«Um profissional de futebol nunca é livre. Nós somos animais competitivos» – Entrevista BnR com Hélder Guedes

    «[Regresso ao FC Penafiel como jogador] Era uma forma bonita de terminar e era o que eu idealizava, até porque penso que são três golos para ser o melhor marcador da história do FC Penafiel»

    Bola na Rede: Virando o olhar para fora, percebemos que o jogador português está “na berra” e é um ativo bastante bem cotado internacionalmente. Acredita que, em sentido contrário, em Portugal ainda há uma subvalorização do futebolista luso?

    Hélder Guedes: Comparando com os de fora, sim. Mas também não temos também os mesmos recursos dos de fora, não é?

    Bola na Rede: Acha que a mentalidade por vezes mais tribal e carregada de ódio de algumas franjas de adeptos afeta o desempenho dos jogadores ou o grupo de trabalho é impermeável no que respeita a estas situações?

    Hélder Guedes: Eu penso que sim, mas penso que é muito cultural. Falando agora do povo português, desta exigência no imediato, quando as coisas não estão a correr bem, vira-se ao contrário em vez de apoiar… Acho que é um bocadinho cultural e, às vezes, o adepto é que traz muitos problemas que tem em casa para o estádio e descarrega-os ali. Agora, o jogador também é pago para ouvir, nem sempre cai bem, mas tem que haver aqui um equilíbrio e uma preparação para ouvir isso. Eu não gosto, é feio, mas pronto…

    Bola na Rede: Algum adepto ou algum evento em particular com adeptos o marcou para a vida?

    Hélder Guedes: Temos uma história em Penafiel muito engraçada. Nós assegurámos a subida de divisão na Madeira e depois fizemos a viagem e no aeroporto tínhamos imensa gente, tínhamos uma multidão de gente de Penafiel e festejámos de forma diferente lá dentro do aeroporto e foi um momento marcante não só para mim, como para todos os jogadores e para o clube e até para os próprios adeptos.

    Bola na Rede: Resgatando o tema da descida do Vitória FC, como viveu com os adeptos a festa da manutenção em campo, numa primeira instância, e depois o desalento pela decisão administrativa de relegar o clube para o Campeonato de Portugal?

    Hélder Guedes: Foi um misto de sentimentos extremos. Como deve imaginar – e é visível – as pessoas de Setúbal são fervorosas, são apaixonadas pelo Vitória FC e não mereciam que o clube ficasse naquela situação. Então, foi um misto, porque festejou-se de forma muito fervorosa a manutenção e, depois, foi uma desilusão muito grande porque não foi desportivamente, foi por outros fatores, e foi uma grande desilusão, um sentimento horrível. Para os jogadores e para aquelas pessoas de Setúbal, que são umas apaixonadas pelo clube.

    Bola na Rede: E acredita que os verde-e-brancos setubalenses vão estar de volta à Primeira Liga brevemente?

    Hélder Guedes: Penso que será um longo caminho, infelizmente, mas gostava de os ver o mais breve possível na Primeira Liga.

    Bola na Rede: E o Guedes vai estar de volta à Primeira Liga já na próxima temporada?

    Hélder Guedes: Não, não (risos). Não vou viver em sonhos. Não, não. Posso voltar, mas só se for noutras funções.

    Bola na Rede: O que é que se segue na vida e na carreira de Hélder Tiago Pinto Moura Guedes? Um regresso ao FC Penafiel ainda como jogador está nos seus planos?

    Hélder Guedes: Sim, admito que sim, fazia parte. Acho que era uma forma bonita de terminar e era o que eu idealizava, até porque penso que são três golos para ser o melhor marcador da história do FC Penafiel e, sendo um jogador da casa, acho que era bom para mim. Era uma marca histórica e ia ficar – e vou ficar – sempre na história do clube. Mas com esse recorde seria diferente. Mas não vai ser possível… Agora só se for noutras funções.

    Bola na Rede: Planeia continuar no mundo do futebol após se retirar como jogador?

