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«Era um objetivo meu ir para a Premier League e jogar contra os melhores no melhor campeonato do mundo» – Entrevista Bola na Rede a Gonçalo Santos

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De uma passagem como estagiário na formação feminina do Sintrense à Premier League foi um salto pequeno para Gonçalo Santos. Depois de ser capitão do Estoril Praia de Marco Silva, o jovem técnico rumou à equipa técnica do português que elevou o nível do Fulham e guiou o clube à melhor pontuação de sempre na última época. Dos desafios do futebol inglês ao olhar que mantém em Portugal, onde orientou o Casa Pia, Gonçalo Santos olha para os desafios que têm em mãos junto do Bola na Rede. A entrevista foi realizada à margem do Portugal Football Summit.

«Marco Silva é um dos melhores treinadores portugueses da atualidade, senão o melhor».

Gonçalo Santos

Bola na Rede: Qual a avaliação que faz desta temporada no Fulham, depois de um mercado com pouco investimento comparando com outras equipas no futebol inglês?

Gonçalo Santos: A verdade é que tínhamos alvos bem definidos no mercado e uma grande mais-valia que foi ter ficado grande parte, cerca de 90%, do plantel da época passada. Por isso é que, no final, não fomos tão ativos no mercado. Conseguimos manter grande parte do plantel e a continuidade é muito importante para nós para dar estabilidade ao clube, à equipa técnica e à equipa, porque já conhecem as ideias do treinador e estão bem-adaptados. Fomos cirúrgicos no mercado. Demorámos um bocadinho mais do que as equipas da Premier League, mas penso que conseguimos ter um mercado positivo.

Bola na Rede: Já entrou na equipa técnica do Marco Silva a meio do trajeto no Fulham. Desde que chegou, e até hoje, quais as principais diferenças que identifica?

Gonçalo Santos: Já é a quinta época do Marco no Fulham. É um dos melhores treinadores portugueses da atualidade, senão o melhor. Entrou no Fulham no Championship e foi o grande responsável pelo crescimento do clube nos últimos anos. O clube era conhecido como a equipa Yo-Yo que subia e acabava por descer. Toda a gente conhece a dificuldade da Premier League, é ímpar a nível europeu devido ao investimento anual que todas as equipas fazem, ao melhoramento e capacidade financeira. A realidade é que os melhores jogadores querem todos jogar em Inglaterra e permanecer em Inglaterra. Foi um trabalho longo do Marco e o clube hoje em dia é completamente estável. O objetivo é ser competitivo todos os anos e sempre o mais competitivos possível. A época passada fizemos a melhor classificação a nível de pontos do Fulham. Será muito difícil bater, mas o nosso objetivo é sempre ambicioso e é conseguir ser melhor do que fomos na época passada.

Bola na Rede: De todos os jogadores do plantel do Fulham, qual o que mais o surpreendeu?

Gonçalo Santos: Não tenho nenhum em especial. A intensidade e aplicação que têm diariamente é que os faz manter muitos anos na Premier League. Muitas vezes, enquanto treinadores, analisamos a Premier League, mas só quando estamos lá é que temos noção da intensidade diária que tem e da intensidade ao fim de semana. Os jogos são muito intensos, rápidos e dinâmicos e para nós, treinadores, nem sempre é positivo. Gostamos de controlar o jogo e de ter noção do que vai acontecer, mas nem sempre é real. Na Premier League mesmo a ganhar 2-0 aos 80 minutos o jogo nunca está acabado. Penso que o que mais me surpreendeu não foi só a qualidade, mas a intensidade e aplicação que os jogadores têm diariamente e ao fim de semana e a incerteza nos resultados. Nem sempre é positiva para os treinadores, mas deixa-nos mais ligados e agarrados à Premier League.

«Torcemos sempre pelos treinadores portugueses. Contra nós não queremos que ganhem, mas queremos que tenham todo o sucesso na Premier League».

