João Prates está na Tribuna VIP do Bola na Rede. É treinador de futebol, licenciado em Psicologia do Desporto e está no seu espaço de opinião no nosso site. O técnico de 52 anos já orientou o Dziugas da Lituânia, o Vaulen da Noruega e o Naft Maysan, do Iraque, e esteve na formação do Al Batin e Hajer Club da Arábia Saudita.
Portugal não deve ignorar o que aconteceu em Dublin. Ao contrário do que o selecionador afirmou, este não é um jogo para esquecer. É um jogo para recordar, analisar e compreender, porque expôs problemas que já foram percebidos noutras partidas, mas que continuam sem resposta. Foi o segundo match point para garantir a qualificação para o Mundial. E voltou a falhar. Falhou com uma exibição fraca, pouco intensa, sem ideias e sem capacidade de adaptação. E falhou frente a uma Irlanda que mostrou que há várias formas de chegar ao resultado, mesmo sem ter a qualidade individual de Portugal.
Os números desmontam qualquer tentativa de narrativa positiva: 77% de posse de bola, mas 14 remates permitidos aos irlandeses. Portugal teve bola, mas nunca teve controlo. Dominou o tempo de jogo, mas não dominou o jogo em si.
A equipa continua sem um padrão ofensivo e defensivo claro. Vive do talento individual, que é extraordinário, mas enquanto o coletivo não for mais forte do que a soma das peças, situações como a de hoje tornam-se inevitáveis. Portugal circulou a bola de forma lenta, previsível, lateralizada. Faltou aceleração, faltou agressividade nos corredores, faltou presença na área e faltou alguém capaz de desequilibrar no 1×1. Tudo isto reflete escolhas.


E é precisamente nas escolhas que entra outro ponto crítico. O treinador tem a obrigação de transmitir uma mensagem ao grupo, especialmente quando mexe na equipa. Ao intervalo, a perder por 2-0, as primeiras substituições foram central por central e lateral por lateral. Uma equipa em desvantagem, num jogo decisivo, com jogadores no banco como Francisco Trincão, Francisco Conceição, Rafael Leão ou Gonçalo Ramos, não pode dar sinais de manutenção do status quo. O banco tinha soluções claras para virar o rumo do jogo. A equipa precisava de ousadia. Não aconteceu.
Há ainda o detalhe que não pode ser ignorado: Portugal contratou um especialista em bolas paradas, mas sofreu três golos precisamente… em cantos e iguais. O problema não é pontual, é estrutural.
Segue-se agora o terceiro match point no domingo. E desta vez não existe margem para interpretações optimistas. Só um resultado interessa: vencer. Porque tudo o que Portugal fez hoje ficou muito aquém da exigência de quem quer estar entre os melhores do mundo.

