Experiência em Angola
BnR: Em 2015, mudou-se para um clube fora de Portugal, e foi para o Petro de Luanda. Como surgiu esse convite? Aceitou logo o desafio ou sentiu-se algo reticente em emigrar para Angola?
D.D.: Estava no Paços de Ferreira, onde não estava a ser opção para o técnico Paulo Fonseca, quando surgiu essa proposta, que era boa para mim em termos financeiros. Informei-me acerca do clube, que é o mais titulado de Angola e, como tenho um irmão a viver em Luanda, não hesitei e aceitei o desafio. A adaptação Angola foi de facto muito fácil, talvez por ter cá o meu irmão e também alguns amigos de Portugal.
BnR: Quais foram as maiores diferenças que sentiu entre o futebol português e o angolano?
D.D.: O futebol angolano é bastante diferente do futebol europeu. Na Europa, o futebol está a tornar-se cada vez mais tático e físico, desaparecendo a parte artística e espetacular do jogo, sendo que em Angola, por vezes, fico com a sensação que se festeja mais uma finta do que um golo. Em termos de adaptação, o mais difícil foi o clima (temperatura e humidade elevadas) e as condições péssimas da maioria dos relvados. Outro aspeto que distingue o futebol de cá é que as pessoas exigem muito mais do futebolista estrangeiro do que do nacional, o que não acontece em Portugal.
BnR: A sua segunda temporada não correu tão bem como a primeira, dado que jogou poucas vezes. O que teve na origem da sua saída da equipa petrolífera no final de 2016?
D.D.: Na minha segunda época, houve uma mudança de treinador. Comecei bem época, mas depois tive uma lesão, que me obrigou a ir a Portugal realizar tratamento. Só voltei a competir três meses depois e, como a equipa estava numa boa sequência de resultados, foi difícil recuperar o meu lugar. Além disso, esse novo treinador tinha uma ideia de jogo mais baseada no esforço do que propriamente na qualidade de jogo, o que não se enquadra nas minhas características, daí ter abandonado o Petro de Luanda.
BnR: Este ano acabou por ir para o Interclube, também de Luanda. Como foi parar a este clube? A temporada está a ser de acordo com as suas expetativas iniciais?
D.D.: Este ano, quando estava a preparar o meu regresso à Europa, surgiu a possibilidade de realizar a segunda metade da época pelo Interclube de Luanda, que é treinado pelo Paulo Torres, bem conhecido do futebol português. Está a correr-me de forma fantástica, tendo já marcado 4 golos em menos de meia época, apesar de atuar como médio. A equipa tem subido alguns lugares na tabela e chegámos a uma fase adiantada da Taça de Angola, o que me permite concluir que está a ser uma temporada positiva para mim.
BnR: Certamente, teve de se adaptar rapidamente ao estilo e ritmo de vida angolano. Tem alguma história engraçada vivenciada por si que possa partilhar com os leitores?
D.D.: Sim, por acaso tenho. Na época passada, a meio de um jogo, numa província de Angola, aconteceu um episódio que considero caricato. Quando a minha equipa estava a vencer, por uma bola a zero, o presidente da equipa adversária fez uma intervenção ao microfone do estádio, dizendo que o prémio da reviravolta duplicava, chegando mesmo a referir um valor que não me recordo. Foi um momento estranho e engraçado, ao mesmo tempo para mim.
BnR: Após três anos em Angola, considera ter sido uma decisão correta da sua parte vir jogar para este país africano? Porquê?
D.D.: Sem dúvida, a experiência em África tem-me feito crescer muito em todos os sentidos. Devo muito a Angola, gosto muito do país e, com certeza, permanecerá uma forte ligação, mesmo quando regressar a Portugal. Obviamente que o Girabola ainda tem muito para crescer e penso que, durante o tempo que permanecer por cá, poderei dar o meu contributo nesse sentido. Desportivamente, acredito que a minha carreira sairia mais valorizada a jogar em Portugal ou em qualquer outro país da europa, mas tenho tido uma experiência de vida fantástica e com condições financeiras melhores do que se estivesse a jogar na maior parte dos clubes da Liga Portuguesa. Logo, não me arrependo da decisão que tomei em emigrar para Angola.