«Cheguei a ter conversas com o SC Braga, mas foi com Vitória SC que as coisas andaram» – Entrevista BnR com Douglas

– A defesa heróica em Chaves e o regresso ao Jamor –

«Se vires os penáltis do Braga, 90% foram para a direita. Eu só queria que fosse ele a agarrar na bola naquela hora»

BnR: O Conceição acabou por sair, entrou o Pedro Martins e vocês fizeram mais uma época espetacular…

Douglas: Exatamente. Mudou da água para o vinho, foi totalmente diferente. O Pedro também é um treinador fantástico, com uma forma de liderar totalmente diferente, mas um treinador que gosta de ganhar e, agora, é só ver para onde foram para se perceber a qualidade que têm. É um treinador excelente.

BnR: No campeonato ficaram à frente do SC Braga. Quebraram uma espécie de barreira psicológica com o vosso rival?

Douglas: Não é barreira psicológica. Acho que aquela equipa – ficámos em quarto – podia perfeitamente ter ficado em terceiro. Se for ver os jogos, os jogadores que tínhamos, a forma como jogávamos, foi por detalhes que não aconteceu isso. Naquele ano merecemos ficar à frente, o campeonato que fizemos era merecido e foi o que aconteceu. Era uma equipa que jogava num estilo próprio, adorava ver aquela equipa a fazer transições: três ou quatro toques e estávamos na outra baliza.

BnR: Também nessa época foste herói na meia-final da Taça de Portugal. O que te lembras daquele jogo em Chaves?

Douglas: Lembro-me muito bem. A verdade é que não ia jogar aquele jogo: eu vinha a jogar no campeonato e na Taça jogava o Miguel [Silva]. Só que aquele jogo foi a uma quarta-feira e o Miguel lesionou-se no treino de domingo e eu, naturalmente, acabei por jogar. Uma meia-final da Taça representa muito, ir ao Jamor… Como a cidade de Guimarães viveu aquele dia é uma coisa… Basta ver a festa que fizeram desde Chaves, estava um ambiente muito favorável para nós, estávamos em vantagem no resultado, mas quando começou o jogo, em poucos minutos o GD Chaves  – que também tinha uma excelente equipa –  conseguiu fazer o 2-0 e nós não conseguíamos impor o nosso ritmo normal, não conseguíamos fazer transições…

BnR: Será que entraram demasiado relaxados com o resultado 2-0 da primeira mão?

Douglas: O que aconteceu é que naquela semana, ou na semana anterior, houve paragem para as seleções e nós tivemos um jogo para o campeonato num sábado na ilha [Madeira]. Como houve a paragem, o mister poupou alguns jogadores lá e ficámos muito tempo sem jogar. Lembro-me que o GD Chaves não fez isso, não poupou ninguém. Foi a única coisa de diferente que aconteceu: o tempo sem jogar de alguns. Pode ser bom por um lado, se calhar ficam mais descansados, por outro perdem um bocado de ritmo de jogo. Foram duas semanas sem jogar para alguns. Mas lembro-me que quando marcámos o golo, demos uma respirada e pensámos: «estamos dentro».

BnR: Mas como lidaste com aquele penálti? Como o Braga era o habitual marcador, já tinhas a lição estudada ou foi instinto?

Douglas: Eu já conhecia o Braga da altura em que jogava no Rio Ave FC. Se fores olhar aos penáltis do Braga, 90% foram para a direita. Todos os jogos vemos quem são os batedores e eu só queria que fosse ele a agarrar na bola naquela hora. A probabilidade de ir para o canto direito era grande, mas não sabia se ia ser em jeito ou em força. Ele acabou por bater em força e pronto… Ficou na história. É uma cena que ninguém esquece e vou-te dizer: foi um dos jogos mais emocionantes da minha carreira. Depois do penálti, aqueles minutos finais pareciam que eram mais 45. Foi marcante.

BnR: Na final voltam a encontrar o SL Benfica, mas numa situação completamente diferente de 2013…

Douglas: Era ao contrário. Tinham ganho o campeonato, chegámos lá com alguns dos principais atletas com queixas da época, de dores. Lembro-me do Hernâni, o Rafael Miranda, o próprio Marega… Era uma final, pode acontecer tudo. Claro que sonhávamos ganhar mais uma mas, infelizmente, não deu. O futebol tem dessas coisas…

BnR: Depois destes anos todos, o que podiam ter feito de diferente naquela final?

