Antevisão CAN 2023 | A taça mais icónica das nossas vidas está aí à porta

    A ANTEVISÃO: COMEÇA A 34.ª EDIÇÃO DA TAÇA DAS NAÇÕES AFRICANAS, A REALIZAR-SE PELA SEGUNDA VEZ NA COSTA DO MARFIM

    A CAN é possivelmente uma das competições de futebol que traz mais nostalgia aos «maluquinhos» da modalidade em Portugal (e não só). Desde as transmissões lendárias, que ocupavam tardes e noites na Eurosport, pontuadas pelo sotaque afrancesado de Oliver Bonamici, ao frenesim das bandas à volta do relvado, a apoiar as mais diferentes seleções, passando pela descoberta do talento mais puro, dos jogadores mais rústicos e de guarda-redes atrevidos, a maior prova africana de seleções terá sempre um lugar reservado nos nossos hipocampos.

    Os tempos mudaram, a própria Taça das Nações Africanas modernizou-se, as principais equipas estão cada vez mais «europeizadas», mas há sempre uma magia que não se perde, mesmo nos momentos em que nos sentimos mais desiludidos com as performances exibicionais das equipas (há um histórico de nulos considerável nesta competição).

    A edição deste ano, adiada em seis meses por razões de prevenção climatérica (daí o nome CAN 2023), terá algumas das já habituais favoritas como principais candidatas à conquista do torneio. A seleção campeã, Senegal, procura revalidar o troféu conquistado nos penáltis há dois anos frente a uma turma egípcia que se apresenta novamente como uma das potenciais vencedoras da prova (que já conquistou em sete ocasiões). A anfitriã Costa do Marfim, a espetacular seleção de Marrocos (semifinalista no Mundial do Catar há pouco mais de um ano) e outras equipas com pergaminhos como a Nigéria, o Gana, a Argélia ou os Camarões podem também ambicionar a chegada até à final de 11 de Fevereiro, num quadro que pode contemplar o aparecimento de «outsiders» como a Tunísia, o Mali ou um Burkina Faso que nas últimas cinco edições da CAN, somou um vice-campeonato, um 3º e um 4º lugares.

    UM OLHAR PARA OS SEIS GRUPOS E RESPETIVAS EQUIPAS

    GRUPO A

    Há potencial para termos grandes confrontos logo a partir da fase de grupos da CAN. O grupo A reúne duas das teóricas candidatas (Costa do Marfim e Nigéria) e adiciona duas seleções com menos história mas dispostas a conseguir uma surpresa (Guiné-Bissau e Guiné Equatorial). A turma da casa, orientada pelo experiente Jean-Louis Gasset, procura esquecer a deceção da última edição, em que caiu nos pontapés de penálti logo nos oitavos-de-final, face ao Egipto. A recente entrada em grande estilo na fase de apuramento para o Mundial e as goleadas face a Seicheles e Serra Leoa abrem boas perspetivas de futebol atraente e vocacionado para o ataque, com uma frente de luxo que inclui Sébastien Haller, Jerémie Boga, Jonathan Bamba ou os diamantes Simon Adingra (ainda a contas com uma lesão) e Karim Konaté. De resto, há nível em todos os setores do campo, com uma defesa comandada pelo sportinguista Ousmane Diomande e por Evan Ndicka e um meio-campo que conjuga experiência (Kessié ou Seri) e nomes mais jovens, que vivem períodos fulgurantes (Ibrahim Sangaré, Seko Fofana ou Lazare Amani).

    A Nigéria de José Peseiro apresenta um dos ataques mais espetaculares do torneio mas os resultados e exibições recentes não convidam a grandes otimismos. Victor Boniface é uma baixa considerável de última hora, mas Victor Osimhen, Terem Moffi ou Umar Sadiq dão garantias de golo, servidos por extremos de alto nível como Samuel Chukwueze, Ademola Lookman ou Moses Simon. A ausência de consistência defensiva tem sido uma das problemáticas maiores nos últimos largos meses e em torneios curtos esse fator pode ser chave para definir as reais hipóteses de uma equipa lutar por um troféu. Em teoria, Guiné-Bissau e Guiné Equatorial disputarão o terceiro lugar, que pode valer apuramento para os «oitavos». Os «Djurtus» apresentam um plantel com potencial ofensivo (Mama Baldé, Franculino Djú, Carlos Mané ou Famara Quizera) e vários nomes com ligação ao futebol português. A esperança passa por melhorar as prestações nas últimas edições (apenas um ponto somado em cada torneio). A Guiné Equatorial vai ser uma adversária exigente e chega motivada, depois das duas vitórias a abrir a fase de apuramento para o Mundial. O 4º lugar em 2015 (jogando em casa) e a presença nos quartos-de-final em 2022 evidenciam o estatuto de seleção-surpresa que a turma da África Central pretende manter em solo marfinense.