    Hélder Guedes: Sim, admito que sim. Mas também não é uma obsessão, até porque tenho outros negócios à parte e não é nenhuma obsessão e não é o único plano. Temos que ter outros planos para que, se não correr bem o “A”, optemos pelo “B”.

    Bola na Rede: Estando de momento fora do ativo, de que sente mais falta no que respeita ao mundo do futebol profissional?

    Hélder Guedes: Do que estou a sentir neste momento mais falta é ao nível da competitividade. O ir para o treino todos os dias, a competição do treino, a pressão de chegar o fim-de-semana para o jogo – que é o que todos nós gostamos de fazer, é jogar. Por isso, a competitividade é o que me faz mais falta.

    Bola na Rede: Estamos já em período de descontos, eu aproveitava para colocar algumas questões mais breves. Assim, que treinador deixou mais marcas na sua carreira – acima de tudo, na sua forma de jogar?

    Hélder Guedes: Foi o mister Luís Castro e o Miguel Cardoso. [Sobre Miguel Cardoso] Tínhamos um gozo tremendo em jogar, porque era um jogo em que tínhamos, não digo em todos os jogos, mas em quase todos os jogos, a maior percentagem de bola e isso dávamo-nos um gozo tremendo. Ter bola… privilegiava ter bola aquele modelo e era dos que eu mais me enquadrava e um dos com quem mais sucesso tivemos.

    Bola na Rede: Que jogador – de entre aqueles que foram seus colegas – mais o impressionou?

    Hélder Guedes: Dos que jogaram e treinaram comigo, foi o Diego Costa, o Michel e o Rúben Ribeiro.

    Bola na Rede: Quando olha em retrospetiva para a sua carreira, sente orgulho no caminho que trilhou?

    Hélder Guedes: Sim, concretizei o meu sonho, que foi ser profissional do futebol. Sempre dei tudo pelos clubes em que estive, sou bem recebido em todos eles…Sim, estou muito satisfeito, muito contente pela carreira que tive. É óbvio que queria ter jogado no Real Madrid CF, mas sou muito realista e, dentro do meu nível, saio feliz. E com um orgulho imenso do que fiz.

    Bola na Rede: E nessa retrospetiva vem-lhe algum arrependimento à cabeça ou, como diz o músico John Moreland, “There´s no glory in regret”?

    Hélder Guedes: Tenho algumas coisas de que me arrependi, é óbvio. De certeza que fiz muitas coisas erradas, mas olho para isso de uma forma positiva. Não as vou repetir e aprendi com elas e temos de olhar dessa forma. Agora, admito e aceito que fiz coisas erradas.

    Bola na Rede: Numa palavra como se define enquanto jogador? E enquanto homem?

    Hélder Guedes: Acho que deixo estas últimas questões para as pessoas de fora, porque o meu caminho sempre foi ter bons princípios, zelo sempre por isso, por ser um bom humano, amigo e, depois, o profissional é à parte. O que interessa é a pessoa e é para isso que eu zelo: para ser cada vez melhor e acho que a vida só faz sentido assim.

    Muito obrigado, Hélder Guedes! Espero vê-lo de volta aos relvados muito em breve.

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    Márcio Francisco Paiva
    Márcio Francisco Paivahttp://www.bolanarede.pt
    O desporto bem praticado fascina-o, o jornalismo bem feito extasia-o. É apaixonado (ou doente, se quiserem, é quase igual – um apaixonado apenas comete mais loucuras) pelo SL Benfica e por tudo o que envolve o clube: modalidades, futebol de formação, futebol sénior. Por ser fascinado por desporto bem praticado, segue com especial atenção a NBA, a Premier League, os majors de Snooker, os Grand Slams de ténis, o campeonato espanhol de futsal e diversas competições europeias e mundiais de futebol e futsal. Quando está aborrecido, vê qualquer desporto. Quando está mesmo, mesmo aborrecido, pratica desporto. Sozinho. E perde.