«Já disse à minha mulher que quero um dia voltar a jogar no Vitória e quero estar em Guimarães a 100%» – Entrevista BnR com André Amaro

    André Amaro acolheu o Bola na Rede para o seu primeiro relato mais profundo como futebolista no Catar. O jovem defesa-central fala das diferenças culturais, da saudade de Guimarães e do natural sonho de representar a Seleção Nacional. Eis André Amaro em exclusivo no Bola na Rede.

    Bola na Rede: André, obrigado pelo teu tempo para esta entrevista. Como está a correr este início e a adaptação ao campeonato do Catar?

    André Amaro: Há muitos pormenores aqui que são diferentes. A cultura futebolística deles. O futebol aqui não é vivido tão intensamente como em Portugal, a forma como alguns atletas locais pensam, os horários dos treinos porque aqui treinamos à tarde por causa do calor… São pormenores um pouco diferentes. Não há tanta gente a ver os jogos… Os estádios têm muitas condições, a relva é incrível, mas as pessoas não vão tanto aos jogos, até porque o Catar é um país pequeno. É um campeonato em crescimento. Quando me apresentaram a proposta foi nesse sentido. Neste momento não se compara às ligas europeias, mas estou adaptado a estar aqui.

    Bola na Rede: É uma diferença cultural muito diferente. Estás sozinho? Saudades da família?

    André Amaro: Em termos do Catar país, por exemplo, a minha mulher não pode andar com as roupas com que andava em Portugal. Se vai a mostrar um bocadinho da barriga ou das pernas… Nos centros comerciais, alguns dizem-lhe “Não pode entrar assim vestida”. Mas, pronto, há que respeitar. Cada cultura é uma cultura e é uma questão de hábito. São coisas que ao início são um bocadinho chocantes, mas é uma questão de hábito e respeito em relação à sua cultura. Não sei se me estou a desviar da questão…

    Bola na Rede: Sim, sim. É isso. Na questão familiar, já percebi que a tua mulher está aí contigo…

    André Amaro: Sim sim, a minha mulher está comigo. Custa-nos estar longe das nossas famílias. A dela em Guimarães e a minha na Figueira da Foz. Claro que custa estar longe deles, mas é a vida de um profissional de futebol. Eu e a minha mulher temo-nos um ao outro e isso já é bom.

    Bola na Rede: Mas, hoje em dia, já estás completamente integrado…

    André Amaro: Sim, o grupo recebeu-me muito bem. Toda a estrutura do clube e da Liga receberam-me muito bem. Fizeram-me sentir em casa e estou perfeitamente adaptado a estar aqui.

    Bola na Rede: Vamos ao teu percurso. Fazes uma excelente época e estavas com certeza de que irias ser titular no Vitória neste ano. Era este o destino que esperavas? Falaram-se de alguns clubes para ti, como o Besiktas e até do FC Porto. Como é que surge este convite?

    André Amaro: Claro que depois de ter feito aquela época, ouvi um burburinho daqui e outro dali sobre possíveis clubes para onde poderia ir, claro que pensava em dar um salto para as cinco principais ligas europeias, mas em termos concretos de existir proposta em cima da mesa, apenas houve a do Al Rayyan, do Catar. Claro que, ao início, não era bem aquilo que eu queria porque, lá está, estava com uma esperança de, a sair do Vitória, que fosse para as principais ligas europeias ou de sentir que estava a dar um salto em termos futebolísticos. O que é que facto, é que em termos concretos apenas surgiu o Al Rayyan. Apresentaram-me um projeto e, claro que não sou hipócrita, com um suporte financeiro muito bom. E, no fundo, compensa aquilo que é o meu risco de vir para uma liga que, neste momento, é apenas um projeto. Um projeto para crescer. Como disse há pouco, não se compara às principais ligas europeias, mas está a crescer e, como é óbvio, é um risco. Aqui há tempos surgiu a China que queria crescer e não cresceu… Mas, pronto: é um projeto que quer crescer, mas não se sabe se vai chegar a outros patamares. Mas tem esse suporte financeiro que me ajuda muito e acabei por tomar esta decisão de vir para cá.

    Pedro Gonçalves Pote André Amaro
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    Bola na Rede: A presença do Leonardo Jardim acredito que também tenha ajudado no teu processo de decisão e adaptação, claro.

    André Amaro: Em termos de adaptação foi fundamental ter um treinador português. Não quero dizer que não me adaptaria com um técnico de outra nacionalidade, mas ajuda, claro. Falamos a mesma língua e, no fundo, é mais fácil a comunicação e a forma de pensar é idêntica. Claro que quando soube que o treinador era o Leonardo Jardim, com uma carreira que todos conhecem, claro que influenciou a minha vinda para aqui.

