«Sabemos que é complicado, o Barcelona é uma das melhores equipas do Mundo, senão a melhor» | BnR à conversa com Antonio Paz, secretário técnico do Unionistas Salamanca

    O Unionistas de Salamanca está a ser um dos destaques da Taça do Rei. O emblema salmantino irá defrontar o Barcelona, na próxima quinta-feira.

    O Unionistas de Salamanca está a ser o grande destaque da edição da Taça do Rei 2023/24, conseguindo um lugar nos oitavos de final da prova, onde irá enfrentar o Barcelona. Nascido em 2013, através de adeptos da extinta UD Salamanca (por onde passaram alguns portugueses, como Pauleta ou João Alves), a turma de Castela e Leão tem na sua base de criação e crescimento o futebol popular, com uma íntima ligação com os sócios. Afinal, são eles que tomam as decisões relacionadas com a instituição. A área social é algo fundamental neste projeto, com o Unionistas a promover uma série de atividades com o intuito de apoiar as mais diversas áreas da sociedade.

    Com o Estádio Reina Sofia praticamente sempre cheio, o Unionistas já eliminou na Taça do Rei o Real Sporting de Gijón e o Villarreal, com o último encontro a ser épico. Dividido em dois dias, devido a um problema da iluminação, a eliminatória dos 16avos de final ficará na história dos salmantinos. No domingo, empataram o encontro, por intermédio de Alfred Planas. Na segunda-feira, deram espetáculo no prolongamento, acabando por levar a partida para as grandes penalidades. Kiko Femenía falhou o tento decisivo e o estádio e a cidade entraram em apoteose.

    O Bola na Rede teve o prazer de conversar com Antonio Paz, secretário técnico do Unionistas de Salamanca, que nos descreveu como têm sido estes últimos dias, de um emblema que, mesmo estando no terceiro escalão do futebol espanhol, continua a fazer história.

    BnR: Tens muitos anos de Unionistas de Salamanca, clube onde és dirigente, mas já foste jogador. Como é para ti viveres este momento?

    Antonio Paz: Bom, este clube é um sonho. Parece que quando não te pode surpreender mais, consegue-o. Vivemos algo assim na eliminatória frente ao Real Madrid, há quatro temporadas e já era algo inimaginável, quando na altura o clube tinha somente seis anos. Passarmos uma eliminatória contra uma equipa de La Liga e de Europa League, como é o Villarreal, e agora enfrentarmos o Barcelona deixa-me muito orgulhoso e muito feliz. Estou consciente que é algo muito difícil de atingir, porque sei como era o clube há dez anos atrás e o que evoluímos até ao momento. O bom trabalho levou-nos a este ponto.

    BnR: Falando um pouco do desafio contra o Villarreal, como se sentiu o Reina Sofia depois dos golos de Ilias Akhomach e de Alfred Planas?

    Antonio Paz: Era uma partida em que não estava tão nervoso, não havia a pressão de ter que ganhar como existe no campeonato, mas a equipa estava muito bem, estávamos a ser superiores ao Villarreal. Metemos um golo pelo Asier Tejeira, que nos foi anulado, mas o público estava totalmente connosco, apertou com o campo. Tivemos ainda duas boas ocasiões e estávamos bem dentro da partida. Depois veio a grande penalidade, eu nem a vi, não a quis ver, preferi que a bancada o celebrasse e depois o encontro foi a prolongamento e aconteceu toda a situação da iluminação.

    BnR: Devido ao problema de iluminação, o prolongamento teve que se jogar no dia seguinte. Como foi passada essa noite? Suponho que houve alguma ansiedade…

    Antonio Paz: Sim. Estivemos no túnel a falar com os árbitros, com o Villarreal, o que se ia passar, se íamos a jogar, esse extra-futebol que é divertido de viver. Depois de algum tempo no escritório, onde ficaram o diretor geral, o presidente, o vice-presidente, eu estive la com eles um pouco, para vermos quando se ia jogar, ficámos com uma sensação… estávamos a jogar muito bem, caso o jogo fosse adiado não havia certeza de poder termos público na bancada… foi uma situação estranha, tínhamos vontade de ganhar no prolongamento. Foram 24 horas, mas foram muito, mas mesmo muito intensas, parecia que tinha passado uma semana.

    BnR: Houve sempre a crença no apuramento?

    Antonio Paz: Claro, competimos muito bem, tínhamos muito boas sensações. Sentíamo-nos poderosos e dominantes em casa, mas é certo que víamos um pouco mal jogarmos no dia seguinte. O Villarreal podia estudar-nos durante a noite, podia vir menos gente porque era dia laboral. Tínhamos a sensação que o adiamento não nos tinha vindo assim tão bem.

    BnR: Por felicidade o Reina Sofia estava cheio, como quase sempre. Como se sentiu o estádio depois do penálti falhado pelo Kiko Femenía. Como foi a festa no vestuário e no estádio?

    Antonio Paz: Uma loucura. Nunca fui de ver as grandes penalidades, nem quando era jogador, mas desta vez vi. Quando começamos a marcar primeiro parece que funciona melhor para nós. Quando terminou, desci rapidamente para o relvado, mal pude. Abracei-me com o corpo técnico, com os jogadores, com membros do clube, as pessoas cantavam canções do clube, da cidade, via a minha mãe, a minha tia, a minha família, todos emocionados na bancada. Afinal rompemos outra barreira, foi mais um feito. Acho que o merecíamos por tudo o que temos passado, pelas viagens que temos feito. Eu e o diretor desportivo vamos sempre com a equipa.  13 horas de autocarro desde a Catalunha depois de um jogo contra o Cornellà, ida e volta, depois também tivemos alguns resultados maus. Merecemos ter alguns feitos destes, de vez em quando (risos).

