«Objetivo passa pelo tricampeonato do Girabola com o Petro Luanda»- Entrevista BnR com Alexandre Santos

    Alexandre Santos é o atual treinador de futebol do Petro de Luanda, campeão do Girabola e recente vencedor da Supertaça de Angola. O técnico foi um dos elementos presentes no primeiro ano da Liga Revelação, tendo orientado o Estoril-Praia e o Sporting CP, na competição. O Bola na Rede teve o prazer de o entrevistar pela segunda vez em pouco tempo e abordar a sua carreira, na Europa e em África.

    «OPORTUNIDADE DE TREINAR NA SEGUNDA LIGA FOI UM GRANDE DESAFIO»

    Bola na Rede: Alexandre, foi adjunto de Daúto Faquirá e José Peseiro durante algumas temporadas, passando por várias realidades durante esses anos. Como foi a passagem para treinador principal?

    Alexandre Santos: Não foi algo premeditado ou com uma lógica planeada. Foi algo que aconteceu com naturalidade, foi mais a questão de ter acontecido no momento que também sentia dar a mim próprio, aos meus interesses, à minha motivação, a possibilidade de crescer a outros níveis. Eu fui treinador principal muitos anos nas camadas jovens do FC Alverca, em que já tínhamos uma equipa bastante profissional ou próximo disso, mas na verdade nunca tinha sido treinador principal em seniores e quando apareceu o convite do Real Massamá, que estava na Segunda Liga nessa altura, surgiu no momento em que eu não estava a trabalhar, ou seja, tínhamos saído do Dubai, mais concretamente do Sharjah FC, já ia com oito temporadas seguidas com o José Peseiro. Estávamos bem, não havia nenhum problema que me fizesse pensar que tinha que dar este passo, simplesmente a proposta e o desafio, principalmente o desafio, de pegar numa equipa da Segunda Liga, com muitas dificuldades pontuais, porque estava em último, motivou-me e deu-me aquele impulso intuitivo de querer voltar a sentir o gosto de ser o que é ser principal, que não é o mesmo que ser adjunto. Não vejo incompatibilidade de ser ao longo da carreira ter as duas funções em períodos distintos. Eu analiso projetos e desafios e o projeto do Real foi suficientemente apetecível para eu dar este passo. Estava bastante motivado para um novo desafio que iria aparecer na carreira do José Peseiro para ser adjunto, mas este desafio mexeu com as saudades que tinha de liderar uma equipa técnica. Já não o fazia desde 2004 ou 2005. A oportunidade de treinar na Segunda Liga, mesmo numa equipa mal classificada, foi um grande desafio, que gostei muito, embora não tenha tido o sucesso desportivo, não me arrependi absolutamente nada.

    Bola na Rede: Passou pelas equipas Sub-23 do GD Estoril Praia e do Sporting CP. Quais foram os benefícios de passar por um escalão que tinha sido criado há relativamente pouco tempo? Quais as vantagens para o futebol português da existência da Liga Revelação, na sua visão?

