Para nós, que não conseguimos aguentar este verão sem futebol português, a espera está prestes a terminar. Esta sexta-feira, o pontapé de saída da Primeira Liga 2025/2026 será dado com o campeão em título, o Sporting, a defrontar o Casa Pia em Rio Maior.
Mas como ainda faltam alguns dias, cabe-nos fazer uma antevisão do que esta nova edição da liga nos poderá oferecer. Com equipas renovadas, muitas caras novas e um entusiasmo renovado por parte dos adeptos, é altura de refletir sobre o que esperar da temporada que se avizinha.
Luta pelo título
Este ano, a luta pelo título da Primeira Liga promete ser das mais acesas das últimas temporadas.
O Sporting, apesar da saída da sua principal figura, parte naturalmente na frente do favoritismo, não só por ser o campeão em título, mas também por manter grande parte da sua estrutura.

Com poucas mexidas no onze base, a principal dúvida reside no sistema tático a adotar. Sabemos que Rui Borges quer construir a partir de uma linha de três, projetando os alas para dar liberdade aos falsos extremos que procuram espaços interiores, ou para servir o ponta-de-lança, ou para decidir eles próprios os jogos. Resta perceber se irá adotar a linha de três com centrais, tal como Amorim, ou se irá jogar com uma linha de 4 defesas com o médio mais recuado a baixar para a fase de construção.
O Benfica, como é habitual, apresentou várias mudanças no plantel. As saídas de Carreras e Kokçu permitiram um forte investimento no meio-campo, com as entradas de Richard Ríos e Enzo Barrenechea. Ao que tudo indica, o problema crónico da lateral direita poderá ter finalmente solução, com Amar Dedić a assumir o lugar. A chegada de Ivanović poderá ainda indicar um regresso ao modelo com dois avançados, algo que Bruno Lage aprecia.

Os adeptos esperam que a equipa traduza o forte investimento em resultados. O potencial está lá, mas vamos ver se Bruno Lage e a sua equipa técnica o conseguem atingir. Se o conseguirem, o Benfica é um sério candidato ao título.
Já o FC Porto, surpreendentemente, chega ao início da Primeira Liga com uma identidade bem definida.
Se, em maio, nos dissessem que a equipa estaria revigorada e a praticar um futebol atrativo, poucos acreditariam. Mas Farioli conseguiu, em poucas semanas, o que Martín Anselmi não foi capaz de fazer: deu organização, fluidez e entusiasmo ao coletivo.

A contratação de Victor Froholdt foi particularmente bem recebida. Com chegada à área, intensidade e a típica mentalidade combativa dos nórdicos, o médio promete ser o motor da equipa. A ele juntam-se nomes como Mora, Gabri Veiga e Samu, peças que podem ser fundamentais para a primeira grande conquista de André Villas-Boas ao leme do FC Porto.
Por fim, não podemos deixar de fora o SC Braga. Com Carlos Vicens no comando técnico, depois de vários anos a trabalhar com Pep Guardiola, os arsenalistas apresentam-se com ambição. Há talento e irreverência neste plantel. Rodrigo Zalazar e Ricardo Horta são garantias de qualidade; Roger Fernandes parece pronto para explodir, e Mario Dorgeles poderá ser uma agradável surpresa. No centro do terreno, o maestro, João Moutinho continua a ser aquele que envelhece como vinho do Porto e que mantém esta equipa viva em todos os jogos.

É verdade que o Braga, à partida, está um passo atrás dos três grandes na luta pela Primeira Liga. Mas no futebol, subestimar alguém é sempre perigoso. E a história está cheia de surpresas.
Luta pela Europa
A corrida pelo lugar europeu que garante o acesso ao playoff da UEFA Conference League, tem sido, nas últimas épocas, uma das mais imprevisíveis da Primeira Liga. Santa Clara e Vitória SC têm-se destacado como protagonistas nesta disputa, e tudo indica que este ano não será diferente.

O Santa Clara, orientado por Vasco Matos, conseguiu manter as suas principais figuras e reforçar-se pontualmente. A equipa apresenta-se coesa, com identidade e ambição, e os adeptos açorianos sonham, com legitimidade, com a garantia de que irão de novo ao playoff de acesso às competições europeias.
Já o Vitória SC vive um novo ciclo. Após a saída de jogadores importantes na última temporada, o clube de Guimarães apostou numa reformulação profunda do plantel e numa nova liderança técnica com Luís Pinto. Apesar das mudanças, o Vitória continua a ser um clube com fortes argumentos e uma massa adepta que empurra a equipa para voos mais altos. Se conseguir estabilizar rapidamente, poderá ser um sério candidato a esse lugar europeu.

Entre os projetos em ascensão na Primeira Liga, vale a pena destacar o Famalicão de Hugo Oliveira, o Estoril de Ian Cathro e o Moreirense de Vasco Botelho da Costa. Todos reforçaram-se com critério e têm condições para surpreender, apresentando propostas de jogo interessantes e plantéis com qualidade para lutar pelos lugares cimeiros da tabela.
Se no topo da classificação os protagonistas tendem a repetir-se, nesta luta pela Europa o equilíbrio e a imprevisibilidade tornam tudo mais emocionante. Espera-se uma verdadeira batalha até ao fim, daquelas que só se resolve nas últimas jornadas.
Luta pela Manutenção
Na época transata, a luta pela manutenção na Primeira Liga prolongou-se até à última jornada. Apesar das descidas, há muito anunciadas, de Boavista e Farense, o lugar de play-off foi disputado até ao fim, com emoção e incerteza a marcar as jornadas finais.
Este ano, tudo indica que teremos uma batalha semelhante. As equipas recém-promovidas reforçaram-se com ambição, mas enfrentam o habitual desafio da adaptação ao principal escalão. Entre elas, destaca-se o Alverca, que surge com um plantel profundamente renovado, misturando nomes mais sonantes com apostas menos conhecidas. Sob o comando de Custódio, a equipa ribatejana poderá surpreender, caso consiga encontrar rapidamente estabilidade no meio de tantas mudanças.

Já entre os clubes que garantiram a manutenção na Primeira Liga na época passada, o Estrela da Amadora, o Nacional e o AFS terão de elevar significativamente o seu nível competitivo. Apesar da experiência acumulada, só com melhorias claras conseguirão evitar nova luta até ao fim da tabela.
A verdade é que a permanência na Primeira Liga será, como sempre, um objetivo difícil de alcançar para muitos. O equilíbrio entre os candidatos à descida promete uma luta intensa, onde cada ponto contará. Ao longo da temporada, será interessante observar a eficácia dos reforços e perceber se, entre os considerados mais frágeis, haverá quem consiga surpreender.
A nova temporada da Primeira Liga promete muito. Há histórias por contar, surpresas por revelar e equipas com tudo para marcar o seu nome na história. Como nos grandes enredos do desporto, não falta drama, ambição e aquela imprevisibilidade que só o futebol sabe dar.
Resta-nos acompanhar tudo, de olhos bem abertos e coração na mão. Que venham os golos, os estádios cheios, as discussões no café, as vitórias sofridas e os momentos que nos fazem saltar do sofá. Que seja um campeonato de emoções fortes e, acima de tudo, de bom futebol.