«Cheguei a ter conversas com o SC Braga, mas foi com Vitória SC que as coisas andaram» – Entrevista BnR com Douglas

– Da glória na Taça com Rui Vitória ao temperamento de Sérgio Conceição –

«Houve contactos com a AS Roma e uma proposta do Real Bétis, mas acabou por não dar certo»

BnR: E a tua primeira época como titular é histórica: ganhaste a Taça de Portugal. Para começar, qual foi a diferença do Manuel Machado para o Rui Vitória?

Douglas: É totalmente diferente. Nós somos todos diferentes, ninguém é igual. O Rui Vitória é um motivador nato, nunca o vi a reclamar de nada, bem pelo contrário. Já o professor [Manuel Machado] é uma pessoa mais tranquila, com muita experiência, muitos anos de vida no futebol. São estilos de liderança diferentes, mas trabalhei muito mais tempo com o Rui Vitória, é normal que tenha um apreço maior por ele, mas quem me trouxe para o Vitória SC foi o Manuel Machado, que é uma pessoa a quem devo muito, senão não tinha vindo.

BnR: O que te lembras da caminhada até à final? Que jogos destacas?

Douglas: Foram os quartos de final contra o SC Braga. Ganhámos 2-1 em Guimarães, com dois golos do Barrientos. Esse jogo foi a prolongamento e foi, junto com aquela exibição no Dragão, uma das melhores que fiz no Vitória SC.

BnR: Chegamos, então, à final. Como foi apanhar um SL Benfica tão desmoralizado depois de perder o campeonato e a Liga Europa nos últimos minutos?

Douglas: É assim, eles tinham perdido o campeonato, mas eram uma equipa poderosa, jogavam com uma intensidade alta, agressivos na reação à perda da bola, bolas paradas muito bem definidas. Era uma equipa muito boa e potente. Mas também sabíamos que qualquer coisa boa que fizéssemos teria um peso maior nessa altura devido a esses resultados negativos e acabou por acontecer isso: eles começaram a ganhar com um golo que não esperavam, num ressalto, mas depois nós fizemos dois golos em três minutos…

Douglas
Douglas foi titular na final da Taça de Portugal de 2012/2013, que o Vitória SC conquistou frente ao SL Benfica
Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

BnR: Com o avançar do tempo e com o passado do SL Benfica na altura, cada vez ganhavam mais motivação?

Douglas: Como marcamos o primeiro golo e o segundo foi logo a seguir, eles não tiveram tempo de reagir. Quando eles pensaram em reagir já tinham sofrido o segundo golo. E aquela equipa do Rui Vitória tinha uma raça absurda e nós sabíamos que tínhamos de correr e lutar, mas quando fizemos o 2-1 sabia que dificilmente perderíamos aquele jogo.

BnR: Depois dessa final começaram a surgir propostas para ti…

Douglas: Certo. Nesse ano da Taça, aconteceu uma coisa curiosa, mas não chegou a ser uma proposta porque, naquela altura, ainda não tinha o passaporte português: o meu empresário teve uma conversa com a AS Roma. Mas isso nunca veio a público porque não houve proposta, mas foi uma coisa que me deixou feliz, já era um nível diferente que estava a olhar para o meu trabalho. No ano a seguir tive uma proposta do Real Bétis, mas são pequenos detalhes que não dão certo e nem percebemos porquê e, na altura, acabou por não dar certo. Depois tive outros, da Turquia, o Trabzonspor, do Brasil, também chegámos a falar com o Grêmio, mas no final continuava sempre aqui e continuei em Guimarães.

BnR: E nunca houve o interesse de nenhum dos grandes?

Douglas: Houve algumas conversas com o meu empresário, mas nunca chegou a concretizar-se. Mas também, nesse tempo, sempre tiveram bem servidos, com excelentes guarda-redes: o Sporting CP teve o Rui [Patrício] durante muito tempo, o SL Benfica tinha Oblak, Artur, Ederson, Júlio [César]… No FC Porto havia o Hélton, depois foi o Iker [Casillas]. Sempre estiveram bem servidos, não era tão fácil.

Douglas
Douglas com o troféu da Taça de Portugal, conquistado pelo Vitória SC em 2012/2013
Fonte: Facebook Douglas

BnR: A época seguinte foi muito mais complicada para o Vitória SC: caíram nas primeiras fases de todas as Taças e no campeonato acabaram em 10.º…

Douglas: A verdade é que naquelas duas épocas – a da Taça e a seguinte – o clube estava com muitas dificuldades financeiras. Então para gerir a montagem do plantel não foi fácil e isso via-se em campo. É difícil porque é um clube enorme, com uma exigência grande, que merece ir à Europa todos os anos e espero que consiga isso nos próximos anos. Sabemos que é difícil, mas já consegue ter equipas tecnicamente melhores que nessa altura. Acho que foi por aí, porque às vezes há grandes investimentos que não dão certo, mas naquela altura as dificuldades eram grandes. Não foi fácil…

BnR: Foi nessa altura que os adeptos invadiram a vossa academia de treino?

Douglas: [Risos] Não. Houve duas vezes: a primeira foi no primeiro treino do Rui Vitória, quando ele foi apresentado aconteceu isso. Mas no fundo entendemos, eles são apaixonados, o que interessa é o Vitória SC ganhar e é uma forma deles mostrarem o amor e carinho que têm pelo clube. Mas agora acho que não vai voltar a acontecer.

BnR: Depois o Rui Vitória foi para o SL Benfica e chegou o Sérgio Conceição, que tem um estilo mais…

Douglas: Diferente.

BnR: Sim, diferente. O que é que mudou para vocês?

Douglas: Mudou tudo, não tinha nada a ver. Foi como quando mudou do professor Manuel Machado para o Rui [Vitória], também mudou do Rui para o Sérgio. São pessoas totalmente diferentes, mas todos excelentes treinadores. A história mostra isso, com o que têm alcançado. Passados os anos, vejo que serviu de muito essa experiência para a minha vida enquanto jogador. Aprendi muita coisa e vai servir muito para esta área que estou a trabalhar. Aprendemos sempre com os treinadores: o que serve, agarramos. O que não serve, deixamos passar.

BnR: Foi difícil lidar com o temperamento dele?

Douglas: Não foi fácil… Mas, com a experiência, conseguimos perceber e ele é assim porque é a forma que ele encontra para ganhar, para tirar o melhor de cada um. Alguns gostam, outros não mas, no fundo, o que ele quer é ganhar. Essa é a verdade.

BnR: Vias nele um treinador que conseguia ser campeão noutro contexto?

Douglas: Eu acho que sim. É o que eu digo: ele agora está a treinar uma equipa em que o poder financeiro é totalmente diferente e isso faz a diferença. Ele, sendo o bom treinador que é, claro que, quanto mais qualidade humana tiver, claro que vai brigar por melhores coisas.

João Reis Alves
João Reis Alveshttp://www.bolanarede.pt
Flaviense de gema e apaixonado pelo Desportivo de Chaves - porque tem de se apoiar o clube da terra - o João é licenciado em Comunicação e Jornalismo na Universidade Lusófona e procura entrar na imprensa desportiva nacional para fazer o que todos deviam fazer: jornalismo sério, sem rodeios nem complôs, para os adeptos do futebol desfrutarem do melhor do desporto-rei.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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