Poucos se lembrarão do central que jogou ao lado de Hierro no centro da defesa da seleção espanhola no Euro’2000. Não, não era o Abelardo. Era o outro central, cabeludo, que jogava no Saragoça e que, como se vê, não nos deixou grandes recordações enquanto jogador. Agora tudo é diferente. A cabeça já não conserva qualquer cabelo e Paco Jémez, o novo treinador do Granada, não passa despercebido a ninguém.
“No dia em que repartiram inteligência, calhou-me pouco, mas quando repartiram “tomates” calharam-me os maiores”, disse, um dia, antes de visitar o Santiago Bernabéu. E, mais do que nalguns confrontos com jogadores ou nas declarações polémicas que gosta de fazer, essa coragem vê-se na forma como Paco Jémez enfrenta cada partida. Tem uma ideia de jogo e mantém-se fiel à mesma em qualquer circunstância. Quer ter a posse de bola e sair a jogar desde trás em passes curtos. Fá-lo mesmo que treine uma equipa que luta para não descer, como era o Rayo Vallecano. Fá-lo mesmo que essa equipa se encontre a jogar com apenas nove jogadores em casa do Real Madrid, desde os 28 minutos de jogo. Nesse dia, o Rayo perdeu por 10 – 2. Perdeu o jogo, mas nunca perdeu a identidade. Resta saber se se trata apenas de coragem ou se não será também um pouco de loucura.
Foi com esse futebol de posse que conseguiu a melhor classificação da história do Rayo, o oitavo lugar em 2012-13. Foi também assim que desceu de divisão, em 2015-16, e já deu para perceber nesta pré-época que será assim que colocará o Granada a jogar. Na saída para o ataque, um médio desce para o meio dos centrais e o jogo de pés do guarda-redes é solicitado frequentemente para ajudar também na circulação da bola. O amigável com o Sevilha, que foi o único da pré-temporada frente a uma equipa da La Liga e que o Granada perdeu por 0-2, mostrou um pouco do que podemos esperar durante a época. Veremos belíssimos momentos de futebol, ao melhor estilo tiki-taka, quando o Granada conseguir superar a pressão adversária, fazendo a bola chegar aos seus velozes atacantes, como Boga, Machís ou Cuenca. Veremos também momentos aflitivos com passes arriscados na defesa e golos sofridos por perdas de bola cá atrás, causados pela recusa em fazer um alívio ou dar um chutão para a frente quando necessário.