Se em agosto de 2022 me dissessem que a luta pelo título na Liga Alemã nos primeiros meses de competição iria ser dos mais interessantes e curiosos casos de estudo no futebol europeu, eu diria que estariam completamente doidos.
A verdade é que o poderosíssimo FC Bayern de Munique, coroado dez vezes consecutivas campeão alemão nos últimos dez anos, parece estar a encontrar sérias dificuldades pelo caminho, cada vez mais antecipadas como duradouras e não momentâneas, como inicialmente se poderia prever. Mas desengane-se quem possa considerar que a não liderança por parte do Bayern, já de si uma grande surpresa, seja apenas por demérito dos bávaros, embora este seja por demais evidente.
🔴 Union Berlin é o líder isolado da Bundesliga 22/23:
◉ 10 jogos
◉ 7V | 2E | 1D
◉ 76,6% de aproveitamento
◉ 18 gols feitos
◉ 6 gols sofridos 🥇▸ 2° melhor equipe pelo Índice Footstats
Abriu 5 pontos de vantagem para o segundo colocado! pic.twitter.com/WfTr9a2o1m
— Footstats I2A (@Footstats) October 16, 2022
Apesar de, atipicamente, o conjunto de Munique ter já tropeçado por cinco vezes (quatro empates e uma derrota) em dez jogos, nada fazia prever que a diferença entre o 11.º classificado e o Bayern de Munique, atualmente segundo, fosse de apenas quatro (!) pontos, e que o grande líder, mais que isolado, fosse o FC Union Berlin, com mais quatro pontos de vantagem sobre os bávaros, somando até ao momento um registo praticamente imaculado, tendo perdido apenas na deslocação a Frankfurt, por 2-0.
Até ao momento, desde o 11.º Mainz 05 e seguintes RB Leipzig, Werder Bremen, FC Colónia, Borussia Mönchengladbach, BVB Dortmund, Eintracht Frankfurt, TSG Hoffenheim e ainda SC Friburgo seguem na dianteira por um lugar que garanta o acesso às competições europeias. Mas vamos lá atalhar caminho…
O Bayern de Munique está, como se poderá perceber, a entrar numa fase menos consistente e dominante do seu futebol, embora seja sempre visto como o mais poderoso clube e projeto deste país, quer seja pelo contexto onde está inserido, pela sua história, ou pelo próprio plantel que possui, claramente o mais valorizado e cotado da Liga Alemã. É, diria até, previsível que este conjunto acabe por vencer novamente o campeonato, impondo a lei do mais forte de forma inevitável e fatídica. Mas será errado olhar para as equipas que vão competindo e ombreando com esta super-potência?
Sérgio Conceição, treinador do FC Porto, na antevisão a um dos jogos perante o Bayer 04 Leverkusen, histórico clube alemão que esta temporada até está a sentir dificuldades, elogiou a Liga Alemã, afirmando mesmo que, para ele, “a Liga Alemã é a melhor liga do mundo”. Ora, certamente muitos poderão achar a afirmação exagerada, embora esta não seja mais do que uma opinião pessoal do treinador azul e branco, e cada um tem a sua. Ainda assim, a ideia principal passou: a de destacar a qualidade e competitividade de uma Liga que consegue ter uma equipa como o Bayer 04 Leverkusen em zona de descida à Segunda Liga. A ideia de destacar o quão interessante e “viciante”, à falta de expressão mais adequada para o efeito, pode ser ver um jogo da Liga Alemã, só rivalizada pela quase utópica Liga Inglesa, na minha opinião, claro. A todos aqueles que duvidam da afirmação de Sérgio Conceição, pelo menos parcialmente, também para mim exagerada, aconselho vivamente a que assistam à Liga Alemã com mais atenção, poderão ter surpresas.
Final whistle. #SGEB04 I 5-1 I 90′ pic.twitter.com/hdc4aMQeh7
— Bayer 04 Leverkusen (@bayer04_en) October 15, 2022
Não querendo tornar este artigo uma dissertação sobre cada uma das equipas que vão compondo os primeiros dez lugares da tabela, resta destacar a forma como o tabuleiro parece estar invertido. BVB Dortmund e RB Leipzig assumiam-se, à partida para o arranque, como as duas equipas capazes de destronar, ou pelo menos incomodar, o atual campeão. À passagem da décima jornada, as equipas encontram-se separadas por dois pontos, mas em oitavo e décimo lugar, ainda que não longe pontualmente dos lugares cimeiros. Se o Leipzig não começou bem, Marco Rose vai tentando remediar a situação, já o BVB Dortmund parece demonstrar a mesma inconsistência dos últimos anos.
Lá na frente, o FC Union Berlin vai brilhando, movido pela qualidade de jogadores-chave como Sheraldo Becker, Jordan Siebatcheu ou Janik Haberer e, por exemplo, os defesas Diogo Leite e Robin Knoche. A capital alemã precisava disto! Que continue por mais jornadas!
Coladas ao topo seguem também equipas como o SC Friburgo, TSG Hoffenheim ou Eintracht Frankfurt que, mantendo a mesma base, conseguiram melhorar, e muito, o nível qualitativo nos seus desempenhos.
Trabalha-se bem na Alemanha o desporto e, essencialmente, a forma como se potenciam os projetos desportivos no seu todo. Talvez, mas só talvez, Portugal pudesse aprender algo com as metodologias aplicadas. Com o tempo, vamos lá…