Gonçalo Santos
Fonte: Fulham FC

Bola na Rede: Pegando na incerteza dos resultados, numa liga onde não há jogos bónus e com desafios diferentes todas as semanas, qual o principal desafio para um treinador ser capaz de manter a consistência?

Gonçalo Santos: O mais importante é ter uma ideia clara do que queremos que a nossa equipa mostre em campo. Penso que esse é o principal objetivo de cada treinador e o de ver a sua ideia de jogo aplicada todas as semanas dentro de campo. A partir daí temos sempre um adversário e nunca jogamos sozinhos. Na minha opinião, a Premier League tem os melhores treinadores do mundo. Não basta ser bom. Não há nenhum treinador português na Premier League que não tenha treinado um grande em Portugal, mostra o seu valor. Para os treinadores portugueses chegarem à Premier League têm de ter mostrado muito, porque mesmo treinar um grande em Portugal é difícil. Devido à qualidade dos treinadores, a exigência de todos os fins-de-semana é alta. Não há um jogo em que vai ser fácil contrariar o adversário. Temos de ter as ideias bem claras e o Marco, nesse aspeto, tem as ideias muito claras. Depois é tentar contrariar ao máximo e defender as nossas armas dos adversários para sobressairmos em jogo.

Bola na Rede: Falou nos portugueses na Premier League. Qual a importância de ter tantos treinadores portugueses na Premier League e qual a relação que têm com o Ruben Amorim, o Nuno Espírito Santo e o Vítor Pereira.

Gonçalo Santos: Para nós é muito importante. Penso que, como treinadores portugueses, devemos muito ao mister José Mourinho porque nos abriu a porta da Europa. É muito importante e gostava que mais treinadores portugueses fossem para a Premier League porque é o reconhecimento do trabalho e da competência dos treinadores portugueses e da formação em Portugal. Penso que o treinador português é muito bom e adapta-se muito bem a todas as adversidades. Neste momento [Vítor Pereira ainda era treinador do Wolverhampton] somos quatro treinadores portugueses. Não há uma relação diária, mas é uma relação muito positiva. Falamos sempre antes e depois dos jogos, reunimo-nos. Torcemos sempre pelos treinadores portugueses. Contra nós não queremos que ganhem, mas queremos que tenham todo o sucesso na Premier League. A Premier League é muito difícil, há cinco treinadores espanhóis e quatro portugueses, somos o segundo país mais representado na Premier League. É muito positivo para nós. Quanto mais sucesso os treinadores portugueses tiverem, mais portas abrem para outros treinadores portugueses chegarem. É o que toda a gente na Premier League deseja.

Bola na Rede: Que equipas na Premier League admiram também, mesmo para lá das big-6?

Gonçalo Santos: A Premier League é especial por isso. Temos a ideia do Brentford e do Brighton, com jogadores muito jovens contratados com base na data e com alternativas de jogo, nomeadamente nos lançamentos e cantos. Hoje em dia damos – e dão – muito valor a todas as bolas paradas na Premier League. O Arsenal é muito conhecido, mas todas as equipas têm um especialista em bolas paradas. É algo que em Portugal ainda não temos e a que não se dá muito valor. A Premier League é pioneira nesse aspeto. Temos várias maneiras de olhar o jogo na Premier League. Há equipas que jogam um futebol muito inglês, mais direto, agressivo, do pressing e contra pressing, um bocadinho à ideia do Liverpool e equipas de posse de bola, como as do Guardiola. Não há uma ideia que ganhe mais que outra, senão todos jogávamos da mesma maneira. Todas as ideias são válidas. Os treinadores cujos jogadores se adaptem melhor à sua ideia e a cumpram são aqueles que, a longo prazo, terão mais sucesso.

«Não temos dúvidas nenhumas de que o Kevin vai corresponder às expectativas e ter sucesso no Fulham».

Gonçalo Santos
Kevin Fulham
Fonte: Fulham FC

Bola na Rede: No plantel do Fulham, pedia-lhe uma visão sobre dois jogadores: o Raúl Jiménez, antigo avançado do Benfica que passou por uma lesão muito grave, e está a voltar aos melhores índices com bons jogos todas as semanas, muitos golos e capacidade associativa; e o Kevin, reforço de verão que esteve associado ao Sporting, mas que o Fulham ganhou vantagem. Como olha para estes jogadores.

