– Diferenças do campeonato inglês para o português e a má experiência na Grécia –
BnR: É nessa altura que vais para o Millwall.
CF: Sim e foi um clube que me marcou muito sobretudo pela mentalidade. As pessoas que vão ao jogo vão para apoiar a equipa, em família, como iam em Portugal há muitos anos atrás. Há um episódio que me marcou: estava em estágio com a equipa e chega ao pé de mim uma senhora na casa dos 50/60 anos, sozinha, com uma capa. Abriu a capa e vi fotos minhas por todos os clubes onde passei e pediu-me para autografar. Achei isso fantástico, deu para ver que são pessoas que vivem o futebol de outra forma. Além disto, existe uma exigência sã. Acabamos por descer de divisão nesse ano, mas o estádio esteve sempre cheio e mesmo no “jogo de descida”, quando o jogo acabou, demos uma volta ao campo para agradecer o apoio dos adeptos e saímos do estádio debaixo de uma salva de palmas. Aquele momento marcou-me muito. Em Portugal esperavam por nós cá fora de outra forma (risos).

BnR: Depois até ao fim da carreira estiveste no Walsall, no Ionikos, no T&T Ha Noi do Vietname e no Atert Bissen.
CF: Sim. Do Millwall fui para o Walsall onde apenas cumpri meia época dado que me transferi em janeiro para o Ionikos, treinado então por Augusto Inácio. Já me conhecia dos tempos do Vitória e sempre tivemos uma relação muito forte. Ele sabia que eu iria jogar sempre no limite, fosse como titular ou como suplente.
BnR: O Augusto Inácio pediu ao presidente do Ionikos para te ir buscar?
CF: Exatamente. Ele pediu 10 jogadores ao presidente e apenas me conseguiu a mim (risos). Foi difícil sair do Walsall porque estava bem, em Inglaterra. Ele já me tinha tentado contratar por duas vezes e havia um adjunto dele na altura que me disse: “Fangas o homem quer levar-te sempre para onde quer que vá. Se não aceitas agora, ele não quer mais” (risos). E aquilo mexeu comigo e acabei por ir para a Grécia. No entanto, foi uma época para esquecer. Passado uma semana de ter chegado, o Augusto Inácio saiu. Ele viu coisas referentes a apostas desportivas e jogos comprados e foi embora. Eu fiquei lá sozinho quatro meses sem receber e ainda queriam que ficasse lá. Como queria regressar a Portugal acabei por não aceitar a renovação de contrato e a partir desse momento a minha vida (lá) piorou.
BnR: Puseram-te “de lado”?
CF: Exatamente. Fui proibido de entrar nas instalações do clube e dos quatro meses em atraso apenas acordamos dois. Disse ao presidente que tinha problemas pessoais em Portugal – que não tinha, e acabei por sair. Ainda me falsificaram os documentos, não recebi dinheiro nenhum e levei isso ao Tribunal FIFA. Consegui provar que me tinham falsificado os documentos, mas acabei por perder o caso. Ficou na Grécia muito dinheiro, muito prestígio e muita paixão pelo futebol.
BnR: Depois de passagens pelo Vizela e Beira-Mar és campeão no Vietname, em 2010.
CF: Já tinha jogado com o Cristiano, atualmente treinador sub-19 do Beira-Mar e a relação de amizade ficou muito forte e como ele jogava no Vietname falou com o seu treinador e convenceu-me a ir. Falou-me das condições de trabalho, da realidade do país e quando cheguei lá vi que a diferença era abismal. Ainda assim, os jogadores estrangeiros já tinham grandes condições e os europeus eram muito bem recebidos. Foi uma experiência que me deu “muita bagagem” para o futuro, não só para o futebol como para a vida. Depois disso regressei ao “meu Leixões” para terminar a carreira como futebolista. Por um lado foi feliz porque é o clube do meu coração, mas por outro lado fiquei triste porque queria dar mais, mas (aos 35 anos) o corpo já não respondia da mesma forma.