    Alexandre Santos: Isso foi um desafio muito interessante, porque eu não me via após o Real SC e após ter definido que não ia continuar em Massamá, juntamente com as pessoas do clube, a assumir um desafio assim. Queria logicamente, como qualquer treinador, continuar a carreira numa liga profissional, mas não houve nenhuma oferta que me cativasse. Tive uma situação em Itália, com uma equipa da terceira divisão, mas quando visitei o clube e quando me apercebi das condições do clube não me agradou o suficiente e não aceitei esse desafio de ser treinador principal no estrangeiro, pela primeira vez na minha carreira. Quando o Pedro Alves (n.d.r. na época, diretor desportivo do Estoril), grande amigo meu, me convidou para ser treinador dos Sub-23, que já estavam em competição, no primeiro ano da mesma, em 2018, o Estoril mudou uma série de questões da equipa Sub-23 e gostei do desafio do Pedro. O Pedro era uma pessoa que já me desafiava bastante para outros projetos, até porque foi um retornar em casa, porque já tinha treinado o Estoril com o Daúto Faquirá e acabei por incorporar a equipa de Sub-23. Dois ou três meses, rumei ao Sporting, para os Sub-23, porque a equipa B não existia e fiz uma época de Liga Revelação. Achei que, como a Liga estava no primeiro ano, existia uma incógnita muito grande do que ia ser, mas já tinha a noção, das conversas que existiam com treinadores, com o mister José Couceiro, já que era o Diretor Técnico, para mim sem dúvida nenhuma, com a implementação e com a lógica que ele quis dar a esta competição, pareceu-me muito bem conseguida, extraordinariamente importante para o futebol português e principalmente para aqueles jovens entre os 18 e os 22 anos que não têm grandes hipóteses de competir e perdem carreiras e continuidade de carreiras após saírem dos juniores. Têm ali um espaço muito interessante. Há jogadores de Primeira Liga ou em contextos altíssimos que só tiveram hipóteses de chegar a esses patamares devido à Liga Revelação. Por exemplo, no Estoril tínhamos o João Basso, que quis continuar nos Sub-23, já que o Estoril não o queria na A. Fez uma carreira a pulso e a verdade é que neste momento é um dos jogadores mais credenciados e um dos centrais mais fortes. O outro atleta que quero mencionar é o Matheus Nunes que não jogava com frequência nos A e vinha aos Sub-23 com frequência. O Matheus Nunes foi comigo jogar contra o Sporting, à Academia Cristiano Ronaldo. Ganhámos 1-0 e curiosamente o atleta até fez o jogo na posição que não era a dele, mas podia desempenhar várias posições, fez a médio esquerdo, depois passou para médio centro e em seguida a segundo avançado e tive a oportunidade de transmitir ao Sporting, quando me perguntaram sobre ele, que o Matheus era um jogador muito interessante para o Sporting. Contrataram-no em janeiro e ele voltou para o pé de mim. Há muitos outros exemplos que aproveitaram a Liga Revelação. Continua a ser uma liga muito interessante, de jovens potenciais valores, com muito crescimento para o futebol, porque, no fundo, há uma ligação entre ser júnior e ser sénior de alta competição, algo que é importantíssimo.

    Bola na Rede: Antes de viver a aventura no Petro Luanda esteve no Alverca, onde conseguiu bons resultados, por uma equipa que foi inclusivamente à fase de subida. Porque acabou a sua ligação com o Alverca (estava em segundo lugar na altura da saída)?

    Alexandre Santos: Eu voltei ao Alverca por dois motivos, primeiro, porque o projeto era extremamente apetecível do ponto de vista desportivo, económico, do ponto de vista das condições que me davam para ser treinador profissional e em segundo, o lado emocional, regressar ao clube que foi claramente o que mais me marcou, porque estive 10 anos da minha carreira a ser treinador do Alverca. O presidente do Alverca, da instituição, uma pessoa que eu estimo muito e que falamos ainda hoje e em seguida o investidor, no fundo as pessoas que estavam na SAD do Alverca, cativaram-me e foi muito fácil chegar a um acordo. Claro que o meu objetivo era fundamentalmente e única e exclusivamente subir de divisão. A minha intenção não era só porque era interessante ou porque era o clube da terra. Era porque era isso tudo e porque queria subir à Segunda Liga e tinha condições para tal. Veio o Covid, tínhamos uma série de vitórias de janeiro até março e depois fechou tudo. No final da época ainda pensávamos que íamos jogar para disputar a subida, pois tínhamos possibilidades de a disputar, mas a Federação decidiu subir administrativamente o Arouca e o Vizela, porque eram as equipas que tinham mais pontos na altura. Em seguida começou a nova época, tínhamos quase tudo vitórias até novembro, tivemos um grande azar, uma infelicidade muito grande, porque vimos falecer um jogador em campo, que foi um momento muito marcante para todos e para mim, pessoalmente. Abalou muito o grupo, mas nós tínhamos consciência que a vida tinha que continuar, mas não é uma situação fácil, acontecer aquilo que aconteceu, toda a gente presenciou na altura, a infelicidade do nosso jogador e querido Alex Apolinário. Porém, a saída nãos e deve a isso. A mim, o que me disseram na altura, é que se tinha que mudar alguma coisa, achavam que certos pontos não estavam de acordo com os objetivos. Eu acho que do ponto de vista de resultados era indiscutível que isto não era uma razão. Ao momento não tenho a certeza, mas até há bem pouco tempo, eu era o treinador com maior percentagem de vitórias no Alverca nos últimos cinco anos, desde que o Alverca tem intenção de subir de divisão para a Segunda Liga. Já teve vários treinadores e eu tinha uma percentagem de vitórias muito alta, era derivado dos jogadores, do trabalho que se fazia. Simplesmente no futebol quando as partes não estão bem devem falar uma com a outra e cada um ir para onde deve ir. Eu fui para casa descansar, a 31 de janeiro. Não é fácil emocionalmente despedido em lado nenhum, mas principalmente no Alverca foi difícil, porque tive uma conversa com o Arthur Moraes que era o diretor geral da SAD e o Arthur não foi capaz de me dizer nada que justificasse ou que era evidente algum problema, alguma incompetência ou algum problema. Na verdade, tínhamos perdido o último jogo em Santarém e talvez isso fez questionar muita coisa que até aí não tinha sido questionada. Para o presidente do Alverca, que estava na reunião, fez questão de estar na reunião, sei que foi um momento difícil, para mim também, isso faz parte. Tenho mais de 20 anos disto e faz parte.