Gonçalo Santos: Quando cheguei, o Jiménez já tinha passado o Cabo das Tormentas, como lhe costumo dizer, e já estava mais que adaptado. Fez uma excelente época no ano passado. É um jogador perfeitamente identificado com a Premier League, o mexicano com mais jogos na Premier League. Conhece perfeitamente o campeonato, está adaptado e é uma mais-valia para nós. Tem-nos ajudado muito. Está numa fase da carreira onde quer estabilidade, gosta de lá estar e estamos muito felizes com ele. O Kevin está numa fase de adaptação. Veio de um campeonato diferente. Precisa dessa adaptação, mas vimos antes e comprovamos no dia-a-dia que tem um potencial enorme e vai dar-nos muitas alegrias. Vai ser uma das grandes surpresas da Premier League.

Bola na Rede: Pelo clube de onde veio, pela nacionalidade e por jogar no Fulham, estamos perante um novo Willian?

Gonçalo Santos: Eu gostava. Tive a oportunidade de trabalhar uns meses com o Willian e é uma lenda na Premier League, um jogador com uma excelente qualidade e aguentou-se muitos anos por cá. O Kevin é um miúdo que acabou de chegar, precisa de adaptação à língua, à cidade, à rotina diária, à intensidade dos jogos, porque a Premier League é um campeonato mais intenso que os outros e toda a gente precisa de uma fase de adaptação. As expectativas são altas, mas não temos dúvidas nenhumas de que vai corresponder às expectativas e ter sucesso no Fulham.

«A Liga Portuguesa precisa de melhorar infraestruturas, estádios, condições de treino, mas tem todo o potencial para crescer e ser uma das melhores ligas da Europa».

Gonçalo Santos
Gonçalo Santos Casa Pia
Fonte: Casa Pia AC

Bola na Rede: Antes de ser treinador ajunto no Fulham era treinador principal no Casa Pia. Quais as principais diferenças entre o campeonato português e inglês e entre o papel de treinador principal e adjunto?

Gonçalo Santos: Há diferenças, mas o nosso campeonato português está bem apetrechado de jogadores. A diferença entre os três grandes e as restantes equipas ainda é bastante grande, por isso é que a nossa liga não é tão competitiva como gostaríamos e à vista de quem não está em Portugal. A Liga Portuguesa precisa de melhorar infraestruturas, estádios, condições de treino, mas tem todo o potencial para crescer e ser uma das melhores ligas da Europa. Basta quem está acima dos clubes investir e melhorar. Não é pela qualidade dos treinadores portugueses ou dos jogadores, é pela qualidade das infraestruturas. Em relação a ser principal ou adjunto, a diferença é que o treinador principal chega ao fim-de-semana e decide o onze e o treinador adjunto obviamente que não. O principal tem muito mais procura, visibilidade, tem de gerir outros departamentos. A relação que tinha com o Marco é longa, já tinha sido meu treinador há muitos anos. Temos uma maneira muito parecida de ver o jogo e o treino e estou muito feliz. Penso que nos completamos muito bem e a nossa relação tem sido muito positiva.

Bola na Rede: Recordando a altura em que foi treinado pelo Marco Silva, já nessa altura era a sua principal referência na carreira de treinador?

Gonçalo Santos: Eu participei no início da carreira do Marco Silva, porque quando ele começou como treinador eu era jogador. Nos seus três primeiros anos de carreira fui jogador dele. Já passaram alguns anos e óbvio que o Marco Silva evoluiu muito. É uma evolução natural por aquilo que passou e pelo que conquistou. Já na altura toda a gente via que ia ser um treinador de grande sucesso. Penso que está a fazer uma carreira muito crescente e que nem sempre foi fácil. Não foi um grande jogador com notoriedade e isso abre muitas portas. Fez um caminho de baixo e demorou um pouco mais de tempo a chegar lá, mas tenho a certeza que merece treinar um big-6 na Premier League e que vai lá chegar.