    BnR: E já voltaram a treinar as grandes penalidades?

    Antonio Paz: Ainda não, sei que não. A equipa está concentrada no próximo jogo contra o Rayo Majadahonda. Acredito que o façam, porque é necessário, mas sei que não o treinaram tanto contra o Villarreal. Porém, temos grandes profissionais, são jogadores de um nível muito alto. Contra o Barcelona oxalá se possa ganhar nas grandes penalidades, significa que o jogo ficou empatado (risos).

    BnR: Achas que este é o ponto mais alto da história do Unionistas, depois de tudo o que passou o clube?

    Antonio Paz: Sem dúvida que é um dos pontos mais altos. Ganhar a uma equipa da La Liga, na tua nova casa, com o clube a estabilizar e a crescer dentro de si mesmo, dentro essa estrutura de trabalhadores, com tudo mais profissionalizado. Estamos num ponto alto. Ao nível de campeonato já estivemos em situações melhores, já roçámos o play-off da Segunda Divisão, oxalá consigamos chegar lá rapidamente. Porém, é como te digo, eliminarmos o Villarreal e receber o Barcelona é quase o topo, mas não o teto. Já o dissemos no começo, este clube não tem teto.

    BnR: O que espera o clube do desafio contra o Barcelona?

    Antonio Paz: Vai ser uma festa. O campo vai estar cheio, acho que a maioria das pessoas vai estar a apoiar-nos, vai estar connosco. É verdade que há alguns adeptos do Barcelona em Salamanca, mas há muitos que têm carinho ao Unionistas. Acima de tudo também queremos competir, como competimos contra o Villarreal. Sabemos que é complicado, o Barcelona é uma das melhores equipas do Mundo, senão a melhor. É difícil, mas no fundo junta-se tudo, os nossos adeptos, o nosso estádio, a ilusão, o não ter nada a perder. Sabemos que é futebol. Sobre tudo queremos que seja competitivo e divertido.

    BnR: Acreditas certamente que o plantel vai estar ao nível do desafio…

    Antonio Paz: Claro, sem dúvida. Os rapazes à parte da ilusão sabem o que estas partidas valem. Ao nível individual, sabem que uma boa exibição neste jogo pode levá-los a receber um contrato na Segunda Divisão, numa categoria superior. Aconteceu na altura em que defrontámos o Real Madrid. São muito profissionais, já não é como há muitos anos, quando no terceiro escalão os jogadores ainda trabalhavam e o futebol era um hobbie. Recebem um bom salário. Neste momento, eles levantam-se e vão treinar. Antigamente a diferença entre escalões, neste tema, era muito maior.

    BnR: Parece-me justo dizer que vão ter os holofotes do futebol nacional em cima de vocês. Acreditas que muita gente vai-se identificar com o projeto?

    Antonio Paz: Oxalá. Mesmo que não se identifiquem, gostava muito que conhecessem este projeto e que entendam o que é isto do futebol popular, que é outra maneira de ver o futebol, de sentir o desporto, de senti-lo muito próprio. Sentes o clube porque te pertence, tu tomas decisões sobre ele. Com este modelo de gestão, sobretudo a nível económico, também é importante a nível social, que se consiga competir assim. Todo o mundo vai-nos ver. Que saia daqui algumas iniciativas. Imagina que na Escócia pensam: «Vejam bem como eles fizeram, vamo-nos juntar, fazer uma boa gestão e sonhar crescer assim». Estamos numa altura em que a Supertaça vai para a Arábia. O nosso tipo de futebol é diferente e pode levar-te ao êxito.

    BnR: Quando foi feito o planeamento da época, qual era o verdadeiro objetivo do Unionistas nesta edição da Taça?

    Antonio Paz: Queríamos passar a primeira fase, que sabíamos que seria contra um adversário de categoria inferior. E depois termos outra eliminatória no Reina Sofia. Se houvesse a possibilidade de vir uma equipa de La Liga, melhor. Porém, veio o Sporting Gijón que é um histórico e criámos um grande nível em termos de ambiente. Essa primeira eliminatória era o grande objetivo, mesmo em termos económicos. A partir daí, depois de eliminares o Sporting, tudo o que viesse era um presente. Chegou o Villarreal, numa boa data, no fim de semana dos Reis. Se isto não for uma bela prenda, não sei o que será. É todo o saco do Pai Natal.

    Como consegue o Dani Ponz manter o balneário concentrado para a partida com o Rayo Majadahonda, quando se vai jogar com o Barcelona dias depois?

    Antonio Paz: Sendo chato, sendo exigente. Mesmo os que estamos no corpo técnico tentámos que os jogadores mantenham sempre o foco no próximo jogo. O que lhes dá de comer, o nosso trabalho, depende do campeonato e alcançar o objetivo do clube, que é salvar-se em maio. Queremos estar na melhor posição possível e isso passa pelo campeonato. O Rayo Majadahonda é um rival direto, o jogo é na nossa casa. Temos essa vontade de jogar contra eles, porque contra os adversários dessa zona inferior as coisas não nos estão a sair tão bem em casa, os golos estão a custar-nos a sair, com várias partidas de marcador 0-0, alguns desses jogos souberam a derrota. Queremos mudar isso. Isto não é discurso, é a realidade. No sábado vou estar nervoso, na quinta-feira não. Esta é a realidade do Unionistas.

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