Bola na Rede: Vamos então falar do Lúcio e do Zico que encontras na Índia. Acabaste a carreira no FC Goa, até quando já estavas a colaborar com a Proeleven. Como é que surgiu a Índia no teu caminho?
Grégory: Sim, já estava ligado à Proeleven e a pensar em deixar o futebol, mas depois surgiu o convite. A Índia eram só três meses, pensei muito, estava muito receoso, mas acabei por aceitar.
The Family FC Goa @FCGoaOfficial
We are ready and you?@IndSuperLeague #HeroISL pic.twitter.com/y9Sd7g8HSm— Gregory Arnolin ⭐️⭐️ (@GregoryArn15) September 25, 2014
Bola na Rede: E o que encontraste em Goa?
Grégory: Foi uma experiência muito boa, superou as minhas expectativas. Os estádios sempre cheios, mas é uma realidade muito diferente… De facto, depois de estarmos na Índia percebemos que somos uns sortudos. O que vi e senti na Índia… Famílias nuas a dormir na rua, a passarem fome, mas sempre com um sorriso nos lábios. Quando regressamos a Portugal e à Europa é que percebemos a sorte que temos. Como atletas, naqueles meses, vivíamos em hotéis de cinco estrelas, e depois saíamos à rua e víamos as pessoas a passar fome… É uma loucura. Claro que o objectivo era ajudar a implementar o futebol no país e isso, na altura também me permitiu fazer muitos contactos. Jogava com o Robert Pires, com o Lúcio, fiz um irmão, que é o Léo Moura, o treinador era o Zico, ainda joguei contra o Roberto Carlos, o Marco Materazzi… Fiz muitos contactos que me serviram no início da minha carreira como gestor de carreiras. Com o Zico, por exemplo, abri outras portas, outros mercados e isso ajudou-me bastante. Foi uma experiência muito rica, que me permitiu ver outra cultura, ver outro futebol e fazer contactos importantes.
Bola na Rede: Que opinião ficaste dos adeptos indianos? Estão entusiasmados com o futebol?
Grégory: Nunca imaginei. O campeonato muito bem organizado, muitos adeptos, estádios cheios com 80/90 mil pessoas, mas depois, é claro, a nível competitivo não chega sequer a uma 2.ª Divisão portuguesa. Tinha bons jogadores, muitos europeus em final de carreira, mas o jogo era mais lento. E também há indianos que são bons jogadores…
Bola na Rede: É curioso, mas parece que esses países tardam em dar o salto. O que falta para a Índia ou a China, os países mais populosos do mundo, começarem a produzir jogadores capazes de singrar na Europa?
Grégory: O povo indiano é humilde e gosta muito de aprender. Eles estão a fazer o seu caminho. No início, cada equipa tinha seis estrangeiros e cinco indianos, agora estão a tentar inverter esse número, meter menos estrangeiros e mais indianos. E têm de fazer isso, porque há alguns indianos que têm qualidade. Claro que taticamente têm mais dificuldades, e é por isso que têm de contratar jogadores e treinadores – como fizeram com o Zico – com quem possam aprender como se faz. Os indianos falhavam um passe, abanavam a cabeça e só diziam “sorry, sorry”… Mas estão a tentar. Têm de começar desde a base, pela formação, e depois crescer. O único jogador indiano que me lembro de ter chegado à Europa foi o Sunil Chhetri, que jogou no Sporting, e que realmente é bom jogador – cheguei a jogar contra ele. Se calhar é possível encontra mais “Chhetri”, mas é preciso educar taticamente os jogadores. Eles correm muito, mas não sabem para onde, por isso, precisam dessa formação, porque talento têm.
Bola na Rede: E fizeste dupla com o Lúcio, um central com um currículo invejável, capitão e campeão do mundo pelo Brasil, campeão da Europa pelo Inter de Milão, com o José Mourinho… Como foi essa experiência?
Grégory: O Lúcio é um jogador de respeito, pela sua postura, pela sua maneira de ser… Foi mais uma aprendizagem.
Pedro Rebocho back to Liga NOS. Signed for Paços de Ferreira until the end of the season, on loan from Guingamp. Good luck Pedro!
Pedro Rebocho volta à Liga NOS. Assinou pelo Paços de Ferreira até final da época, por empréstimo do Guingamp. Boa sorte Pedro! #ProEleven #WeArePro pic.twitter.com/1xvXGBWLkC
— Proeleven (@geralproeleven) January 13, 2021
Bola na Rede: Quando terminaste a carreira já sabias que querias ficar ligado ao futebol?
Grégory: Quando acabas a carreira nunca sabes exatamente o que vais fazer, mas tive a sorte de o Carlos Gonçalves dar-me esta oportunidade, e hoje faço uma coisa de que gosto muito. Continuo a aprender, mas, realmente, manter-me ligado ao futebol foi a continuidade mais natural para a minha carreira profissional. Agora estou do outro lado, mas estou a gostar muito.
Bola na Rede: Como empresário isso é algo que te preocupa? Dás conselho aos jogadores mais jovens para que façam um plano de carreira que lhes permita maior conforto no futuro?
Grégory: O que fazemos é gestão de carreira: acompanhar o jovem desde o início até ao fim da sua carreira. É claro que temos a obrigação de orientá-lo para depois do futebol. Aconselhamos que faça um plano, a investir em alguma coisa, porque o futebol é uma carreira muito curta. No máximo acabas com 35/36 anos e depois? Não tens as mesmas fontes de rendimento que tinhas quando eras jogador, tens uma família, tens de ir às compras, e por isso tens de encontrar uma solução. Damos orientações ao jogador desde cedo, aos mais jovens alertamos que estudar é muito importante, que isso não pode ficar para trás. Vamos aconselhando, já temos experiência, temos outros ex-jogadores a trabalharem connosco na empresa, que conhecem bem essa realidade, e por isso podemos orientar os jogadores, o que é importante que se faça desde cedo.
Bola na Rede: Para concluir, uma nota sobre a atualidade: tens acompanhado a Liga portuguesa… O campeonato está resolvido?
Grégory: Já vi muitas coisas no futebol, mas o Sporting realmente destaca-se, é uma equipa que aposta nos jovens – e nossa empresa até representa alguns deles, como é o caso do Tiago Tomás – e o Ruben Amorim veio revolucionar a equipa. Não estávamos habituados a ver um Sporting assim, um grupo de guerreiros, e os resultados falam por si. A vantagem é boa e tem todo o mérito por estar nesta posição, porque é uma equipa que pratica bom futebol, daquelas que o treinador coloca a jogar quem merece, independentemente da idade. E isso é muito bom.
(Entrevista realizada antes do campeonato terminar)