«Acredito que vou ver o Vitória FC novamente onde merece».
BnR: Nunca treinou uma equipa na Primeira Liga Portuguesa. É algo com que ainda sonha nesta fase da carreira?
RF: Não, neste momento não. Comecei como treinador aos 33 anos, ou seja, no dia em que acabei como jogador iniciei o meu percurso como treinador. Era um homem do futebol e as coisas no início correram muito bem. Mas eu sou de uma época completamente diferente de agora: achava-se que quando tinhas 33 anos eras demasiado novo e não tinhas experiência. Se tinhas 50 ou 60 anos, aí é que eras um homem experiente. Hoje, falamos do inverso. Quando iniciei, era “excessivamente novo”; quando cheguei aos 50, já estava a “passar a validade”. Mas houve um dia em me deitei como treinador de um clube de Primeira Divisão e quando acordei já não era. Isto porque houve uma influência de um grande clube português que mudou tudo. Não sei como funcionam as coisas hoje, penso que não é tanto assim, mas pronto. Acabei por não chegar a sair de casa…
BnR: Não chegou a sair de casa?
RF: Não, porque tinha estado a conversar com esse presidente. Estávamos prontos e marcámos reunião para o dia seguinte na cidade desse clube. Preparei-me para ir, mas antes de arrancar recebi um telefonema a dizer que já não ia acontecer porque alguém de um clube grande influenciou no sentido em que fosse alguém afeto a esse clube, e depois nunca mais. Andei pela Segunda Liga vários anos, andei pela Segunda B vários anos, e subi de divisão. Foi interessante e ajudou-me a preparar-me para aquilo que sou hoje.
BnR: Então, já perdeu mesmo o foco em Portugal?
RF: A minha ambição neste momento é o estrangeiro. Tenho foco para o Médio-Oriente, mas não quero treinar até aos 90 anos.
BnR: Como treinador principal, já passou por diversos clubes. Destacam-se algumas passagens, entre as quais as que fez pelo CD Santa Clara e pelo GD Chaves. Qual foi o clube onde se sentiu mais acarinhado como técnico principal?
RF: Fui muito bem recebido nos Açores, as coisas correram bem porque aquilo estava difícil e nós endireitámos o barco. Também gostei muito de estar em Penafiel… Praticamente, não tenho um clube onde diria assim: “Não fui bem tratado”. Em todo o lado é igual: se ganhamos estamos bem, se não, estamos mal. Mas, na essência, fui bem tratado em todos os clubes por onde passei.
BnR: É de Setúbal, passou muitos anos no clube como jogador. Hoje o Vitória, o seu clube do coração, vive momentos mais complicados. Esperava esta queda tão aparatosa?
RF: Estamos a falar do clube do meu coração, só tenho um clube: Vitória FC, e são 48 anos de sócio. Foram treze anos a jogar no clube e sou um dos jogadores nascidos em Setúbal que mais jogos fizeram pelo Vitória. O Vitória fez-me chorar e fez-me rir. O atual Vitória está muito longe dos tempos que vivi e que colegas meus viveram. Ainda vai levar algum tempo, mas acredito e confio que vamos ver o Vitória no sítio onde merece. É uma cidade grande e o Vitória faz parte da vida da cidade. Agora, acho que ainda vou ver o Vitória no lugar que é dele, ou seja, a Primeira Liga. Fácil? Não é. E ainda me vem uma lágrima ao canto do olho quando falo com colegas sobre o estado atual clube. Infelizmente é assim…

BnR: Acha que o clube ainda se vai reerguer? Gostava de um dia voltar para ajudar o clube de alguma forma?
RF: Todo o vitoriano quer ajudar o Vitória. Agora, se me perguntas se eu me vejo a treinar o Vitória FC? Não me vejo de tudo. Não se pode dizer “nunca”, mas neste momento não me vejo a treinar o Vitória. Vejo-me como adepto do clube e a pagar as minhas quotas. Mas o futuro a Deus pertence.