voltar), Alex Král, Urko González de Zárate, Walid Cheddira e Alejo Véliz terminaram os seus empréstimos. Brian Oliván, Álvaro Aguado, Fernando Pacheco e Sergi Gómez terminaram os respetivos contratos. Com este número elevado de saídas, Fran Garagarza teria um verão atarefado.

Um emblema como o Espanyol está obrigado a analisar bem o mercado, com especial atenção para jogadores disponíveis para empréstimo e elementos em final de contrato. Foi neste segundo ponto que a direção desportiva se concentrou.

Marko Dmitrovic terminou o seu vínculo com o Leganés, que desceu à La Liga 2. O sérvio conta com uma vasta experiência no principal escalão (nomeadamente no Eibar com Fran Garagarza) e terá a dura missão de suceder a Joan García. É melhor que o espanhol? Não, mas não deixa de ser uma boa opção, especialmente por ter sido uma operação sem custos.

Para a lateral-esquerda, o Espanyol conseguiu a renovação do empréstimo de Carlos Romero por parte do Villarreal, que foi indiscutível para Manolo González em 2024/25. José Salinas vai acompanhar o jogador da Comunitat Valenciana, depois de se ter destacado no Elche, onde foi um membro fundamental para a subida da turma de Éder Sarabia. Mais um negócio que explana a visão de mercado dos catalães, novamente a custo zero.

Também sem encargos, Miguel Rubio trocou o Granada pelo Espanyol e terá a missão de dar profundidade na secção dos centrais, tal como Ramón Terrats, que chega cedido do Villarreal, após ter estado meio ano emprestado ao Getafe de José Bordalás, onde conseguiu crescer como jogador, alcançando o nível de elementos importante para equipa de La Liga, algo que já obtivera no Girona, mas que no El Madrigal tinha perdido. Tyrhys Dolan foi uma oportunidade de mercado. O extremo esquerdo inglês pertencia ao Blackburn Rovers e finalizou o seu vínculo. Na última temporada realizou 47 encontros, com sete golos marcados e seis assistências e é um jogador completo e com bastante ‘jogo de equipa’, já que é um extremo que se caracteriza pela sua capacidade defensiva, recuando quando é necessário. Tem sido igualmente aposta atrás do ponta de lança nesta pré-temporada.

Para a frente de ataque chegaram três nomes interessantes. Marcos Fernández pertencia à equipa B do Real Bétis e vem com o papel de jogador de plantel, que até pode atuar pelos B’s em alguns jogos. O Espanyol tem pouco a perder. Contratou um avançado de 22 anos que se destacou nas camadas jovens. Se correr bem, melhor para a equipa. Se correr mal, poucos se vão lembrar. Já a situação de Kike García é distinta. O manchego (que também coincidiu com Fran Garagarza no Espanyol) traz experiência ao plantel, com os seus 35 anos. Na última época esteve no Alavés e fez 15 golos em 36 jogos, esperando-se que possa ter um impacto semelhante na Catalunha.

A fazer companhia a Kike García estará Roberto Fernández, nome conhecido dos portugueses. O ponta de lança foi contratado em definitivo ao Braga por seis milhões de euros por metade do passe. O espanhol não se conseguiu adaptar à Primeira Liga, depois de comprado ao Málaga, mas foi um elemento importante para Manolo González de janeiro em diante. Seis golos em 19 jogos, muitos a darem pontos, foram suficientes para convencer os catalães a negociarem a sua transferência, já que contavam com uma cláusula de opção de compra de 10 milhões de euros, verba considerada elevada para o Espanyol.

Ainda faltam algumas semanas para finalizar o mercado, mas os periquitos conseguiram melhorar todas as posições e deverão finalizar a janela com a balança no verde (devido à venda de Joan García). Fran Garagarza conseguiu uma série de reforços importantes e a lista de gastos está nos seis milhões de euros, o que reflete a sua capacidade e qualidade para o cargo que tem (pode dar o salto nos próximos anos). O Espanyol ainda não é um candidato aos lugares europeus, mas está mais perto de o ser. Pelo menos, existe mais esperança de que 2025/26 seja uma temporada tranquila para os lados do Cornellà-El Prat, mesmo com a saída do seu melhor jogador.

O Espanyol é um dos vencedores deste mercado e um exemplo a seguir por outros emblemas com o mesmo estatuto, que sabem que não podem investir valores altos. Naturalmente que este trabalho não começou em junho, é um processo que arrancou há meses, mas a equipa de scouting e análise serve mesmo para isto.

O clube promete ser um dos destaques da próxima edição da La Liga, com vários jogadores que prometem dar o salto. Manolo González tem todas as condições para realizar uma época que chame a atenção mediática, ao mesmo tempo que se consolida como um nome incontestável na sua posição de treinador.

Ricardo João Lopes
Ricardo João Lopeshttp://www.bolanarede.pt
O Ricardo João Lopes realizou a sua formação na área da História, mas é um apaixonado pelo desporto (especialmente pelo futebol) desde criança, procurando estar sempre a par da atualidade.

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