«Até me arrepio só de falar no Vitória SC, os adeptos são únicos» – Entrevista BnR com Grégory

    Bola na Rede: Vamos então falar do Lúcio e do Zico que encontras na Índia. Acabaste a carreira no FC Goa, até quando já estavas a colaborar com a Proeleven. Como é que surgiu a Índia no teu caminho?

    Grégory: Sim, já estava ligado à Proeleven e a pensar em deixar o futebol, mas depois surgiu o convite. A Índia eram só três meses, pensei muito, estava muito receoso, mas acabei por aceitar.

    Bola na Rede: E o que encontraste em Goa?

    Grégory: Foi uma experiência muito boa, superou as minhas expectativas. Os estádios sempre cheios, mas é uma realidade muito diferente… De facto, depois de estarmos na Índia percebemos que somos uns sortudos. O que vi e senti na Índia… Famílias nuas a dormir na rua, a passarem fome, mas sempre com um sorriso nos lábios. Quando regressamos a Portugal e à Europa é que percebemos a sorte que temos. Como atletas, naqueles meses, vivíamos em hotéis de cinco estrelas, e depois saíamos à rua e víamos as pessoas a passar fome… É uma loucura. Claro que o objectivo era ajudar a implementar o futebol no país e isso, na altura também me permitiu fazer muitos contactos. Jogava com o Robert Pires, com o Lúcio, fiz um irmão, que é o Léo Moura, o treinador era o Zico, ainda joguei contra o Roberto Carlos, o Marco Materazzi… Fiz muitos contactos que me serviram no início da minha carreira como gestor de carreiras. Com o Zico, por exemplo, abri outras portas, outros mercados e isso ajudou-me bastante. Foi uma experiência muito rica, que me permitiu ver outra cultura, ver outro futebol e fazer contactos importantes.

    Bola na Rede: Que opinião ficaste dos adeptos indianos? Estão entusiasmados com o futebol?

    Grégory: Nunca imaginei. O campeonato muito bem organizado, muitos adeptos, estádios cheios com 80/90 mil pessoas, mas depois, é claro, a nível competitivo não chega sequer a uma 2.ª Divisão portuguesa. Tinha bons jogadores, muitos europeus em final de carreira, mas o jogo era mais lento. E também há indianos que são bons jogadores…

    Bola na Rede: É curioso, mas parece que esses países tardam em dar o salto. O que falta para a Índia ou a China, os países mais populosos do mundo, começarem a produzir jogadores capazes de singrar na Europa?

    Grégory: O povo indiano é humilde e gosta muito de aprender. Eles estão a fazer o seu caminho. No início, cada equipa tinha seis estrangeiros e cinco indianos, agora estão a tentar inverter esse número, meter menos estrangeiros e mais indianos. E têm de fazer isso, porque há alguns indianos que têm qualidade. Claro que taticamente têm mais dificuldades, e é por isso que têm de contratar jogadores e treinadores – como fizeram com o Zico – com quem possam aprender como se faz. Os indianos falhavam um passe, abanavam a cabeça e só diziam “sorry, sorry”… Mas estão a tentar. Têm de começar desde a base, pela formação, e depois crescer. O único jogador indiano que me lembro de ter chegado à Europa foi o Sunil Chhetri, que jogou no Sporting, e que realmente é bom jogador – cheguei a jogar contra ele. Se calhar é possível encontra mais “Chhetri”, mas é preciso educar taticamente os jogadores. Eles correm muito, mas não sabem para onde, por isso, precisam dessa formação, porque talento têm.

    Bola na Rede: E fizeste dupla com o Lúcio, um central com um currículo invejável, capitão e campeão do mundo pelo Brasil, campeão da Europa pelo Inter de Milão, com o José Mourinho… Como foi essa experiência?

    Grégory: O Lúcio é um jogador de respeito, pela sua postura, pela sua maneira de ser… Foi mais uma aprendizagem.

    Bola na Rede: Quando terminaste a carreira já sabias que querias ficar ligado ao futebol?

    Grégory: Quando acabas a carreira nunca sabes exatamente o que vais fazer, mas tive a sorte de o Carlos Gonçalves dar-me esta oportunidade, e hoje faço uma coisa de que gosto muito. Continuo a aprender, mas, realmente, manter-me ligado ao futebol foi a continuidade mais natural para a minha carreira profissional. Agora estou do outro lado, mas estou a gostar muito.

    Bola na Rede: Como empresário isso é algo que te preocupa? Dás conselho aos jogadores mais jovens para que façam um plano de carreira que lhes permita maior conforto no futuro?

    Grégory: O que fazemos é gestão de carreira: acompanhar o jovem desde o início até ao fim da sua carreira. É claro que temos a obrigação de orientá-lo para depois do futebol. Aconselhamos que faça um plano, a investir em alguma coisa, porque o futebol é uma carreira muito curta. No máximo acabas com 35/36 anos e depois? Não tens as mesmas fontes de rendimento que tinhas quando eras jogador, tens uma família, tens de ir às compras, e por isso tens de encontrar uma solução. Damos orientações ao jogador desde cedo, aos mais jovens alertamos que estudar é muito importante, que isso não pode ficar para trás. Vamos aconselhando, já temos experiência, temos outros ex-jogadores a trabalharem connosco na empresa, que conhecem bem essa realidade, e por isso podemos orientar os jogadores, o que é importante que se faça desde cedo.

    Bola na Rede: Para concluir, uma nota sobre a atualidade: tens acompanhado a Liga portuguesa… O campeonato está resolvido?

    Grégory: Já vi muitas coisas no futebol, mas o Sporting realmente destaca-se, é uma equipa que aposta nos jovens – e nossa empresa até representa alguns deles, como é o caso do Tiago Tomás – e o Ruben Amorim veio revolucionar a equipa. Não estávamos habituados a ver um Sporting assim, um grupo de guerreiros, e os resultados falam por si. A vantagem é boa e tem todo o mérito por estar nesta posição, porque é uma equipa que pratica bom futebol, daquelas que o treinador coloca a jogar quem merece, independentemente da idade. E isso é muito bom.

    (Entrevista realizada antes do campeonato terminar)

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    João Amaral Santos
    João Amaral Santoshttp://www.bolanarede.pt
    O João já nasceu apaixonado por desporto. Depois, veio a escrita – onde encontra o seu lugar feliz. Embora apaixonado por futebol, a natureza tosca dos seus pés cedo o convenceu a jogar ao teclado. Ex-jogador de andebol, é jornalista desde 2002 (de jornal e rádio) e adora (tentar) contar uma boa história envolvendo os verdadeiros protagonistas. Adora viajar, literatura e cinema. E anseia pelo regresso da Académica à 1.ª divisão..                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.