Douglas: Aquele jogo foi atípico porque, normalmente, não há chuva nas finais e naquele dia parecia que o céu estava a cair, choveu muito. Depois o SL Benfica conseguiu marcar duas vezes num espaço de tempo curto e não é fácil dar a volta numa equipa estruturada como aquela. Se calhar se tivéssemos marcado o golo primeiro… São os detalhes e, nesses jogos, pagam-se caro.

BnR: Na época seguinte, mais um ano complicado para vocês. Porque existe este padrão no Vitória SC de não ser consistente?

Douglas: É difícil de explicar. O que pode afetar esse equilíbrio é que, de uma época para a outra, a equipa perdia jogadores importantes. Também contratava bons jogadores mas, quando há mudanças, há sempre um tempo de adaptação e, às vezes, esse tempo custa caro. Eu acho que passa por aí. Lembro-me que a equipa naquela altura estava muito adaptada ao Marega, ao Hernâni, o Tiquinho saiu em janeiro… Olhas para a carreira desses jogadores e nós não perdemos um qualquer, perdemos jogadores importantes. Acho que é um pouco isso, a equipa consegue fazer uma boa época e na seguinte tenta perder o mínimo de jogadores possível. Não é fácil porque as equipas precisam de vender, mas é o caminho para dar seguimento.

BnR: Achas que a saída do Pedro Martins foi um erro?

Douglas: Não. Naquela altura, não.

BnR: Era preciso algo diferente para o Vitória SC acordar?

Douglas: Acho que sim.

BnR: E José Peseiro foi a mudança que precisavam?

Douglas: O mister Peseiro é muito bom treinador, só que é difícil entrar no decorrer de uma época e leva algum tempo para habituar à ideia dele. Se calhar quando nos estávamos a habituar, terminou a época. Mas o mister Peseiro, pela experiência que tem, com certeza que, com mais tempo, de início juntos na pré-época, seria melhor.

BnR: E o que mudou com Luís Castro? Ele que costuma pensar quase tudo no departamento de futebol?

Douglas: Quando muda o treinador, muda tudo. Adorei trabalhar com o mister Luís Castro, é uma pessoa espetacular, um treinador top. Adorei mesmo. O que gostava na equipa dele é que era difícil marcar-nos golos, era uma forma de defender que, para quem joga na defesa, é muito bom. Então para mim, guarda-redes, sabia que tinha uma linha de cinco ali… Mais um Wakaso no meio que até batia na mãe dele se fosse preciso [risos]. Sabia que era difícil marcar-nos um golo. Se calhar para alguns, a forma de jogar não é tão bonita ou atraente, mas dentro de campo estávamos sempre seguros. Não começámos bem, mas depois foi encontrando os jogadores adequados, acabaram por encaixar e fizemos bons resultados. Se calhar, não tão bons jogos, mas bons resultados.

BnR: Adaptaste-te bem ao estilo dele, que pede muito da capacidade de passe e técnica dos defesas?

Douglas: Eu não tive problema nenhum no estilo de jogo do mister, nenhum mesmo. Foi muito bom, gostei muito de trabalhar com ele. Foi uma época muito boa, até passou rápido [risos].

BnR: Onde pensas que ele pode chegar depois desta meia-final da Liga Europa com o FK Shakhtar Donetsk?

Douglas: Acho que esta oportunidade de ir para o Shakhtar Donetsk é o que ele precisa para crescer, porque o resto ele tem. É só uma questão de chegarem ao pé dele e dizerem: «ele é o treinador». A pessoa, o treinador, a forma de liderar… É muito bom mesmo.

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Flaviense de gema e apaixonado pelo Desportivo de Chaves - porque tem de se apoiar o clube da terra - o João é licenciado em Comunicação e Jornalismo na Universidade Lusófona e procura entrar na imprensa desportiva nacional para fazer o que todos deviam fazer: jornalismo sério, sem rodeios nem complôs, para os adeptos do futebol desfrutarem do melhor do desporto-rei.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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