«Hoje em dia, os árbitros aplicam de forma cega as leis do jogo» – Entrevista BnR com Bruno Paixão

    «Defendo que os espetadores não deviam ter acesso às comunicações do árbitro».

    Bola na Rede: Apoia que os árbitros falem no final dos jogos. Quais são os melhores moldes para isso acontecer?

    Bruno Paixão: Não sei quando, mas vai acontecer. É preciso darem ferramentas aos árbitros para o poderem fazer com qualidade. Os árbitros têm que estar preparados para enfrentar uma flash interview ou uma conferência de imprensa. Isso requer formação que os árbitros vão ter que obter. Vai ter que ser a Federação Portuguesa de Futebol a tratar dessa matéria. Não concordo muito com a flash interview, porque ainda está tudo muito a quente, mas conferência de imprensa, passado uma hora, para o árbitro poder ver os lances e receber alguma indicação por parte do diretor de comunicação e aí poder falar.

    Bola na Rede: Enquanto esteve no ativo, se lhe pedissem para fazer isso sentia-se preparado?

    Bruno Paixão: Não, porque nunca tive essa formação. É uma lacuna. Nunca me senti preparado para o fazer.

    Bola na Rede: Que balanço faz da aplicação do VAR?

    Bruno Paixão: Está num processo de evolução. De ano para ano, as coisas têm estado a melhorar. Vai haver sempre decisões discutíveis e mediáticas. A tendência é ir melhorando de época para época.

    Bola na Rede: Alterava alguma coisa no protocolo?

    Bruno Paixão: Isso vai acabar por acontecer. Neste momento, só estão quatro situações previstas. Dentro dessas quatro situações previstas, vão abrir o leque do critério. Não me admiro nada que introduzam mais qualquer coisa pelo meio neste processo evolutivo do VAR. Estou-me a lembrar, por exemplo, de um pontapé de canto que foi marcado de forma errada e era pontapé de baliza. Pode passar por aí, porque de um pontapé de canto pode surgir um golo.

    Bola na Rede: Tem a experiência de ter sido VAR. As emoções que se estão a viver no relvado passam para a sala onde se analisam os lances?

    Bruno Paixão: Os quatros árbitros no relvado estão a comunicar entre eles. Pelas imagens, dá para perceber o estado emocional do árbitro e o que o árbitro viu em determinado momento ou lance. O VAR vive aquilo que o árbitro está a viver.

    Fonte: Liga Portugal

    Bola na Rede: Os espetadores deveriam ter acesso às comunicações do árbitro?

    Bruno Paixão: Estamos a lidar com emoções. No calor da decisão e envolvência do jogo, o árbitro também é um ser humano e tem reações emotivas. Naturalmente, dizem-se coisas que não se deviam dizer. Por esse lado, defendo que não. 

    Bola na Rede: Recentemente, o presidente do FC Porto teve declarações em que dizia que, felizmente, o Bruno Paixão já tinha deixado a arbitragem. Justifica-se que um dirigente desportivo teça comentários sobre uma pessoa que já deixou a atividade?

    Bruno Paixão: Os comentários são de Jorge Nuno Pinto da Costa. Na parte final da minha carreira, apitei um jogo do FC Porto em que o Senhor Presidente me disse algumas palavras positivas muito sentidas da parte dele. Lembro-me dessas palavras, foram palavras de respeito e até de alguma admiração pelo árbitro Bruno Paixão. Como tal, eu queria ficar com essa recordação de Jorge Nuno Pinto da Costa e respeitá-lo como presidente do clube que é. Não queria comentar essas frases que ele proferiu. A única coisa que posso falar relativamente a isso é que guardo com admiração as últimas palavras que ele me disse no último jogo que apitei no Estádio do Dragão.

    Bola na Rede: Alguma vez tentaram influenciar, de forma direta ou através de ofertas ou outro meio indireto, as suas arbitragens?

    Bruno Paixão: Não, nunca me aconteceu.

    Artigo revisto por Gonçalo Tristão Santos

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    Francisco Grácio Martins
    Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
    Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.