Está consumado o segundo título no Brasileirão para o Clube Atlético Mineiro. O Galo – carinhoso apelido por que é conhecido – logrou a liderança na classificação, fruto de uma campanha sólida e sem grandes sobressaltos.
Foi a equipe mais regular durante a campanha; provando-o, sem sombra de dúvida, com a apresentação do maior número de vitórias (25, para já), do menor número de derrotas (apenas cinco), e da melhor defesa (somente 27 golos sofridos).
Faz, deste modo, jus à velha máxima de que os ataques podem ganhar jogos, mas são as defesas, que, efetivamente, ganham campeonatos.
O Atlético venceu muitas partidas pela margem mínima (13), é verdade. Mas venceu-as. Isso, para somar os três pontos, é mais que suficiente.
Apesar de algumas escorregadelas, aqui e ali, conseguiu uma ótima série de 15 partidas sem conhecer o sabor da derrota, o que, no Campeonato Brasileiro de Futebol, significa amealhar pontos preciosos para se manter na frente. Depois… bom ,depois o Galão tomou conta da chácara e foi dono e senhor.
A equipa – sapientemente orientada por Cuca (que já havia vencido uma Libertadores pelo Clube, em 2013) – funciona como um coletivo fortíssimo, de onde se destaca a segurança do guarda-redes Éverson, a experiência dos estrangeiros Mauro Zaracho, Nacho Fernández, Júnior Alonso, Jefferson Savarino, e Eduardo Vargas – e, já agora, do hispano-brasileiro Diego Costa; mas também dos brasileiros Réver, Keno, Arana, Rabello e Tchê Tchê.
O dono da bola no @brasileirao! 17 gols e milhões de corações Atleticanos felizes. É o Hulk! 💪🏾🐔 pic.twitter.com/0AROqO1kzL
— Atlético 😷 (@Atletico) November 30, 2021
Mas a grande figura é o veterano Hulk, cujos 35 anos de idade não lhe parecem pesar nas pernas, apesar de ser um jogador fisicamente fortíssimo. Os 17 golos com a camisa alvinegra, ajudaram o Galão da Massa a cimentar o estatuto de campeão de Vera Cruz.
É impressionante como, passados exatamente 50 anos, este título tem tantas similaridades com o primeiro conquistado pelo Atlético, quando corria o ano de 1971.
O Brasil, como Portugal, estava mergulhado na sombra da ditadura, da qual Chico Buarque cantou que o dia seguinte seria outro. E foi, mas passados 15 anos… Depois disso, o Galo ainda esteve em várias finais do Campeonato Brasileiro – o modelo antigo era jogado por grupos e, depois, eliminatórias – mas nunca mais desfrutou da alegria do primeiro lugar.
O Atlético, ao longo dos anos, ficaria conhecido como um Clube sem sorte, fruto de algumas injustiças arbitrais e protocolares. Mesmo assim, conseguiu vencer a Taça dos Libertadores da América, em 2013 – o maior troféu continental, como foi referido – e a Copa do Brasil, na temporada de 2014.
Voltando ao presente, o modo como Hulk celebrou o segundo golo frente ao Fluminense foi a homenagem perfeita para Reinaldo (antiga glória dos Mineiros – que estava na bancada, diga-se).
O punho erguido, tal como nos anos 70 em protesto contra a ditadura, demonstra não só carinho por um ídolo dos alvinegros de Belo Horizonte, mas, igualmente, uma consciência social que honra os pergaminhos do próprio Clube.
Consubstanciando-se, o Galo de Minas Gerais, num clube da massa, operário, do povo.
Hoje o Galo cantou de alegria. Soltou o grito de “Campeão!” entalado no gogó havia 50 anos.
Quando, em 1908, um grupo de estudantes de classe média fundou o Clube Atlético Mineiro, estaria longe de imaginar que o Galo, seria, de facto, um Galão.
Um Clube onde se sofre, mas onde a alegria de ser atleticano supera. O Alvinegro do Mineirão.