«Acredito que o Vitória FC vai subir de divisão, com maior ou menor dificuldade» – Entrevista BnR com Zé Pedro

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    Zé Pedro decidiu assumir o seu percurso como treinador-principal e terminar a ligação como adjunto de Silas. Nesta temporada, está a comandar o histórico Vitória FC e tem a ambição de subir à Liga 3. Após garantir o acesso à fase de subida do Campeonato de Portugal, o técnico de 45 anos dá a sua primeira entrevista e reforça a ambição sobre os objetivos do clube de Setúbal ao Bola na Rede.

    «Administração queria uma equipa técnica nova, jogadores novos e lavar um bocadinho o passado recente do Vitória».

    Zé Pedro

    Bola na Rede: Antes de mais, parabéns pelo apuramento já confirmado para a fase de subida do Campeonato de Portugal, Zé Pedro. Ainda faltam três jornadas e por isso pergunto-te: esperavas que esta qualificação fosse atingida de forma tão prematura?

    Zé Pedro: Antes de mais, agradecer o teu convite e um abraço a todos os visitantes do Bola na Rede. Sim, até porque, desde o início em que me foi feito o convite, eu e a estrutura conseguimos planear bem tudo em termos de objetivos. O plantel foi bem construído e acreditei que era possível. Não sei se era a três jornadas do fim, mas acho que não iria ficar para a última jornada. Fomos capazes e conseguimos. Temos uma margem de três jogos para fazer uma gestão das coisas e pensar, de outra forma, sobre o que vem para a segunda fase, a de subida. Dentro do contexto, desde o início e com a construção do plantel, pensei seriamente que não iria, pelo menos, para a última jornada a decidir o apuramento para a próxima fase.

    Bola na Rede: Em termos de objetivos, e quando decidiste aceitar o convite do Vitória FC, o que é que te foi dito? Naturalmente que a questão da promoção estaria incluída, mas sentiste o peso do nome do clube e a pressão de ser favorito para subir à Liga 3 já nesta temporada?

    Zé Pedro: Esta administração quis convidar um ex-atleta. Representei o Vitória com muito prazer durante quatro épocas desportivas, sendo que uma delas até foi na Segunda Liga. Falaram comigo também nesse sentido. Era quase como uma referência, um jogador que tinha passado pela história do Vitória e eles queriam juntar isso também. A queda do clube ao Campeonato de Portugal fez com que todos queiram que o Vitória FC volte rapidamente aos campeonatos profissionais. Iríamos ter um plantel forte para atacar esta época desportiva e tinha mesmo de ser assim. Sou um ex-jogador e referência, vivi dez em Setúbal e isso também foi marcante. Depois, claro, o meu trajeto como jogador e o meu passado como treinador, adjunto e principal, foram fundamentais para a escolha da administração. Queriam uma equipa técnica nova, jogadores novos e lavar um bocadinho o passado recente do Vitória. Queremos tentar, todos juntos, levar novamente o Vitória FC à Liga 3.

    Bola na Rede: Tocaste num ponto importante. A questão das referências e o conhecer o Vitória FC. Esse acaba por ser também um desafio? Ou seja, encontrar novas figuras que se afirmem no clube e, ao mesmo tempo, ter antigas referências como tu para passar um pouco a mensagem daquilo que é o a realidade histórica do emblema?

    Zé Pedro: Acho que é fundamental. Vemos clubes de topo que têm algumas referências como jogadores, diretores… Jogadores que passaram pelo próprio clube e que podem ter deixado marcas. A verdade é que o Vitória desceu e isso era importante. A administração teve isso em consideração comigo, com o próprio Edinho [diretor-desportivo] que está na parte da administração. É cada vez mais importante que estes clubes históricos tenham gente que tenha o seu passado marcado no clube. Agora pede-se que nós possamos dar o exemplo e ir ao encontro da história do clube. O Vitória, apesar de estar no Campeonato de Portugal, é um clube histórico do nosso futebol.

    Bola na Rede: Puxando aqui um bocadinho a fita atrás. Quando decidiste aceitar o convite, quais é que foram as primeiras dificuldades que encontraste? Sentiste algum impacto com alguma realidade que não esperavas?