    GRUPO B

    O grupo B da CAN vai ser dos mais atrativos aos olhos dos portugueses, pois conjuga duas equipas lusófonas (Cabo Verde e Moçambique) e uma seleção orientada por Rui Vitória, a do Egipto, além do sempre respeitável Gana. Começando pelos favoritos egípcios, chegam à competição na sequência de seis triunfos oficiais consecutivos, com uma equipa estável em todos os momentos do jogo e um grupo de jogadores de elevada fiabilidade, liderado pelo carismático Mo Salah (um dos principais rostos do futebol africano na última década), mas com nomes atrativos a morar na Europa (Marmoush, Trezeguet, Elneny ou Mostafa Mohamed) e vários craques dos principais clubes do país (o eterno Mohamed El Shenawy, na baliza, o promissor Abdelmonem a liderar o setor defensivo e médios consistentes como Emam Ashour, Marwan Attia ou o talento com golo de Zizo). Se Rui Vitória pode dar-se por satisfeito (com o mérito evidente no estabelecer de bases sólidas e dominadoras no jogo egípcio), Chris Hughton, selecionador inglês do Gana, tem razões para estar mais preocupado.

    A falta de golo da formação ganesa nos últimos tempos tem sido uma realidade, mas olhando para a lista de escolhidos existem razões para confiar numa melhoria. Mohammed Kudus, Iñaki Williams, o eterno Jordan Ayew, o entusiasmante Antoine Semenyo (revelação da presente edição da Premier League) ou o endiabrado Ernest Nuamah (produto da escola Right to Dream, ligada ao Nordsjaelland) podem ajudar um coletivo ao qual parece faltar nível criativo a meio-campo e consistência defensiva. Cabo Verde já se tornou uma «habitué» da grande competição de África e quer surpreender, com um conjunto que parece mais equilibrado e harmonioso em todas as zonas do terreno do que em edições anteriores. Ryan Mendes ou Garry Rodrigues perpetuam o papel de jogadores-estrela, mas entretanto juntaram-se figuras como Bebé (sim, esse mesmo em quem estão a pensar) ou os mais jovens Jovane Cabral, João Paulo ou Logan Costa, que irão certamente aumentar a competitividade de uma seleção que apenas em 2013 se estreou no torneio. Já Moçambique regressa à CAN, 14 anos depois, e com a ambição de somar, como mínimo, a primeira vitória de sempre na quinta participação de sempre na grande montra do futebol africano. Geny Catamo assume o papel de craque dos Mambas, numa lista de Chiquinho Conde que conta ainda com Reinildo do Atlético de Madrid, jogadores com experiência em diferentes escalões do futebol português como Bruno Langa, Guima, Witi ou Gildo e veteranos como Mexer ou Domingues.

    GRUPO C

    O grupo C também promete grandes espetáculos. O favoritismo pertence a um Senegal que conjuga a experiência de nomes consagrados como Sadio Mané, Kalidou Koulibaly, Idriss Gueye ou Édouard Mendy a jovens em patamar de afirmação evidente nos últimos meses como Pape Matar Sarr, Lamine Camara, Iliman N´Diaye ou Nicolas Jackson. Depois de duas finais perdidas (2002 e 2019), a taça chegou finalmente a Dakar na última participação e as expectativas voltam a ser bastante altas. No caminho (inicial) para uma eventual revalidação do título, os senegaleses terão os Camarões, orientados pelo mítico Rigobert Song e já experientes em alternar entre períodos de sucesso e instabilidade. André Onana continua a ser tema quente (lembrando o que aconteceu no último Mundial), mas volta a estar disponível, ainda que condicionado por competir pelo Man. United praticamente em cima do arranque da prova. Zambo Anguissa ou Aboubakar são outros líderes de um grupo que conta com algumas promessas mais jovens (atenção aos atacantes Faris Moumbagna e Frank Magri). As outras duas equipas podem perfeitamente ter aspiração a lutar pelos dois primeiros lugares. A Gâmbia tornou-se num dos projetos com maior robustez de todo o futebol africano e o sucesso tem sido verificável, desde as camadas jovens até à seleção principal.