«Quando se passa muito tempo com um treinador, bebemos muito das suas ideias além de darmos muitas ideias e ajudarmos».

Gonçalo Santos
Gonçalo Santos Casa Pia 2
Fonte: Casa Pia AC

Bola na Rede: Na equipa técnica do Marco Silva chegou a trabalhar com o Hugo Oliveira, agora treinador do Famalicão. Como tem visto a sua adaptação do Hugo à Primeira Liga e vê no Famalicão uma espécie de “Mini Fulham” em Portugal, até pelo 4-3-3, pelo jogo associativo, pelos triângulos nos corredores?

Gonçalo Santos: O Hugo Oliveira também foi treinador durante muito tempo. Não era só treinador de guarda-redes, também participava muito na organização da equipa e no planeamento do treino. Era muito ativo e proativo, não era só um treinador de guarda-redes. Estava presente em todas as decisões da equipa técnica. Não tinha antes e não tenho a mínima dúvida de que ele vai ter muito sucesso. Temos visto. Foi um dos nossos e todos acompanhamos a sua carreira. Não teve um início muito fácil. O Famalicão não joga de forma igual, porque o Hugo tem as ideias dele e o Marco também tem as suas ideias, mas o Famalicão joga muito bom futebol, com uma ideia associativa e pressão alta. Faz muitas coisas que nós fazemos, mas isso é natural. Quando se passa muito tempo com um treinador, e ele passou seis ou sete épocas com o Marco Silva, bebemos muito das ideias do treinador além de darmos muitas ideias e ajudarmos. Se estamos tanto tempo juntos e a ter sucesso, óbvio que acreditamos muito naquela ideia. Quando temos a oportunidade queremos replicar o que foi feito. Não tenho dúvidas nenhumas de que vai ter muito sucesso e não estou nada surpreendido com o sucesso que está a ter no Famalicão.

Bola na Rede: Quais os principais destaques que identifica na Primeira Liga nesta temporada e, no futuro, dá preferência a um regresso a Portugal ou a uma continuidade no estrangeiro?

Gonçalo Santos: Em relação à Primeira Liga, gostava de conseguir seguir mais do que sigo. Toda a gente gosta de ver o nosso país e tenho muitos treinadores na Primeira Liga que são meus amigos. Tento segui-los a todos. Do pouco que tenho visto, o Farioli revolucionou o FC Porto. Deu-lhe uma nova vida, ideias novas e novamente a agressividade. Tem sido a grande surpresa do campeonato. Em relação às outras equipas, o Moreirense apresentou-se muito bem. Tem continuidade num grande plantel e o mister Vasco Botelho da Costa é um treinador que vai ter grande futuro. É um treinador novo que teve sucesso em todas as etapas da sua carreira. Conhecia-o dos sub-23. O Vasco Matos fez uma grande época e está a ter continuidade. Temos muitos treinadores novos a aparecer e espero seguir mais. O mister Farioli e o mister Vasco Botelho são as grandes revelações da Liga. Tenho curiosidade para ver, passado uns meses, a adaptação do mister Mourinho à Liga Portuguesa, a treinar o Benfica. Em relação a mim, estou muito bem com o Marco. Estou mesmo muito feliz, era um objetivo meu ir para a Premier League e jogar contra os melhores no melhor campeonato do mundo. Sou treinador há pouco tempo. Só tenho 38 anos, sou treinador há três ou quatro anos e parece que já passei por muito. Ainda estou numa fase de aprendizagem e tenho a certeza de que sou melhor treinador hoje do que quando assumi o Casa Pia. Quando a oportunidade certa chegar, irei estar mais preparado porque estou a fazer essa formação para ano após ano ser melhor.

Diogo Ribeiro
Diogo Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
O Diogo tem formação em Ciências da Comunicação, Jornalismo e 4-4-2 losango. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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