    Zé Pedro: Enquanto jogador passei imensas dificuldades no clube. Tentei perceber isso, se, nos últimos tempos, o Vitória FC funcionava da mesma forma porque ainda tinha gente que tinha trabalhado comigo na altura e ainda são funcionários do clube. Tentei chegar a eles para perceber como funcionava e como é que tudo estava. Tive um feedback positivo. Apesar da descida de divisão, tem existido um esforço tremendo por parte de toda a administração para que as coisas corram da melhor forma possível. Isso é um lado positivo. Naturalmente, com o meu passado ali, tinha mesmo de perceber se estava na mesma linha ou se tinham direcionado tudo para uma situação muito melhor. E o que aconteceu foi isso, esta administração faz o melhor possível para que as coisas corram da melhor maneira.

    Bola na Rede: A nível pessoal, acreditas que é possível reerguer o Vitória FC e voltar às ligas profissionais em breve. É esse o objetivo que passa na cabeça de toda a estrutura, neste momento?

    Zé Pedro: Não aceitaria o cargo se não pensasse dessa forma. O plantel foi construído por mim e pelo diretor-desportivo. Acredito muito no meu trabalho e acredito seriamente que conseguiu. Juntamente com o que me foi apresentado e com a equipa que poderia ser a do Vitória FC para atacar os objetivos a que esta administração se propôs, senti que foi tudo feito como prometeram. Realçar o papel da administração. Às vezes falam e depois passam duas, três, quatro semanas e as coisas não andam e aqui não foi o caso.

    Bola na Rede: Falas em termos de reforços, correto?

    Zé Pedro: Sim, em termos de reforços, da constituição do plantel para atacar os objetivos. É uma administração nova e tem o objetivo de levar o Vitória novamente para as ligas profissionais. Foi olhar a todo este contexto e as coisas foram preparadas dessa forma. Felizmente, neste momento, já conseguimos atingir um primeiro passo. Mas o objetivo real é a subida de divisão. E na próxima fase não há margem de erro porque é mais curto. Tudo o que foi preparado até ao momento está dentro do que conversámos.

    Zé Pedro Vitória FC
    Fonte: Vitória FC

    «Não acredito que não subamos de divisão. Subimos de divisão e o meu contrato renova».

    Zé Pedro

    Bola na Rede: Agora, tenho duas questões. Uma com uma componente positiva e outra com uma componente negativa. Num cenário positivo para o Vitória, ou seja de subida, queres continuar no clube na próxima temporada? E num cenário negativo, de não subida, achas que o clube pode ficar numa situação muito complicada?

    Zé Pedro: Não acredito que não subamos de divisão, apesar de haver essa possibilidade. Não penso nessa possibilidade. Acredito muito no meu trabalho e no que foi feito em termos de reforços e naquilo que podiam dar ao clube. O desempenho que temos tido tem sido muito positivo. A realidade é que há uma possibilidade, mas não penso nisso. Acredito mesmo que vamos subir de divisão, com maior ou menor dificuldade. Vão estar as oito melhores equipas na segunda fase, mas eu acredito muito. Agora, também quando me falaram no início, sou visto como treinador de futebol. A proposta em cima da mesa é essa: subimos de divisão e o meu contrato renova, tenho isso no contrato. Por isso, serei treinador do Vitória para a próxima temporada. Lá está, é um projeto bem elaborado e a longo prazo. Compete-nos agora dar o melhor e dar continuidade ao que temos feito de bom. O único objetivo é o da subida de divisão. Se as coisas não correrem bem, naturalmente que a administração há de ter um papel a dizer. Mas fica difícil para o Vitória se não subir, sim.

    Bola na Rede: Já tocaste na questão da qualidade do plantel e dos jogadores que tocaram nos parâmetros que desejavas. Vês, a nível individual, jogadores que já poderiam estar noutros patamares?

    Zé Pedro: Sim, sem dúvida. Temos de assumir com humildade e olhar para as coisas como elas são, este plantel é de Liga 3. Todos estes jogadores já competiram nessa divisão. Tudo foi trabalhado com mais um ou outro reforço. Tivemos capacidade também para reforçar o plantel em janeiro para que ficasse mais forte. Depois há ali meninos, entre os 19, 20 e 21 anos, que daqui a dois ou três anos já vão apresentar qualidade para estarem noutros patamares. Eu também tenho tido a capacidade, juntamente com todos, de os potenciar e ir lançando. Eles correspondem a essa mesma chamada. Há ali quatro a cinco jogadores que têm capacidade e, mais tarde ou mais cedo, vão estar na Segunda Liga e, possivelmente, na Primeira Liga. Há outros também muito bons, mas que, pela idade, já não conseguem lá chegar.