    Petro de Luanda, equipa de Alexandre Santos contra Estrela da Amadora.
    Fonte: Luis Batista Ferreira/ Bola na Rede

    «DEI O MEU PRIMEIRO TREINO E PASSADOS 12 DIAS ESTÁVAMOS A JOGAR A LIGA DOS CAMPEÕES»

    Bola na Rede: Como surgiu o convite para rumar ao Petro de Luanda?

    Alexandre Santos: O convite é muito simples. Eu tinha um ex aluno da Escola Superior de Desporto de Rio Maior e um preparador físico que tive no Alverca, que estavam na equipa técnica do Petro de Luanda, na época 2020/21, que é a época em que saí do Alverca. Era a única coisa que me ligava ao Petro, porque sabia que eles estavam lá, que estavam num projeto liderado pelo Bruno Vicente, que é um fator importantíssimo. O Bruno Vicente tem muita experiência, esteve no Recreativo Libolo e ganhou quatro campeonatos em Angola e antes não tinham ganho nada. Tiveram treinadores portugueses, por 2014 e 2015. Sabia que existia o Recreativo Libolo, que já tinha sido treinado por um amigo meu, tive um jogador no Alverca, o Carlitos, que já tinha passado pelo Recreativo. Sabia que o Petro e o 1º de Agosto eram as equipas referência de Angola, eram as únicas coisas que sabia. O Bruno Vicente estava a liderar o clube do ponto de vista da coordenação e da direção técnica desde março e estava a montar uma estrutura para atacar as várias competições na época seguinte. Uma pessoa, um empresário que conheço há muitos anos, contactou-me e perguntou-me se eu estaria interessado. Não era o meu objetivo ou a minha lógica de carreira vir para África, pelo menos naquele momento, mas não iria recusar só por si, independentemente do país que fosse. Ando há muitos anos por vários países e sei que isto é assim, às vezes para uns, outras vezes para outros, nuns continentes para uns, noutros continentes para outros. O Bruno entendeu que deveria apresentar-me o projeto e uma proposta, uma proposta interessante. Pareceu-me muito motivante vir para uma equipa que queria ganhar títulos, era o ponto mais interessante. Pela primeira vez como treinador principal poderia ganhar títulos. O Petro queria ser campeão, já não era desde 2010, com o colega e amigo Bernardino Pedroto. Tinha vencido a taça duas ou três vezes, mas já não ganhava o Girabola há muitos anos. O Petro é o clube mais titulado do Girabola. Acho que foi fácil de aceitar porque, apesar de não estar a pensar que seria o próximo passo a seguir ao Alverca, mas era um clube que me podia dar oportunidade de ganhar títulos e aceitei. No dia 26 de agosto rumei a Luanda. A época começou mais tarde devido ao Covid. Dei o meu primeiro treino a 27 de agosto e passado 12 dias estávamos a jogar para a Liga dos Campeões, foi tudo muito rápido. A equipa estava na mão para fazer o que queríamos, mas foi pouco tempo de preparação. Tínhamos logo um desafio muito grande, nas equipas que estão na Liga dos Campeões, que é tentar chegar à fase de grupos, com muito pouco tempo de treino. Era entrar e ter que estar pronto para jogar. Correu muito bem, fomos fazer uma grande época, a nível da Champions a melhor de sempre do Petro, a segunda vez que o emblema chegou às meias finais. Foi uma história muito bonita, ganhámos tudo, menos a Supertaça. Só uma equipa do Petro em 2001, que era uma grande equipa, nos conseguiu igualar. Nas minhas melhores perspetivas não acharia que seria tão bom assim, mas o futebol tem essa beleza.

    Bola na Rede: Sente que o Petro de Luanda é neste momento a equipa número um de Angola?