    Bola na Rede: Aí no Al Rayyan tens alguns jogadores que falam língua portuguesa: Roger Guedes, Gabriel Pereira, Thiago Mendes… o próprio Rodrigo Moreno, que jogou no Benfica. Como é a tua ligação com eles? Já há aí algum jogador com quem tenhas uma afinidade especial?

    André Amaro: Os jogadores brasileiros, o Rodrigo… Acabaram por ser os estrangeiros. Aqui, creio que somos seis, sete… O grupo é muito bom, mesmo os jogadores do Catar são pessoas cinco estrelas. Agora, claro que o facto de sermos estrangeiros e falarmos a mesma língua, criamos ali um núcleo duro. Damo-nos todos bem e vamos jantar muitas vezes fora. Temos ali um grupo muito interessante.

    Bola na Rede: Voltando só rapidamente ao Leonardo Jardim, que opinião tens dos seus métodos? Estás bem entregue? (risos)

    André Amaro: Sim, sim, estou bem entregue. O mister Leonardo Jardim e a sua equipa técnica vão-me tornar ainda melhor jogador. Espero que eu continue a ser treinado por eles.

    Bola na Rede: Fixaste-te como defesa-central, correto? Já não sais dessa posição.

    André Amaro: Sim, sempre como defesa-central.

    «Quero voltar a jogar no Vitória SC».

    Bola na Rede: André, vamos agora mudar o tema para Guimarães e pegando na tua ligação à cidade. Casaste-te muito jovem e com uma vimaranense… Tens uma ligação forte ao clube e à cidade. Como é que estão essas saudades?

    André Amaro: Claro que tenho muitas saudades. Já disse várias vezes à minha mulher que um dia quero voltar a jogar no Vitória e quero voltar a estar em Guimarães a 100%. Foi uma cidade à qual me apeguei bastante. Uma massa associativa muito boa. Incrível… Espero um dia voltar.

    Bola na Rede: Lembras-te da tua estreia na equipa principal? Tenho aqui apontado, mas quero ver se bate certo com a tua lembrança… [lançado por João Henriques a 21 de dezembro, no Santa Clara 0-4 Vitória)

    André Amaro: Foi com o João Henriques, no Santa Clara.

    Bola na Rede: Exatamente…

    André Amaro: Lembro-me, então não me lembro. Entrei para médio-defensivo, na altura. Foi um momento para o qual eu andava a trabalhar muito. Foi numa fase em que tínhamos muitas lesões e muitos castigos e acabou por surgir uma vaga na convocatória para mim. Acabei por me estrear e fiquei muito feliz. Era um miúdo que vinha da formação e o que mais queria era jogar na equipa principal com aqueles craques todos.

    Bola na Rede: E depois vem a sensação de querer agarrar a oportunidade com unhas e dentes:

    André Amaro: Exatamente, a partir do momento em que uma pessoa chega lá, quer ser igual aos outros e ter esse espaço competitivo.

    Bola na Rede: André, o Vitória SC agora parece mais estável, mas passou por um período muito atribulado com vários treinadores e contestação constante. Sabes por que é que isso acontece com tanta frequência? É a tal massa adepta muito exigente que pode condicionar estas mudanças estruturais? Qual é a tua opinião como jogador que passou pelo Vitória?

    André Amaro: É assim… Como é sabido por todos, a massa associativa do Vitória é realmente muito exigente. Nós, jogadores, sentimos muito isso porque, mesmo nós estando num bom momento a ganhar dois, três jogos seguidos, se não formos ganhar o quarto, se o empatarmos, vamos ser, não por todos, mas contestados de alguma forma. E, pronto, essa exigência é positiva. Faz-nos entrar para os jogos e lutar por nós e por todos os adeptos que vivem o clube. Acho que podemos ver essa exigência como positiva. Agora, claro que o facto de haver muitas mudanças estruturais também se deve a essa exigência. Se não há resultados, há que mudar. Entendo que a impaciência de alguns adeptos leva a mudanças mais cedo do que, se calhar, haveria noutros clubes.

