«Os polacos pensavam que ir buscar jogadores a Portugal era mais difícil e não é» – Entrevista BnR com Tomás Podstawski

    -A procura pela afirmação sénior –

    «O Vitória de Setúbal não tinha condições de clube de Primeira Liga»

     

    Bola na Rede: Na época seguinte partes para a tua primeira aventura na Primeira Liga, no Vitória FC, onde foste totalista em quase todos os jogos da época. O que aconteceu para abandonares o clube ao fim de apenas uma época?

    Tomás Podstawski: Foi uma experiência muita boa com o mister José Couceiro, num ambiente muito bom e onde aprendi imenso. Só o facto de termos ali uma fase muito difícil com o VAR, foi muito complicado porque sentimos que fomos prejudicados em muitos jogos em que o resultado podia cair para qualquer dos lados. Acabamos por lutar pela manutenção até à última jornada e acabamos por conseguir o objetivo. No entanto, acabou por ser uma época muito desgastante a nível psicológico porque o Vitória de Setúbal não tinha condições de clube de Primeira Liga. Por isso era muito difícil, já com todas as dificuldades dentro do clube, era mesmo muito difícil com todos os obstáculos que tínhamos no treino no dia-a-dia que faz muito diferença para o dia de jogo. Estou a falar a nível de água quente, equipamentos, a nível de logística, a nível de organização de nutricionistas, de alimentação adequada, de campos de treino adequados, de ginásios, isso eram tudo falhas muito grandes para um clube com a história do Vitória FC e que se quer para um clube de Primeira Liga. Já para não falar dos atrasos salariais e foi também por esse motivos, principalmente o financeiro, que fez com que eu tivesse que sair do clube. Porque eles não estavam a cumprir com as suas responsabilidades e houve uma revolução muito grande dentro do clube com a alteração de presidente e diretor desportivo.

    Bola na Rede: Mas porquê abandonar a Primeira Liga após quase ser totalista do Vitória FC?

    Tomás Podstawski: As coisas na Primeira Liga já estavam muito difíceis porque na minha posição estava difícil de entrar noutros plantéis. Mesmo com as condições financeiras que eu queria e para estar ali na Primeira Liga Portuguesa. E por essa razão surgiu a oportunidade de vir para a Polónia e foi uma transição feliz. Para mim, foi um passo em frente porque a nível de condições, de jogo e de adeptos foi muito bom. Porque temos muito melhores condições de treino. Os clubes são mais organizados, há uma massa adepta mais presente por comparação com os clubes portugueses, tirando sempre aqueles cinco (FC Porto, SL Benfica, Sporting CP, SC Braga e Vitória SC). Foi só uma passagem para um campeonato de menos visibilidade. Foi um bom passo relativamente à generalidade dos clubes em Portugal.

    Bola na Rede: Deduzo pelas tuas palavras que foi o futebol português que te afastou e não foste tu que te afastaste do futebol português.

    Tomás Podstawski: Sim, exatamente. Foi isso mesmo.

    Bola na Rede: Como referiste, a Liga Polaca é uma liga de menor visibilidade por comparação com a Liga Portuguesa. Tiveste medo de que com essa mudança as pessoas se acabassem por esquecer de ti?

    Tomás Podstawski: Não, porque dentro do mercado polaco poderia sempre ir para outros mercados para onde vão sempre vários jogadores jovens polacos. Como é o caso do Red Bull Salzburg na Áustria, bons clubes de Itália. Tem havido transferências da Liga Polaca diretamente para a AFC Fiorentina.

    Bola na Rede: Houve o caso recente do Piątek que foi diretamente da Liga Polaca para o Génova CFC…

    Tomás Podstawki: Sim, exatamente o caso do Piątek. Há outros casos de jogadores que vão diretamente para a Liga Alemã, para a Liga Belga… Por isso não tive medo nesse aspeto. Porque nunca tive um objetivo de ir para a Polónia e depois regressar para Portugal melhor, não era esse o objetivo. O objetivo é continuar o percurso da minha carreira e subir um patamar. Dadas as circunstâncias foi um passo em frente.