    Alexandre Santos: O que eu sei é que estou num clube que me satisfaz bastante do ponto de vista das condições que me dá, temos condições garantidas e planeadas, com uma equipa técnica, um staff técnico e um coordenador técnico, juntamente com uma equipa de apoio que é fantástica. Há pontos que efetivamente são de um nível muito mais alto do que aquilo que se possa pensar quando se fala de futebol africano. Os jogadores receberam esse tipo de exigências e lógica. Foram atrás do que queríamos, queriam muito ganhar. Tinham perdido o campeonato anterior na última jornada, contra o Sagrada Esperança e isso foi algo muito marcante para eles. Depois foi só irem atrás do que se pretendida num clube desta dimensão. Se é o numero um ou dois, isso é relativo, a verdade é que temos mais títulos, nos últimos dois anos fomos sem dúvida alguma a melhor equipa, em títulos e futebol apresentado. Há equipas que estão menos bem, como o 1º de Agosto, que é o grande rival, muito poderoso a nível nacional, mas não está bem no ponto de vista da gestão desportiva, o que acontece em todo o lado, como em Portugal. É uma questão de fases. O 1º de Agosto durante alguns anos ganhou tudo e agora estamos nós nessa posição, e ainda bem. Para mim o Petro de Luanda é o número um devido aos resultados.

    Bola na Rede: Qual é a sua relação com os adeptos, após a dobradinha?

    Alexandre Santos: É uma relação muito parecida com o futebol em qualquer lado. O futebol é paixão, emoção, quando se perde um jogo, mesmo contra o Wydad AC, uma das melhores equipas africanas, ficam tristes e assobiam e dizem mal, porque é normal nos adeptos. Quando ganhamos, todos dizem bem, no fundo há de tudo um pouco, como em todo o lado. É algo muito interessante, há uma relação muito natural e o futebol é festa, essa é a essência. E se é festa o que interessa é o golo e por vezes, mais do que o golo, é o drible, é o colocar o adversário do chão, é o massacrar, é o fazer túneis, cabritos, passar a bola por cima do adversário, isso é que eles vibram completamente. Houve em alguns momentos alguma dificuldade em perceberem o nosso tipo de jogo, algo mais controlado, menos rápido do ponto de vista das transições, mais organizado, mais pensado. O futebol angolano é baseado em velocidade, em transições, em muitos momentos de velocidade pura. Os jogadores adoram fazer esse tipo de movimentos, de tomar esse risco muito grande, quer a defender, quer a atacar e o nosso jogo não era assim. O treinador nunca quer um jogo desorganizado. Houve momentos em que os adeptos não entendiam o nosso estilo, não olhavam para ele como algo verdadeiramente positivo. Tivemos que conquistar os adeptos, com muita vitória e hoje em dia já percebem muito melhor o nosso estilo. Para se ter a consistência que tivemos nas últimas duas épocas, com 75% de vitórias, 75% ou 76% de pontos conquistados, não se pode pensar que se conquista tanto ponto internamente e se consegue fazer jogos na Liga dos Campeões contra equipas do norte de África com um futebol de puro risco, não dá. Pelo menos na minha opinião. É o meu dever enquanto treinador fazer com que os jogadores acreditem em mim e eles têm acreditado.

    Equipa de Alexandre Santos
    Fonte: Luis Batista Ferreira/ Bola na Rede

    Bola na Rede: Há cerca de um ano deu uma entrevista ao Bola na Rede onde revelou que havia o desejo de vencer a Liga dos Campeões Africana, mas que teria que existir um desenvolvimento do clube. Acha que está mais perto desse objetivo?

