Um campeonato do mundo e uma Taça das Confederações no currículo não é, convenhamos, um registo habitual para um jogador de 23 anos. Ser capitão de uma seleção ‘A’ campeã, com esta idade, menos habitual será.
É certo que há um contexto que explica o facto de Julian Draxler ter usado a braçadeira de capitão na Rússia e tem que ver com a aposta, nesta prova, de Joachim Low, num tubo de ensaio com vários atletas a um ano de distância do mundial no país russo.
O 7 da Mannschaft adota o perfil do craque, do que “joga muito e dá a jogar”. Pode funcionar a partir da extrema esquerda, como mais centrado nas costas dos avançados, mas é nas entrelinhas que gosta de soltar a criatividade, a visão de jogo, a capacidade no 1×1.
Falar dos ídolos de infância é uma forma de nos conhecermos a nós próprios. Zidane era o ídolo de Julian. Draxler é o nome hoje estampado na camisola. O número é menos importante. O jovem alemão decide como um 10, é letal como um 7 e até sabe organizar como um 8.
Aos 17 anos, tornou-se o mais jovem a jogar pelo Schalke 04 e o quarto mais novo a estrear-se na Bundesliga. Na altura, já o mítico colega de equipa, Raúl González, via nele um diamante.
Depois de, em 2015 se ter transferido por um valor recorde de vendas, do clube de Gelsenkirchen rumo ao Wolfsburgo, Julian Draxler chegou à Rússia após cumprir a primeira época ao serviço do PSG.
E, agora, este Draxler, mais europeu e menos alemão, mostrou ao mundo que tem liderança para combinar qualidade de jogo com sentido de coletivo. A cabeça que monitoriza as belas jogadas que prendem o adepto ao jogo é também a que monitoriza o coração de um líder que, neste, e voltemos à expressão que utilizei, tubo de ensaio, deu mostras de ser um grande candidato a brilhar no próximo Mundial.
Após a vitória na final diante do Chile, a entrega que lhe foi feita da Bola de Ouro a premiá-lo como Jogador do Torneio, apenas significou um ato académico e natural daquilo que acabou por ser o coroar individual de um campeão do coletivo…. ou não fosse ele o capitão.
Aos 23 anos, o virtuoso atacante Julian Draxler capitaneou a Alemanha na inédita conquista da Taça das Confederações 2017, na Rússia. Sob a sua batuta, outros futebolistas da nova geração…casos de Leon Goretzka, Joshua Kimmich, Timo Werner, Lars Stindl…
Nesta Taça das Confederações ganhou Joachim Low pela aposta, ganharam os atletas em quem apostou, e no final, ganhou a Alemanha. Sim, tudo certo.
Contudo, o escopo deste texto é salientar Julian Draxler, que, no meio da juventude, sobressaiu com a voz mais grave de quem toma as rédeas. Por vezes, o futebol mostra que a mais impactante vociferação autoritária pode provir apenas e só da autoridade da qualidade com que se joga. Draxler tem essa autoridade.
O futuro da Mannschaft passa pela arte de (Drax)ler o jogo.
Foto de Capa: Bleacher Report
artigo revisto por: Ana Ferreira