Real Madrid CF, Juventus FC, Real Madrid CF (novamente), Chelsea FC e agora Club Atlético de Madrid. À primeira vista, Álvaro Morata tem uma carreira digna de um dos melhores jogadores do mundo. Se juntarmos a isto os seus 15 troféus a nível sénior e os seus 95 golos, com apenas 26 anos, seria fácil assumir que o avançado espanhol tem tudo para ser considerado um atleta de elite.
Então, porque é que Morata chega ao Atlético de Madrid, vindo do Chelsea, com o rótulo de flop?
Pelas estatísticas, pouco se pode dizer acerca da estadia do avançado em Londres. 24 golos em 72 jogos é um número aceitável, especialmente comparado com os 27 em 93 que registou na Juventus, entre 2014 e 2016.
Se juntarmos a isto as seis assistências que registou pelos blues e as 19 pelos bianchoneri, percebemos que Morata não se cinge à posição nove e, se necessário, conegue fornecer boas oportunidades aos colegas de equipa. Foi no Real Madrid que teve mais sucesso, ao longo de duas estadias distintas – 2012 a 2014 e 2016/17 -, em que fez 31 golos e 12 assistências em 95 jogos, nos quais há que ter em conta o período de transição que o espanhol fez entre as camadas jovens e a equipa principal.
Álvaro Morata não é um jogador sem capacidade técnica: é inteligente no seu posicionamento, forte fisicamente e potente a rematar, tanto com a cabeça como com o pé. Também não tem uma mentalidade fraca, ainda que Antonio Conte, o seu treinador no Chelsea na época passada, o tenha acusado de tal.
Se assim fosse, não teria aguentado a rejeição inicial do clube que o formou, o Real Madrid, para depois voltar e conquistar uma Liga dos Campeões em 2017, nem a capacidade psicológica para sair voluntariamente do clube quando achou que não estava a ser respeitado.
Acima de tudo, o espanhol é, à imagem do seu colega de equipa Olivier Giroud, uma vítima das expectativas dos adeptos ingleses, os mais exigentes da Europa. Depois da Supertaça Inglesa de 2017, onde o Chelsea perdeu nas grandes penalidades para o Arsenal FC e Morata falhou um dos penáltis, o jogador disse, em declarações ao The Guardian: “joguei 15 minutos, falhei um penálti e já me estão a matar! Por isso, já sei o que esperar”.
Mesmo que soubesse o que esperar, nada pôde fazer para o evitar. Apesar do bom início de carreira em Stamford Bridge, que levou muitos adeptos a cantar o seu nome, uma lesão mudou o rumo da sua vida nos blues. Quando regressou, naturalmente, Morata tinha de recuperar a confiança, retomar o seu ritmo de jogo.
Mas o futebol inglês não lhe permite esse luxo. Depois de dois ou três jogos sem registar um tento, os adeptos que outrora o aclamavam queriam agora um novo ponta de lança. Iniciou um ciclo vicioso, em que o jogador não conseguiu recuperar a boa forma com que entrara na Premier League e os adeptos, impacientes, continuavam a criticá-lo.
Se há um bom exemplo da mentalidade inglesa no que toca aos pontas de lança, basta ver um vídeo de cerca de três minutos , onde estão compilados alguns supostos “falhanços” do espanhol com a camisola do Chelsea FC.
Enquanto algumas eram de facto oportunidades claras de golo, o que apenas representa a falta de confiança de Morata, outras eram ocasiões extremamente complicadas de concretizar, mas que ainda assim merceram ser retratadas como prova da falta de talento do jogador.
Com Maurizio Sarri a não inserir o jogador num estilo de jogo que priviegia Giroud e Hazard sobretudo, Morata ruma ao Atlético de Madrid, com o Chelsea a trazer para o seu lugar Gonzalo Higuaín.
De volta à cidade onde foi formado, ao futebol onde cresceu, talvez possamos finalmente ver o espanhol no seu melhor. Com 26 anos, ainda tem tempo para retirar o estatuto de flop que lhe foi injustamente atribuído e, quem sabe, cimentar o estatuto de estrela no Wanda Metropolitano.
Foto de Capa: UEFA
Artigo revisto por: Jorge Neves