    Alexandre Santos: Pelo contrário, assumo a não candidatura. Nunca assumi a candidatura, mas sim que uma equipa como a nossa e com os nossos jogadores faziam-me acreditar que tínhamos condições para fazer uma grande época na Liga dos Campeões, mas tal como na UEFA, há equipas que acham que a vão fazer e não passam da fase de grupos, assim como acontece o efeito contrário. Veja-se o caso do Benfica, podia ter chegado à meia final em 2022/23. Ou até mesmo o Inter de Milão, que chegou à final, não fazendo um grande campeonato. Não havendo em África tantas equipas a lutarem ou condições para lutarem pelo título, nós apresentámo-nos como uma equipa do sul de África, juntamente com o Mamelodi Sundowns FC, campeão da África do Sul, com a capacidade de entrar naquela lógica de disputa de algo. Não digo do título, porque para vencer um título tem que se ganhar todos os jogos, ou todas as eliminatórias, mas conseguimos disputar os jogos e tivemos a sensação disso. Podíamos disputar qualquer jogo, com as nossas armas, com as nossas limitações, mas com as nossas forças poderíamos disputar qualquer jogo. Queríamos ir novamente para a Liga dos Campeões com essa tentativa e em 4 jogos de eliminatórias, fomos a melhor equipa, marcámos golos, sofremos zero golos, e ganhámos todos os jogos. Algo que não é habitual, é ganhar fora na Liga dos Campeões e nós apresentámo-nos como uma equipa que tinha as mesmas condições fora e em casa, em termos de jogo jogado. A verdade é que entrámos na fase de grupos se calhar convencidos, mas claramente convictos de que conseguíamos passa-la, porque éramos pela primeira vez na história do Petro parte do pote número 2. No grupo tivemos uma equipa claramente acima do ranking, o Wydad AC. Era o campeão de África. Porém, não apanhámos mais nenhum tubarão, éramos nós o segundo tubarão do grupo. Isso não nos beneficiou, porque assumimos que tínhamos que ser dominadores em todos os jogos. Fomos durante os jogos, mas somente ganhámos duas partidas e perdemos três. Perdemos dois deles nos últimos minutos a querer desalmadamente marcar e acabámos por perder. Isso levou-nos a não passar do grupo. Esse foi o momento mais difícil da época, porque queríamos fazer uma grande temporada e tínhamos condições para ir aos quartos de final e disputar qualquer jogo e com qualquer equipa. Neste momento, queremos andar a estes níveis, entrarmos nas melhores 16 equipas de África e depois de a atingirmos tentarmos algo mais, mas não podemos nunca, porque não temos o orçamento das melhores equipas do Norte de África, porque o nível não tem comparação, pensar em vencer. O Petro nunca ganhou uma competição internacional em futebol. É impossível querer assumir certos objetivos, porque as equipas que existem têm cinco, seis, sete vezes o nosso orçamento, mesmo que tenhamos vontade de ganhar e trabalhemos para isso. Não é benéfico assumir o objetivo de ganharmos para nós equipa, porque é uma responsabilidade que não devemos ter. Esta época já conseguimos alcançar a fase de grupos e objetivo passa por olhar jogo a jogo para o que podemos fazer. Quem nos dera que o Petro conseguisse durante anos e anos estar além da fase de grupos, conseguir ir além da fase de grupos, porque conseguir esse objetivo é estar com a elite, nas melhores 8, nas melhores 4. Conseguimos no primeiro ano, no segundo ficámos a um ponto e a um golo de passar da fase de grupos. Quem imaginaria que íamos eliminar o Zamalek do professor Jesualdo Ferreira, tivemos qualidade e uma pontinha de sorte, mas isso também acontece no futebol. Os nossos adeptos estão tão contentes com a nossa prestação que entendem que temos que vencer tudo. Nós queremos vencer todos os jogos, mas sabemos que do outro lado também existem equipas com o mesmo desejo.

    «VITÓRIA NA SUPERTAÇA FOI MUITO IMPORTANTE PARA NÓS»

    Bola na Rede: A época começou bem com a vitória na Supertaça de Angola. Que significado tem este triunfo?

    ALEXANDRE SANTOS: Foi uma vitória importante para nós, o jogo foi muito difícil devido à qualidade do adversário e serviu também de aviso para o que vamos encontrar no Girabola. Queremos fazer boa figura nas competições internacionais, mas o nosso grande objetivo para esta temporada passa pela conquista do tricampeonato. Já o assumimos, queremos voltar a fazer história. Há quase 30 anos que o Petro não ganha três campeonatos consecutivos.

    Bola na Rede: Recebeu durante este mercado o Jonathan Toro. Não é muito normal vermos um jogador que é um valor seguro em Portugal a rumar ao Campeonato Angolano. Considera que pode ser uma movimentação que se irá fazer mais vezes?