    Apesar do susto na viagem de avião para território marfinense (houve falta de oxigénio a bordo do (diminuto) avião que transportava a comitiva), há esperança numa boa campanha, alicerçada na chegada aos quartos-de-final em 2022 e numa frente atacante que conta com Musa Barrow ou Assan Ceesay, além dos jovens Yankuba Minteh, Ebrima Colley e Alieu Fadera. Também neste agrupamento estará presente a seleção precisamente eliminada pelos gambianos nos «oitavos» da última vez, a Guiné-Conacri. A formação orientada por Kaba Diawara quer melhorar o registo e para isso leva até à Costa do Marfim um grupo de jogadores de bom nível, nos quais se destacam médios consistentes com e sem bola como Naby Keita, Aguibou Camara, Amadou Diawara ou Ilaix Moriba. Na frente, há boas expectativas para perceber se Serhou Guirassy mantém a tendência goleadora avassaladora da primeira metade da época na Bundesliga (apesar do problema físico com que se apresenta na CAN).

    GRUPO D

    O grupo D da CAN tem como principal destaque uma recente campeã, a Argélia, que não perde um jogo oficial desde março de 2022. O potencial ofensivo é notório, numa equipa que conjuga capacidade para dominar os adversários a bons índices de recuperação de bola. Riyad Mahrez saiu da Premier League para o futebol saudita mas mantém-se como a figura de uma convocatória que possui uma qualidade de passe ímpar a meio-campo (Bennacer, Chaïbi, Aouar…) e uma das possíveis revelações ofensivas do torneio (o incisivo Mohamed Amoura, craque do Union St. Gilloise). A abrir o torneio, os argelinos irão defrontar a seleção angolana, orientada por Pedro Gonçalves. Os últimos resultados têm gerado preocupação mas existe qualidade suficiente no plantel dos Palancas Negras para acreditar no apuramento para a fase seguinte. A CAN pode servir também como patamar de afirmação internacional para nomes que já têm suscitado atenção no futebol português, como Kialonda Gaspar ou Beni Mukendi. A capacidade de desequilíbrio de Zito Luvumbo, Milson ou Gelson Dala pode catapultar Angola para patamares altos no ataque. Contudo, a tarefa ante Burkina Faso e mesmo Mauritânia será exigente. Os burquineses ganharam uma solidez tremenda nos últimos anos e costumam apresentar uma equipa muito consistente no setor recuado e feroz a explorar saídas rápidas para o ataque. Edmond Tapsoba é patrão numa defesa que vai contar com a revelação recente da Superliga dinamarquesa Adamo Nagalo e mais adiante, Dango Ouattara promete transportar com ele a irreverência apresentada entre Lorient e Bournemouth nos últimos três anos. A Mauritânia tem, em teoria, o grupo de jogadores menos talentoso deste grupo. Beneficiada pelo aumento de equipas na fase final da CAN nos últimos anos, tenta esquecer as três derrotas da edição passada, contando para isso com o nível ofensivo de jogadores como Aboubakary Koita (grande época no futebol belga), Aboubakar Kamara ou Hemenya Tanji.

    GRUPO E

    O grupo E junta várias equipas de bom nível, mas nenhuma candidata clara à conquista do troféu. A Tunísia, que esteve presente no último Campeonato do Mundo e apenas venceu a CAN por uma vez (há duas décadas), não entusiasma pela qualidade de jogo, mas promete ser uma equipa fiável, sobretudo no processo defensivo (eixo central forte, com a dupla Meriah-Talbi e o médio-defensivo de Bundesliga, Skhiri). A criatividade chega pelos pés do experiente Msakni, ao qual se junta a irreverência e técnica de execução no passe e remate de Elias Achouri (esteve seis anos em Portugal). O Mali promete ser um adversário exigente e que se apresenta como candidato a surpreender. Se defensivamente não apresenta grandes figuras (Niakaté, do SC Braga, procura impor-se no onze), do meio-campo para a frente há talento e experiência de sobra: Yves Bissouma, Mohamed Camara, Amadou Haidara ou Lassana Coulibaly deverão estar integrados num trio de médios, com uma frente ofensiva que junta vertigem e potência, com nomes como Sekou Koita, Nene Dorgeles ou Sirine Doucouré.