    Bola na Rede: Estava aqui a pensar… Daniel Carvalho, Diogo Sequeira, Lourenço Henriques…

    Zé Pedro: Sim, o próprio Tiago Neto também. Jogou e tem estado muito bem. São jogadores que têm correspondido pelo seu talento. O treinador deu-lhes a oportunidade e eles têm cumprido. Acredito que estes quatro jogadores são aqueles que estão mais próximos de chegar a campeonatos de Primeira e Segunda Liga. Acredito que sim.

    Zé Pedro Vitória FC

    Fonte: Vitória FC

    «Não esperávamos a saída do Zequinha. Mostrou vontade em sair e o grupo teve facilidade em aceitar a decisão».

    Zé Pedro

    Bola na Rede: Em relação ainda ao plantel. Há jovens jogadores e depois há jogadores experientes. No entanto, em janeiro, saiu o capitão Zequinha, que teve muito peso nos últimos anos. Como é que o plantel lidou com esta saída? Esperavam?

    Zé Pedro: Não esperávamos porque o Zequinha também tinha terminado o contrato no ano passado. Ele estava disponível para ficar. Tanto eu, como o Edinho e o Zequinha estávamos naquele lote de jogadores referências. Mas o clube reagiu bem. Era o capitão de equipa eleito por mim, mas mostrou vontade em sair. E mostrando vontade em sair, o grupo sentiu facilidade em aceitar a decisão.

    Bola na Rede: Zé Pedro, o Vitória FC está a partilhar atualmente o estádio com o 1.º Dezembro. Esta situação foi muito falada na altura. Teve algum impacto no plantel?

    Zé Pedro: Não, conseguimos fazer bem a gestão disso. O 1.º Dezembro sugeriu e nós pensámos, enquanto administração, equipa técnica e jogadores, e foi uma questão de ajustarmos. Se tivéssemos outras condições, se calhar não aceitaríamos. Mas não mexeu em nada com o grupo de trabalho e a administração deu boa resposta a este pedido e o grupo reagiu bem a esta situação.

    Bola na Rede: José, estiveste muitos anos como adjunto do Silas. Agora, és treinador-principal. Achas que este é o teu momento de afirmação?

    Zé Pedro: Para mim o momento foi quando falei com o Silas e lhe disse que queria outros objetivos para a minha carreira. Foi esse o momento.

    Bola na Rede: Foi uma conversa pacífica?

    Zé Pedro: Sim, sem dúvida. Entre homens feitos e com uma relação excelente. São apenas objetivos diferentes. A conversa foi clara, fomos homenzinhos e resolvemos bem a questão. Para mim, esse foi o momento. Depois começou no ano passado, quando iniciai na B SAD, num breve espaço de tempo em que estive no clube. Este é um ano importante, tenho isso em mente. Com este projeto, se conseguir o objetivo, é uma época que vai ficar como referência e vou aproveitar ao máximo. Acho que as pessoas já têm essa ideia [de ser treinador-principal] e tudo pode correr da melhor forma possível, com a subida de divisão. O Zé Pedro está aí.

    Bola na Rede: Na época passada, tal como referiste, treinaste a B SAD. O teu início, após deixares de ser adjunto do Silas. As coisas não correram bem. Recentemente também falámos com o Nandinho, que nos garantiu que era um projeto muito difícil. Também tinhas essa noção quando assinaste? O que te motivou aceitares aquele desafio?

    Zé Pedro: Lá está, acredito muito em mim e no meu trabalho. Só assim é que faz sentido. Acreditei que era possível fazer sonhar e que a B SAD se conseguisse manter. Já todos estavam a condenar a equipa à descida de divisão. Acreditei que, com os pontos disponíveis, que éramos capazes. Ainda fomos ao playoff, mas depois aí não fomos capazes em dois jogos. Mas acho que o destino da B SAD estava traçado. Seria difícil sempre comigo, com o Nandinho, com o Paulinho, com o José Maria Pratas… Ia ser sempre difícil, até pelo contexto, não só em termos classificativos, mas também pelas condições que o clube apresentava. Achei que era possível e da B SAD condenada, ainda conseguimos, com muito pouco tempo, ir ao playoff com o Lank Vilaverdense. Era muito difícil com qualquer treinador.