    Alexandre Santos: Considero que o Petro, presidente, direção, eu e o Bruno Vicente sabíamos que temos de ter, para ganhar pela terceira vez consecutiva o Girabola, para ganhar a quarta vez consecutiva a Taça de Angola, para fazer uma boa representação internacional, que temos feito e por isso fomos convidados para a Superliga Africana, onde só participam as oito melhores equipas do ranking, para estarmos em todas as frentes, temos que ter plantéis mais fortes do que tínhamos antes. Para isso temos que conseguir cativar os melhores jogadores possíveis e o Jonathan Toro enquadra-se nisto. Conseguimos chegar a ele pela mais valia das competições internacionais, que dão visibilidade aos jogadores. Tínhamos o ano passado jogadores como o Gleison, o Soares, o Pedro Pinto e o Tiago Azulão. Somente o último não esteve em Portugal. Estes são os nossos estrangeiros (n.d.r. Alexandre Guedes assinou com o Petro de Luanda, antes do final de mercado). O Jonathan Toro veio ocupar o espaço de um atleta que foi para o Bahrein, com um contrato muito interessante certamente, porque fez uma excelente Liga dos Campeões. Esta visibilidade por vezes não é entendida na Europa. O Toro já deve ter ouvido falar do Petro de uma maneira como nunca tinha ouvido antes. Depois os jogadores falam um com os outros, como se trabalha, como se vive em Angola, como se recebe e estes fatores são importantes para um jogador decidir vir para Angola, numa decisão tomada junto com a família. Depois temos muitos angolanos que já jogaram em Portugal e vieram para o Petro para terem a oportunidade de serem campeões no seu país, voltarem à seleção, algo que aconteceu.

    Bola na Rede: Recentemente Pedro Bondo transferiu-se para o Sporting. Quais são as suas principais caraterísticas?

    Alexandre Santos: O Pedro Bondo é um jovem jogador que tem muito poucos anos de futebol. Se há talentos que advêm do que jogaram na rua e no bairro, o Pedro Bondo é um deles. Precisa de aprender muita coisa e espero que no Sporting tenha espaço para aprender. O empréstimo foi muito bem conseguido. Eu dei o aval, juntamente com as pessoas que tinham que dar o seu parecer, em relação a esse empréstimo. Foi um dos jogadores mais vezes titular na nossa equipa. Jogou duas Liga dos Campeões seguidas. Tem todo o talento e capacidade para ser um defesa esquerdo do futebol moderno. Tem muita potencia muscular, quer no um contra um ofensivo, quer no um contra um defensivo. Neste último ponto é muito forte. Taticamente foi melhorando nas últimas duas épocas. Ele tem 3 épocas e meia de futebol profissional. Não estamos a falar de um jogador com seis ou sete épocas de futebol. Ele teve que mudar alguns pontos para acompanhar as nossas exigências nos processos, principalmente no momento defensivo. Ofensivamente tem muito boas caraterísticas, tem qualidade técnica e tem um grande potencial físico para a posição, não sendo muito alto, é um atleta que tem as caraterísticas que muito se gosta no futebol atual, um lateral que sobe muito bem, que é muito rápido. Penso que ele poderá, se tiver capacidade de responder positivamente aos novos desafios, chegar longe.  Em Angola ele já era um dos melhores defesas esquerdos, poderá ser o futuro lateral esquerdo de Angola. Pode ser uma grande valia para o Sporting no futuro.

    Pedro Bondo reforça Sporting
    Fonte: Sporting CP

    Bola na Rede: Para finalizarmos, qual é o futuro de Alexandre Santos? Gostaria de voltar a Portugal?

    Alexandre Santos: Não querendo ar uma resposta típica, do fala-se e não se diz nada, por respeito ao Petro, o meu futuro neste momento é aqui, eu renovei. Nunca quis renovar por mais de uma época, porque achei sempre que queria estar ligado ao presente e não a pensar em estar aqui três, quatro, cinco anos. Posso daqui a um mês ou dois não estar. A intenção não é essa e daqui a um ano espero ter contrato profissional num bom clube. Se for o Petro, assim será, por minha opção e por opção do clube. Se não aqui, que seja um excelente clube que me possa dar os mesmos desafios e condições que o Petro me deu. Gosto muito de trabalhar aqui, com esta equipa, com este clube e desta maneira em que trabalhámos e que  limámos. Temos uma sintonia muito interessante, mas as histórias do futebol têm um principio e o fim. Voltar a Portugal? Sinceramente não sei. Se gostava? Quem é que é o português que não gostaria de voltar para se fazer o que mais gosta? Eu não estou centrado nisso, eu sei que a minha carreira tem que ser construída com passos bem dados, algo ditado pelos resultados. Quando vim para Angola não sabia que ia ser um bom ou mau passo, mas foi um passo decisivo, não tenho dúvidas nenhumas. Queremos sim fazer uma boa época este ano. Logicamente tive abordagens, o Petro já teve abordagens diretas de alguns clubes para eu sair e a instituição tem feito tudo para me fazer sentir bem aqui, logo estou aqui um pouco por causa disso. Quando este caminho chegar ao fim, espero poder continuar a minha carreira e continuar a fazer o que mais gosto. Se for possível poder ganhar títulos melhor, as vitórias são muito agradáveis para uma carreira.

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