    Bola na Rede: Mas vais para o MKS Pogoń Szczecin, que para quem não conhece a Liga Polaca, acaba por ser um clube que não tem muita tradição na Polónia a nível de conquistas e títulos. O que te convenceu a assinar por eles?

    Tomás Podstawski: Foi a questão de alguns jogadores que estavam no plantel na altura. Internacionais A pela seleção polaca, além de me terem dito que eu iria ser aposta, o que era importantíssimo para mim. Por isso ia jogar, ia ter mais estabilidade financeira que não tinha no Vitória de Setúbal, com um treinador que veio da Segunda Liga Alemã e gostava de jogar futebol com uma mentalidade diferente do futebol direto e de segundas bolas como é o caso de alguns clubes na Polónia. Mesmo não tendo nenhum título, fiquei muito contente com a minha escolha e com a estrutura do clube. Neste momento, é um clube de top5 na Polónia.

    Bola na Rede: Que diferenças tiveste nas condições oferecidas no Pogoń Szczecin por comparação com o Vitória de Setúbal?

    Tomás Podstawski: O Pogoń Szczecin tem cinco campos de treino de relvado natural, um campo coberto sintético, cada jogador tem carro, existem prémios individuais e prémios colectivos que em Portugal não existem. Eles vão ficar com um estádio completamente novo que está a ser construído com uma capacidade para 23 mil pessoas, ou seja, muito bom. Além de terem uma massa adepta que consegue encher estádios.

    Bola na Rede: O Pogoń Szczecin qualificou-se para as competições europeias esta época, no entanto, a tua utilização nesta época foi bastante irregular, o que aconteceu?

    Tomás Podstawski: O que aconteceu é que logo no primeiro treino quando voltamos de férias eu lesiono-me num músculo na parte posterior da coxa. Fico ali três semanas sem poder competir, a pré-época foi muito curta por causa da pandemia. Começámos logo a competir, começámos logo a ganhar, o treinador queria muito que eu voltasse a jogar e eu não estava bem ainda. Como a equipa estava a ganhar, o treinador não alterou a equipa. Além disso, um fator muito importante é o facto de que na Polónia um jogador polaco sub-21 tem que jogar sempre os 90 minutos. O que faz com que tenha mais idade, que ainda por cima eram os do meio-campo, limitou muito o treinador. O jogador jovem mesmo jogando mal, tinha que continuar a jogar no jogo seguinte porque é a regra. Não acontece como na China em que podes substituir o jogador jovem logo aos 30 segundos de jogo por um jogador mais velho. Na Polónia ele sai, tem que entrar outro sub-21 polaco para o lugar dele.

    Bola na Rede: O Pogon que já anunciou que não irá renovar o contrato contigo e por essa razão serás um jogador livre na próxima época. Já tens alguma ideia do teu futuro?

    Tomás Podstawski: Ainda não tenho. Estou a ponderar tudo. O tipo de ofertas que poderei ter, tenho contacto permanente com o meu representante e vamos ver. Gostava de jogar noutro campeonato aqui na Europa, num campeonato mais competitivo. Sinto que tenho essa capacidade para estar num patamar mais elevado.

    Bola na Rede: Mas não excluis a possibilidade de continuar na Liga Polaca ou de regressar ao campeonato português?

    Tomás Podstawski: Não excluo nenhuma hipótese.

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    Rui Pedro Cipriano
    Rui Pedro Ciprianohttp://www.bolanarede.pt
    Nascido e criado no interior, na Covilhã, é estudante de Ciências da Comunicação, na Universidade da Beira Interior. É apaixonado pelo futebol, principalmente pelas ligas mais desconhecidas, onde ainda perdura a sua essência e paixão.                                                                                                                                                 O Rui escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.