“Houve contactos tanto do SL Benfica como do FC Porto”
– Os anos divididos entre Paris e Leiria, até à afirmação na Briosa –
BnR: Até que finalmente vais jogar para a Ligue 1, numa equipa grande, com as cores do PSG, no estádio que o viu nascer.
FT: Volto onde nasci. Nasci na clínica do Parque dos Príncipes, no estádio, foi um regresso a casa. Estava muito contente, mas é óbvio que para um miúdo da minha idade era tudo muito novo e diferente. Apesar de ter ido para a segunda divisão o interesse dos grandes sempre se manteve, desta vez não foi o Marselha, mas foi o PSG.
BnR: Encontras um plantel recheado de craques e qualidade…
FT: É verdade, mas já na altura quando jogava no Felgueiras tive um plantel assim, com o Fernando Meira, o Pedro Mendes, Lima Pereira… Isso também só me fez crescer e amadurecer rápido no meio deles para competir pelo meu lugar. Eu era visto como uma esperança e trabalhei muito, assim como assimilei muita coisa com os grandes jogadores com quem partilhava balneário. Sabia que por causa dessa qualidade toda do plantel do PSG que se calhar não ia jogar tanto quanto gostaria.
BnR: Nesse plantel jogas com outro português: Hugo Leal. Ajudou-te na adaptação ao plantel?
FT: Ajudou sim, nesse plantel também tínhamos muitos brasileiros, argentinos e espanhóis. Ali toda a gente se entendia bem, falava-se mais um “português/latino” do que Francês (risos). Quando tens vários idiomas que consegues perceber e falar,, a adaptação torna-se muito mais fácil.
BnR: Ainda fazes alguns jogos em Paris, mas acabas por regressar a Portugal, desta vez na Primeira Liga, por empréstimo à União de Leiria. Foste à procura de jogar com mais regularidade?
FT: Isso, sinceramente nem sei bem como surge, sei que o meu empresário na altura, o Jorge Mendes, me liga e diz que em Paris vou jogar pouco, mas que a UD Leiria estava interessada. Eu queria jogar, sabia que ali não ia ter muitas oportunidades e como nunca tinha jogado na Primeira Liga Portuguesa acabei por aceitar.
BnR: Voltas a encontrar um bom plantel, recheado de jovens como Hugo Almeida, Luís Filipe, Douala, João Paulo, que no ano seguinte assinam pelos grandes de Portugal. Jogas ainda com jogadores experientes como Emílio Peixe ou Tiago, que vinha de ganhar a Liga dos Campeões pelo FC Porto…
FT: Sim, tínhamos um bom equilíbrio, o Hugo Almeida era uma grande promessa e o Peixe um grande homem. Portugal sempre teve equipas com muito bons jogadores. Curiosamente faço quase todos os jogos do campeonato a titular, menos contra os grandes, FC Porto, Sporting CP e SL Benfica…
BnR: E sabes o porquê?
FT: Acho que sim. Na altura eram os únicos jogos que tinham transmissões televisivas e, como eu estava emprestado e não fazia parte dos quadros do Leiria, acho que eles aproveitavam esses jogos como “montra” para mostrarem os jogadores da casa e mais tarde conseguir vendê-los.
BnR: No fim da época regressas a Paris. Desta vez foste com a mentalidade que era desta que ganhavas o teu lugar?
FT: Sim, sempre tive essa mentalidade mesmo quando lá cheguei no primeiro ano. Lembro-me de uma conversa que o treinador desse ano teve comigo, o Luís Fernández, a dizer que eu merecia ter jogado mais, só não o fez porque tinha de pôr outros a jogar, mas isto são assuntos que mexem com muitos interesses e não vale a pena falar. Nestes anos ganhamos a Taça de França fui fazendo mais alguns jogos pelo PSG, mas já estava com ideias de sair, para ter mais minutos. Entretanto o treinador veio falar comigo a dizer que eu ia ser aposta, comecei a jogar, marquei um golo só que mudaram de treinador e veio o da equipa B. Conhecia-me bem e gabava o meu estilo de jogo, pensei que este seria o meu momento, mas curiosamente, com ele, joguei ainda menos (risos). Entretanto tive problemas com o meu contrato, tinha umas coisas feitas pelo meu empresário que não eram muito legais, a polícia andava a investigar e a rever todos contratos do clube e tive que me desvincular e vir embora.
BnR: Outro regresso à Primeira Liga Portuguesa, desta vez a representar as cores da Académica.
FT: Exatamente. Fui uma aposta deles, foi um regresso que correu lindamente, mas que foi um bocado manchado por uma lesão no tornozelo, a minha primeira lesão grave, mas acabou tudo por correr bem. Fiz boas épocas pela Briosa e foi um clube que me acolheu muito bem.
BnR: Essas boas épocas em Coimbra levaram-te a ser muitas vezes associado ao SL Benfica e ao FC Porto, chegando mesmo a sair na imprensa. O que é que aconteceu para nunca ter havido uma transferência?
FT: Houve contactos tanto do SL Benfica como do FC Porto. Primeiro foi o SL Benfica. Estava bem encaminhado, mas, entretanto, por causa da lesão, tiveram medo e disseram-me que preferiam esperar para ver como eu recuperava para decidir se avançavam com a minha contratação. Nunca mais me contactaram. O FC Porto apareceu quando já estava recuperado, era o mister Jesualdo Ferreira que já me conhecia da seleção de sub-20 portuguesa. Sei que na altura tinham vendido o Anderson ao Manchester United e demonstraram interesse em mim. Pediram-me para ir remover os ferros que tinha na perna devido à lesão e que depois iria assinar um contrato de quatro anos. Entretanto muitos interesses se atravessaram no negócio e a transferência acabou por não acontecer.