«Até me arrepio só de falar no Vitória SC, os adeptos são únicos» – Entrevista BnR com Grégory

    «O Vitória de Guimarães é uma coisa. Até me arrepio só de falar nesse clube. Fiquei só um ano, mas os adeptos são únicos»

    Bola na Rede: Para quem não se recorda, o Grégory eras um defesa-central duro, muito forte a defender, na marcação. Não eras um jogador tecnicamente evoluído… A tua tarefa era, sobretudo, parar os avançados, os mais criativos…  

    Grégory: Calma… Quando dizes que não era evoluído tecnicamente… (risos). Estou a brincar. É verdade, era duro, sempre fui duro, do princípio ao final da minha carreira. Era essa a minha maneira de jogar e nunca mudei. O meu objetivo era defender os “meus” e a minha primeira função era defender, não permitir que a equipa sofresse golos, e fazia tudo o que fosse necessário para que isso acontecesse. As minhas qualidades eram a marcação, o jogo de cabeça… A parte criativa era para os outros. E foi por isso que tive sucesso: conhecia as minhas virtudes e os meus defeitos. A verdade é que não há jogadores perfeitos, até os melhores do mundo têm defeitos. Eu sabia o que tinha de fazer: destruir a jogada, de uma maneira ou de outra, sempre dentro das leis, sem magoar o colega. Era duro, sim, mas as coisas são mesmo assim. Hoje, por exemplo, faz-me confusão as pessoas, primeiro, preocuparem-se com a forma como um defesa sai a jogar com bola controlada, quando a primeira função do defesa continua a ser defender. Se não quer defender, vai para outra posição. É verdade que quando subimos o nível o defesa tem de saber jogar com critério, com a bola controlada, não pode só chutar para a frente, mas a primeira função do defesa é defender. Os médios são para organizar e os avançados para marcar golos, no futebol cada um tem a sua função. Mas atenção: era duro, é verdade, mas falava sempre com os meus adversários no final dos jogos e tenho muito amigos no futebol – uma coisa é dentro do campo e outra é fora.

    Bola na Rede: Vamos regressar ao teu percurso. Depois de duas épocas no Gil Vicente vais para o Marítimo. Como foi a experiência na Madeira?

    Grégory: Foi a primeira vez que viveste numa ilha… Adorei a Madeira. É uma ilha espetacular, muito bonita. Mas depois de dois anos confesso que já estava um pouco saturado. É uma ilha, não é? Mas adorei viver na Madeira, o clima, a gastronomia… Foi uma experiência muito boa.

    Bola na Rede: E mais dois anos e outra mudança. Desta vez, para um clube com outra ambição. Foste para o Vitória de Guimarães, que não deixa de ser um passo em frente na carreira…

    Grégory: Como costumo dizer: saí de um bom clube, o Marítimo, para um grande clube, o Vitória de Guimarães. O Vitória de Guimarães é uma coisa… (suspiro). Até me arrepio só de falar nesse clube. Fiquei só um ano, mas os adeptos… Não existem… Em Portugal são adeptos únicos. Ainda por cima a equipa estava bem, a massa adepta estava com a equipa – como, aliás, costuma estar –, o ambiente no estádio Afonso Henriques era fantástico… O Vitória de Guimarães é único em Portugal. Os adeptos são muito exigentes, é verdade, mas também dão muito apoio. Adorei representar as cores do Vitória de Guimarães, que é realmente um grande clube do futebol português.

    Bola na Rede: Falavas da exigência dos adeptos do Vitória de Guimarães. Talvez tenha sido a primeira vez em que sentiste pressão e a exigência de ganhar sempre…

    Grégory: Sim, sim. Mas isso é próprio de um grande clube, não é? Quando as coisas correm bem, ótimo, mas quando correm mal, só nos resta calar e continuar trabalhar para tentarmos melhorar. É mesmo assim a cultura, seja no Vitória de Guimarães ou noutro grande qualquer. E o Vitória de Guimarães é um grande.

    Bola na Rede:  Na 1.ª divisão portuguesa passaste por Gil Vicente, Marítimo, Vitória de Guimarães e, mais tarde, Paços de Ferreira, e deixaste sempre uma marca muito forte nos adeptos. Há algum segredo para teres sido sempre muito acarinhado?

    Grégory: Quando faço alguma coisa dou sempre o meu melhor, tento não falhar. Quando Deus nos dá a oportunidade de fazermos o que gostamos temos de aproveitar o momento, temos de dar o nosso melhor – por nós mesmos, mas também pelo clube e pelas pessoas que confiaram em nós. E quando estava dentro do campo pensava assim, que estava a representar um clube e que tinha de defender aquela camisola. Dava sempre tudo. Podia falhar, e às vezes falhava, às vezes também podia ser um bocadinho mais duro (risos), mas era porque dava sempre tudo dentro do campo. Também era muito competitivo, não gostava de perder “nem a feijões”, nem em jogos-treino, nisso tinha muito mau feito. E é assim que ainda sou, não gosto nada de perder (risos). Mas também acho que é assim que as pessoas conseguem coisas boas na vida, sendo competitivas diariamente, tentando fazer mais e melhor. Acho que estamos mais perto de alcançar o sucesso com essa postura.

    Bola na Rede: E ficaste a torcer por algum clube em especial?

    Grégory: Acompanho todos os clubes por onde passei, tenho um carinho especial por todos, mas torcer apenas por um… É complicado. E agora com as funções que desempenho na Proeleven é mais complicado, não faz sentido torcer por um clube. Quando era novo, sim, era adepto do Olympique de Marselha. Era e será sempre o meu clube…

    Bola na Rede: Mesmo sendo parisiense…

    Grégory: Era de Paris, mas o meu clube sempre foi o Olympique de Marselha. O Marselha é o clube do povo e o Paris Saint-Germain já é das pessoas mais “chiques”, como se costuma dizer… O Marselha é de todos.

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    João Amaral Santos
    João Amaral Santoshttp://www.bolanarede.pt
    O João já nasceu apaixonado por desporto. Depois, veio a escrita – onde encontra o seu lugar feliz. Embora apaixonado por futebol, a natureza tosca dos seus pés cedo o convenceu a jogar ao teclado. Ex-jogador de andebol, é jornalista desde 2002 (de jornal e rádio) e adora (tentar) contar uma boa história envolvendo os verdadeiros protagonistas. Adora viajar, literatura e cinema. E anseia pelo regresso da Académica à 1.ª divisão..                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.