Erik Ten Hag chegou a Manchester por mérito próprio, muito por causa do seu enorme sucesso em Amesterdão, ao serviço do Ajax.
Tomado como um homem inteligente, um treinador moderno com ideias muito vincadas, Ten Hag assumia no Manchester United o seu primeiro grande desafio na carreira, numa cabine que já viu passar os melhores treinadores do mundo, e que nem eles conseguiram afastar o fantasma de Sir Alex Ferguson.
Confiante, Ten Hag, numa das suas primeiras intervenções como comandante dos “red devils”, tentou de certa forma beliscar Klopp e Guardiola, e tentar puxar para si ainda mais confiança da massa associativa e dos entendidos na matéria que é o futebol.
Pois bem, correu redondamente mal, aliás diria até pior que isso, não fosse este um texto para leitura pública. Na minha opinião, o técnico nunca demonstrou realmente qualidade e pergaminhos para estar à frente de um clube como o grande Manchester United, sendo que por vezes o próprio quase desvalorizava as más prestações da sua equipa e tornava o United uma instituição pequena.
Quando falamos nos red devils, falamos de uma das maiores equipas do mundo, quer a nível financeiro, quer ao nível da sua massa associativa, que é mesmo muito grande quando comparada com outras realidades, e que por isso exige sempre mais aos intérpretes que a representam dentro de campo.
Ao longo destas quase três épocas em Old Trafford somou 72 vitórias em 128 jogos oficiais disputados, com um futebol sempre muito pobre em comparação aquilo que tinha feito anteriormente e sempre sem conseguir gerir de forma eficaz a sua equipa.
Veja-se o icónico caso de Cristiano Ronaldo, em que Ten Hag lidou com a situação de uma forma demasiado brusca e sem sentido, quando estávamos na presença e um símbolo do jogo. Um jogador que na época transata à chegada do técnico a Manchester tinha sido o motor da equipa, mas que tinha logicamente uma moral e um efeito no balneário que outros não tinham nem podiam ter.
A sua inexperiência ficou bem vincada, não só nessa situação, mas em tantas outras, mostrando-se sempre teimoso em relação à sua perceção sobre a realidade da equipa, e nunca conseguindo aproveitar bem a matéria que tinha nas mãos.
A situação veio a arrastar-se demasiado tempo, e nem o próprio conseguiu adiar o inevitável, mas ainda tentou, ao resgatar alguns dos jogadores que trabalharam anteriormente consigo, numa tentativa desesperada de voltar a “reunir a banda” para poder triunfar novamente, contratando jogadores como Onana, Lisandro, Antony, Mazraoui…
Nem sempre somos felizes quando voltamos a um sítio ou a uma realidade onde já fomos, e Ten Hag é a prova viva disso, sobretudo por sua própria culpa.
Em jeito de conclusão, queria dizer apenas que esta situação era inevitável, que peca por tardia. Ten Hag já devia ter abandonado o comando técnico do gigante inglês há muito tempo, e que é uma conclusão, ou uma consequência se quisermos, negativa do sucesso que teve anteriormente que o elevou a patamares emocionais mais altos, e que o fez acreditar que podia assumir este desafio de ânimo leve.
E com isto não quero descurar e criticar todo o trabalho que realizou antes e durante a sua passagem por Inglaterra. Quero, sim, especificar que nem sempre os treinadores estão preparados animicamente, taticamente, psicologicamente para este tipo de desafios. Digo isto porque estamos a falar de uma equipa muito grande, que nos últimos anos teve muitos sucessos sob o comando de Alex Ferguson, e que espera obviamente que as vitórias sejam o prato do dia na sua realidade.
No entanto, não posso só criticar Ten Hag e dizer que a culpa é exclusivamente sua, acredito que a estrutura do United também tem muita culpa nesta questão. Tal acontece porque há muito tempo que deixa os treinadores por sua própria conta, sem apoio, sem organização, sem rumo… foi assim com Mourinho, com Moyes, com Solksjaer, enfim…
Por isso, há que reestruturar primeiro o clube e perceber quem faz realmente falta, e quem não faz assim tanta falta para além, claro, de pensar no plantel de forma clara e sucinta, porque para mim essa é outra das lacunas desta gestão danosa que tem vindo a ser praticada durante largos anos.
O clube gasta muito dinheiro em muitos jogadores, alguns que provavelmente nem justificam tamanho investimento, e depois não os consegue colocar noutros clubes sem perder dinheiro, porque obviamente os jogadores desvalorizam devido às más prestações desportivas os invés de elevarem o seu valor desportivo.
Não posso terminar este tema sem mencionar a iminente chegada de Rúben Amorim a Old Trafford, naquela que será a jogada de mestre do United para substituir Ten Hag. Sendo um fã assumido de Amorim, acredito que se existe alguém que pode bater o pé e exigir que as coisas sejam feitas mais à sua maneira, esse alguém é o atual técnico do Sporting.
Ao que tudo indica, as negociações estão em marcha e o relógio está a contar para que Amorim inicie esta nova etapa na sua carreira, mais que merecida, e que assenta muito bem, tendo em conta tudo o que já apresentou até agora.