    Depois, temos uma seleção que já saboreou o triunfo, mas que não tem tido muito sucesso nos tempos mais próximos: a África do Sul. Comandada por Hugo Broos (timoneiro que levou os Camarões a um surpreendente título em 2017), a turma Bafana Bafana não vai poder contar com os craques Lebo Mothiba e Lyle Foster, numa lista que tem como base o plantel de um dos clubes mais bem sucedidos dos últimos anos em África (Mamelodi Sundowns). O duo Mokoena-Yaya Sithole (este último joga no Tondela), o desequilibrador Percy Tau ou o consistente guardião Ronwen Williams (competente entre os postes e com argumentos a jogar com os pés) são alguns dos nomes que prometem sair em evidência da Costa do Marfim. A equipa fora dos focos neste grupo é mesmo a da Namíbia, ainda que apresente na convocatória um dos melhores atacantes a atuar no continente africano (Peter Shalulile, precisamente dos Sundowns sul-africanos). A exclusão do Quénia da fase de qualificação, junto com um triunfo histórico frente aos Camarões, ajudou a que os namibianos tivessem conseguido o acesso a uma fase final para a qual partem com a expectativa de surpreender.

    GRUPO F

    Finalmente, temos um grupo F em que o favoritismo de Marrocos é indiscutível. Os semifinalistas do último Mundial apresentam o grupo-base do sucesso no Catar (Hakimi, Amrabat, Ziyech, En-Nesyri, Bono ou Saiss) e juntam ainda talento jovem entusiasmante, entre jogadores que já estiveram nesse sucesso de há pouco mais de um ano e nomes com aparição recente (El Khannouss, Saibari, Ez Abde ou Chadi Riad). A aposta no 4-3-3 deve-se manter, com a diferença de que os magrebinos terão de assumir mais o jogo do que no Campeonato do Mundo (e têm argumentos para isso). A República Democrática do Congo promete dar luta, sobretudo avaliando a poderosa frente ofensiva que conta com nomes como Simon Banza, Gael Kakuta, Cédric Bakambu, Theo Bongonda e, sobretudo, Yoane Wissa, figura atacante do Brentford, da Premier League.

    A Zâmbia é orientada por um técnico icónico (Avram Grant) e tenta replicar o sucesso fenomenal de 2012 – triunfo, no Gabão, face à Costa do Marfim. A vitória recente em jogo com os marfinenses demonstrou o potencial de uma geração que conta com uma frente de ataque explosiva (Patson Daka, Lameck Banda ou Fashion Sakala). O nível defensivo já deixa mais dúvidas, sobretudo quando comparado com o da equipa campeã há pouco mais de uma década. A Tanzânia fecha este grupo, aglomerando vários jogadores de um dos campeonatos mais competitivos de África – precisamente o tanzaniano. Samatta parece querer durar para sempre numa equipa que conta ainda com nomes (jovens) apelativos como Novatus Miroshi ou Cyprian Kachwele. No entanto, espera-se vida difícil para atingir o objetivo dos oitavos-de-final.

    Um mês de luxo, com jogos em cinco cidades e seis estádios diferentes, e a expectativa de grandes ambientes nas coloridas bancadas e a afirmação de muito talento, coletivo e individual. Não sabemos se vai ganhar o melhor, mas candidatos à luta pelo troféu não faltam e a incerteza deixa-nos com ainda mais apetite para degustar nova edição da CAN.

    DADOS TRANSFERROOM SOBRE OS FAVORITOS DO TORNEIO

    O relatório do TransferRoom revela que Marrocos é a equipa mais forte da Taça das Nações Africanas de 2023, depois de ter chegado às meias-finais do Campeonato do Mundo de 2022. Em termos de classificação geral, a seleção marroquina recebe 81,2 do conceituado diário estatístico, à frente da Costa do Marfim (80,0) e do Senegal e Gana (79,7).

    Quanto ao jogador sub-23 com melhor registo da CAN, Nico Jackson é o melhor avaliado com 87,8. O avançado do Chelsea está à frente de Simon Adingra, avançado do Brighton, que tem 83,7.

    A TransferRoom é uma plataforma que facilita o contacto entre os representantes dos clubes, como uma rede social de futebol. A plataforma permite que os clubes encontrem e expressem o seu interesse em jogadores, conduzindo a negociações e transferências.

    Consulta também a antevisão da Taça Asiática 2023 em baixo:

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    Francisco Sousa
    Francisco Sousahttp://www.bolanarede.pt
    Licenciado em jornalismo, o Francisco esteve no Maisfutebol entre 2014 e 2017, ano em que passou para a A BOLA TV. Atualmente, é um dos comentadores da Eleven.