    «Recorde do Guinness de Jorge Jesus assenta-lhe muito bem. Gosto muito do mister».

    Zé Pedro

    Bola na Rede: Zé Pedro, aproveitando também a atualidade e alguns dos teus contactos de carreira. O Rúben Amorim foi teu colega no Belenenses e já o elogiaste no passado. Hoje em dia, continua a ter muito protagonismo e a lutar pelo título. O que é que achas que faz do Rúben Amorim um treinador especial neste contexto de Primeira Liga?

    Zé Pedro: Para já, ele é bom. (risos) Depois, e em relação ao Sporting, teve tudo o que era necessário para trabalhar. Quando o Rúben entra, fizeram tudo o que necessário. Ele aproveitou ao máximo. Enquanto jogador, era um atleta de grupo e tem essa capacidade de liderar grupos de trabalho, que é fundamental e, às vezes, mais importante do que uma unidade de treino. Ele é um pacote bom: é um líder, foi jogador de grupo, era um médio e tinha outra visão do jogo, quer defensivamente, quer ofensivamente. Depois é muito fiel à sua ideia. Finalmente, há o contexto em que entrou. O Sporting é um grande clube e deu-lhe todas as condições necessárias. E foi juntar tudo isso à imensa qualidade que ele tem. E aí está o Rúben que todos vemos, hoje em dia.

    Bola na Rede: Quem vos treinou aos dois foi Jorge Jesus, que recentemente bateu o recorde do Guinness. Ainda te surpreendem estes registos que vão sendo conquistados pelo técnico português?

    Zé Pedro: Não me surpreende. Para mim, o mister Jorge Jesus foi a maior referência, juntamente com Carlos Carvalhal e o José Couceiro. Foram as minhas grandes referências em termos de trabalho. Bebi muito conhecimento do mister Jorge Jesus, tal como qualquer outro ex-jogador dele. Todos têm boas referências, isso é público. Quem é treinado por ele, fica quase com água na boca devido ao que ele é capaz de fazer. Agora, com um campeonato diferente, juntamente com os melhores jogadores e os que ele pode escolher… Ele diz: “Quero aquele guarda-redes, quero aquele defesa, quero aquele avançado“. E tem. Isto com a capacidade dele, só podia dar em sucesso. Foi uma carreira em crescendo desde que me orientou a mim e ao Rúben Amorim no Belenenses. É talento e é uma referência. Este recorde assenta-lhe muito bem, trabalhei com ele e gosto muito do mister.

    Bola na Rede: Zé, estamos aqui a chegar ao fim. Objetivos imediatos: terminar com três vitórias e garantir o mais rapidamente a subida. São os objetivos agora?

    Zé Pedro: Sim, já disse isso ao grupo de trabalho. Quero ganhar os últimos três jogos e quero passar em primeiro. Depois é preparar da melhor forma a fase de subida. Aí a margem de erro mínima. Antes foi maratona, aí é sprint final. Temos de ser melhores ainda e subir de divisão. Queremos subir e esse é o grande objetivo do Vitória FC.

    Bola na Rede: A nível futuro, daqui a um ano, onde é que te vês?

    Zé Pedro: Quero estar onde as pessoas também queiram que eu esteja. Estou recetivo, vou trabalhar ao máximo, tentar evoluir sempre e ser melhor treinador todos os dias. Principalmente, quero dar sempre o meu melhor.

    Bola na Rede: Obrigado, Zé Pedro.

    Zé Pedro: Obrigado, Mário. E obrigado ao Bola na Rede.

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    Mário Cagica Oliveira
    Mário Cagica Oliveirahttp://www.bolanarede.pt
    O Mário é o fundador do Bola na Rede e comentador de Desporto. Já pensou em ser treinador de futebol por causa de José Mourinho, mas, infelizmente, a coisa não avançou e preferiu dedicar-se a outras área dentro do mundo desportivo.