    Gonçalo Ramos André Amaro
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    Bola na Rede: Atualmente, a equipa está mais estável. O que te tem parecido esta nova gestão com o Álvaro Pacheco? Calculo que continues a acompanhar

    André Amaro: Sempre que posso, vejo os jogos, embora aqui nem sempre seja fácil por causa da diferença horária. São só mais três horas, mas às vezes calha ser um jogo à noite e depois fica mais tarde para mim. Sempre que posso vejo os jogos. O Vitória está num momento de forma muito bom. Foi pena aquele deslize com o Gil Vicente, mas não é por esse resultado que deixam de estar numa forma muito boa. A ideia de jogo está muito bem implementada. Acho que este ano o Vitória tem tudo para fazer uma época muito boa mesmo.

    Bola na Rede: Há pouco já antecipaste esta questão, mas vou reforçá-la: O regresso ao Vitória está nos teus planos, correto?

    André Amaro: Sim, sem dúvida (risos). Um dia gostava de voltar.

    «Claro que chegar à Seleção Nacional é um objetivo»

    Bola na Rede: André, vamos agora ao Europeu de Sub-21, no qual tu participaste. Estive aqui a ler um bocadinho. Na altura, adiaste a lua de mel para jogar o Euro Sub-21. A tua mulher não se zangou contigo?

    André Amaro: Não, não (risos). Nós depois acabámos por fazer a nossa lua de mel. Na altura, o Moreno deu-me a mim, ao Zé Carlos e ao Celton Biai mais quinze dias de férias. Fiz aí a lua de mel e ela não ficou chateada. E mesmo se não desse para fazer, na altura disse aquilo em forma de brincadeira porque eu sei que ela só queria que jogasse numa competição tão importante como era o Europeu de Sub-21.

    Bola na Rede: A competição é que não correu como tão bem como esperado. Temos todos mixed feelings. Havia muita expectativa e não foi assim tão boa. Hoje tens ideia do que não correu bem?

    André Amaro: Em termos pessoais, foi mesmo isso: foram mixed feelings, realmente. Fiquei muito feliz por participar numa competição como aquela, mas por outro lado, fiquei um pouco dececionado porque sentia que a equipa tinha qualidade para chegar mais longe. O que acho que aconteceu… Acho que nunca conseguimos mostrar a nossa qualidade. Tivemos um jogo bem conseguido, mas os outros três jogos que tivemos acho que não conseguimos mostrar realmente a nossa qualidade. O grupo era fantástico, a qualidade individual era muito boa. Era uma geração muito boa…

    Bola na Rede: André, sabemos que há escassez de defesas-centrais com muita qualidade em Portugal. Achas que Roberto Martínez está atento às tuas exibições ou o facto de jogares no Catar tira-te possibilidades?

    André Amaro: Claro que chegar à Seleção Nacional é um objetivo. Claro que, tal como disse há pouco, reconheço que esta liga, para já, ainda não tem a visibilidade das principais ligas. Não sei se o Roberto Martínez vê, ou não, os meus jogos. A mim resta-me continuar a trabalhar e seguir o meu percurso. Quero ir fazendo o meu trabalho, dia a dia, jogo a jogo, mês a mês, ano a ano… E o que vier, vem.

    Bola na Rede: Uma coisa é certa: cumpriste o percurso de Sub-20, Sub-21…. E isso costuma ser valorizado na FPF.

    André Amaro: Sim, sim. O que vier para a frente será acréscimo e resta-me continuar a trabalhar.

    Bola na Rede: André, falaste há pouco dos big-5. Há algum clube que te desperte interesse na Europa. Um sonho de criança, vá.

    André Amaro: É assim… Sempre gostei muito da Premier League e um dia gostava de jogar lá. Mas para já é só um sonho e estou aqui.

    Bola na Rede: E o regresso a Portugal? Fora de questão num futuro próximo?

    André Amaro: Não coloco nada fora da equação. Nada é impossível.

    «Diogo Amaro? Quem sabe se não vamos fazer uma dupla imbatível»

    Bola na Rede: Passaste como júnior na Académica e agora tens o teu irmão a afirmar-se na equipa… E tem jogado! Que avaliação faz o irmão mais velho das prestações do irmão mais novo [Diogo Amaro]?

    André Amaro: Ele está a crescer muito. Está a fazer uma época muito boa na Académica. É um jogador com muito potencial e tem muitas condições. Já lhe disse mais do que uma vez que ele tem de continuar a trabalhar. Eu sei que ele trabalha e estou muito feliz pela evolução dele.

    Bola na Rede: Sonhas algum dia fazer dupla com o teu irmão?

    André Amaro: Claro! Já falámos sobre isso. Quem sabe se não vamos fazer, um dia, uma dupla de centrais imbatível.

