«Eu estive quase a assinar pelo Club Atlético de Madrid até à última»- Hélder Guedes
Bola na Rede: Depois da estadia nos Emirados, a ideia foi sempre e exclusivamente regressar a Portugal?
Hélder Guedes: A ideia, naquela altura e depois de alguns episódios que me aconteceram lá, era vir o mais rapidamente para Portugal para estar perto da minha família e recuperar. Essa é que era a prioridade.
Bola na Rede: Em que outro campeonato – e em que clube – gostaria de ter jogado? Em que estilo de futebol encaixaria melhor?
Hélder Guedes: Eu sempre admirei o campeonato espanhol e o italiano, também pelas minhas características. Acho que gostava de ter jogado lá.
Bola na Rede: Foi mesmo a Portugal que regressou, para representar o Vitória FC. Em 2020, o clube é administrativamente relegado aos escalões não profissionais, após ter conseguido a manutenção na última jornada. O Guedes acaba por ser um dos jogadores a não continuar no clube sadino e defronta-se com um momento da sua vida profissional em que está sem clube e em plena pandemia, ainda que tenha assinado pelo GD Chaves poucas semanas depois. Quão difícil foi superar esta etapa da sua vida e quão importante foi o clube flaviense nesta fase?
Hélder Guedes: Em Setúbal, as coisas foram um bocadinho diferentes. Eu estava noutra fase da minha vida e queria estar perto da minha família, por questões familiares, e ali até meio – acho que foi até no mercado de janeiro – tentei sair para outro clube (pelas questões familiares) e não me foi permitido pelo presidente. Em resposta a esse entrave da saída foi-me prometido que no final da época poderia sair. Isto porque eu tinha dois anos de contrato e, por isso, não foi uma questão da situação do clube, que acaba depois por descer na secretaria. Não por nenhum fator desses, foi simplesmente por questões familiares. Eu queria vir e a minha decisão já estava tomada até em janeiro. Depois, acabo por ir para o GD Chaves e acho que aqui o grande peso foi já ser um namoro antigo, já sentia a vontade que eu fosse para Chaves da parte da direção do clube. Já vinha de alguns anos atrás, eu até quando estava no Rio Ave FC recebi abordagens… Então, já era um namoro antigo. Foi esse o peso que me fez ir para Chaves. Não foi só esse, obviamente – o projeto, as condições, a própria dimensão do clube, que é um clube grande, fez com que eu fosse para Chaves.
Hélder Guedes é o mais recente reforço do GD Chaves.
O avançado de 33 anos estava sem clube, após terminar a ligação com o Vitória FC. pic.twitter.com/co9HUzbOMI— Diário de Transferências (@DTransferencias) October 8, 2020
Bola na Rede: Nas fases em que a vida profissional não decorre de uma forma tão estável – a lesão que sofreu quando estava emprestado ao FC Paços de Ferreira pelo FC Penafiel é um exemplo -, como funciona a relação interdependente desta com a vida pessoal e familiar? A vida profissional afeta negativamente a vida pessoal ou a vida pessoal afeta positivamente a vida profissional e as coisas tornam-se mais simples?
Hélder Guedes: Foi a minha primeira grande lesão. Foi dos piores momentos da minha carreira, admito. Além de ser a primeira lesão, foi a primeira a requerer cirurgia. E depois carregava em cima de mim e mesmo as outras pessoas colocavam em cima de mim uma expetativa muito grande, porque era jovem, tinha acabado de fazer um grande campeonato, em todos os mercados se falava de mim… Eu estive quase a assinar pelo Club Atlético de Madrid até à última… E isso, quer se queira, quer não, coloca um peso em cima. Quer no jogador, quer na parte dos adeptos e até das próprias direções. Sempre tentei não trazer os problemas do futebol para casa e o contrário também. Mas tem que se ter uma resiliência muito grande, uma força de vontade muito grande. Depois dessas expetativas, ter uma lesão grave logo na primeira saída de Penafiel, quando se idealizavam mundos e fundos profissionais e depois cai assim “por água abaixo”… Tem que se ter uma força de vontade e um suporte familiar muito grandes para que possamos recuperar e estar de novo com a mesma ambição.
Bola na Rede: A verdade é que estas duas experiências consecutivas, nos Emirados e em Setúbal, acabam por ser até ao momento as duas únicas vivências profissionais do Hélder fora do Norte de Portugal. Isto deveu-se a uma preferência por ficar mais perto de casa ou foi simplesmente assim que se desenrolou o rol de escolhas que foi fazendo ao longo do seu trajeto profissional?
Hélder Guedes: Não, não. O trajeto desenrolou-se assim, não foi nada planeado. Era indiferente ficar longe ou perto de casa. Desenrolou-se assim.
Bola na Rede: E o futebolista é um dos profissionais que mais escolhas tem que fazer na construção e gestão da sua carreira. No seu caso, qual foi a hierarquia de prioridades que estabeleceu para o auxiliar nas suas decisões?
Hélder Guedes: Das poucas vezes que tive que escolher, porque não tive grandes transferências, não tive grandes alterações de clubes, mas a minha preocupação – e, se calhar, não tive por causa disso – sempre foi ficar no clube em vez de ir para outros, que eu entendia que estavam mal estruturados, mal organizados, que não tinham tantas garantias como os clubes onde eu estava. Essa era a minha grande preocupação e, anexado a isso, tinha o meu agente e amigo, que me ajudava a filtrar as coisas.
Bola na Rede: E qual foi a decisão mais difícil que teve que tomar?
Hélder Guedes: Posso considerar que foi nos Emirados, depois da lesão no segundo jogo. Vim para Portugal, ainda não sabia se ia fazer a cirurgia ou não, tinha uma rotura de ligamentos e, como já era a terceira, estava a ponderar deixar o futebol e não fazer a cirurgia. Até porque, se não fosse para jogar futebol, não necessitava fazer aquela cirurgia, podia fazer a minha vida normal e não precisava de cirurgia. Contudo, a minha esposa e a minha família ajudaram-me, mais uma vez, o suporte familiar mais uma vez. Deram-me alguns exemplos e mostraram-me que algumas atividades ia ter no futuro dificuldade em fazer e optei por fazer cirurgia. Depois, fui ganhando forças novamente e tomei a decisão de voltar a jogar e foi quando fui para Setúbal. Essa, sim, foi uma grande decisão, porque estava naquele impasse de continuar a jogar ou não.