    Bola na Rede: Tiveste alguma influência na carreira e no gosto do teu irmão sobre esta área do futebol ou foi algo muito natural?

    André Amaro: Temos uma diferença de idade de dois anos, crescemos juntos e jogávamos à bola os dois. O futebol foi sempre algo que nos acompanhou durante a vida toda.

    Bola na Rede: André, em termos de campeonato, as coisas não estão tão boas como acredito que tenham idealizado [4.º lugar]. Que objetivos têm agora para o regresso da temporada [arranca a 15 de fevereiro]?

    André Amaro: Claro que queríamos estar mais acima. Tivemos ali alguns resultados contra as equipas de cima que não foram muito bons. Mas agora temos a segunda volta toda pela frente. O melhor é não criar objetivos. Sei que agora existe muito essa frase do “jogo a jogo”, mas é como vamos encarar. Fazer jogo a jogo e ver como é que isto acaba.

    Bola na Rede: E em termos de objetivos pessoais, o que pretendes num futuro próximo?

    André Amaro: Neste momento, sinto que estou numa fase da carreira em que quero apenas tornar-me num jogador melhor e aquilo que vou atingir, isso virá sempre por acréscimo e como consequência do meu trabalho. Não consigo dizer dois ou três objetivos. Quero ajudar o Al Rayyan e dar títulos ao clube no que depender de mim. É nisso que penso. Não há assim objetivos maiores que tenha.

    Bola na Rede: Falaste num ponto importante, as tuas melhorias como jogador. O que consideras que tens de melhorar no teu jogo e quais é que são as tuas melhores características como futebolista?

    André Amaro: Bom, apesar de ser defesa-central, tenho de ter mais golo. Ando a trabalhar nisso, claro nas bolas paradas…

    Bola na Rede: Já tens dois nesta época…

    André Amaro: Sim, sim. Aliás, se contarmos com o golo do Vitória na Conference League até fiz três (risos). Mas ando a trabalhar nisso. Tenho de melhorar ainda mais no meu jogo. Quanto a questões positivas, sinto que sou um jogador inteligente, com boa qualidade de passe, e sou agressivo.

    Bola na Rede: André, estamos na fase final. Quais são as amizades mais fortes que fizeste no mundo do futebol?

    André Amaro: É assim… a malta com quem estava no Vitória: o Maga, o Dani Silva, o Jota Silva, o Afonso Freitas, o Tiago Silva, o Bruno Varela, o Zé Carlos, o Gui, que agora está no FC Porto B… Pronto, há muitos. É malta que vou levar comigo. Sempre que vou a Portugal, faço uma almoçarada ou um jantarzito com eles. É isso que levamos do futebol. São as amizades.

    Bola na Rede: André, última questão: o sonho que tens guardado no mundo do futebol?

    André Amaro: O meu grande sonho… Se calhar, vou ser o entrevistado meio chato, mas vai ter de ser a resposta dos objetivos: o meu sonho é ajudar o Al Rayyan a ganhar o título. É o sonho do presente.

    PASSES CURTOS

    Bola na Rede: Treinador que mais te marcou?

    André Amaro: Moreno.

    Bola na Rede: Melhor jogador com quem jogaste?

    André Amaro: Marcus Edwards.

    Bola na Rede: Melhor jogador que enfrentaste?

    André Amaro: Luis Díaz.

    Bola na Rede: Sistema tático preferido?

    André Amaro: 3-4-3.

    Bola na Rede: Se pudesses levar um jogador para o Al Rayyan, quem seria?

    André Amaro: Cristiano Ronaldo.

    Bola na Rede: Cristiano Ronaldo ou Messi?

    André Amaro: Cristiano Ronaldo

    Bola na Rede: Melhor estádio em que jogaste?

    André Amaro: Estádio da Luz.

    Bola na Rede: Principal referência no futebol?

    André Amaro: Cristiano Ronaldo.

    Bola na Rede: Clube em que não jogaste, mas gostarias de jogar?

    André Amaro: Real Madrid.

    Bola na Rede: Chegar à seleção ou jogar Champions?

    André Amaro: Chegar à Seleção A.

    Bola na Rede: Clube do coração?

    André Amaro: Vitória SC.

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    Mário Cagica Oliveira
    Mário Cagica Oliveirahttp://www.bolanarede.pt
    O Mário é o fundador do Bola na Rede e comentador de Desporto. Já pensou em ser treinador de futebol por causa de José Mourinho, mas, infelizmente, a coisa não avançou e preferiu dedicar-se a outras área dentro do mundo desportivo.