Renato Sanches: O beco tem de ter saída

    Cabeçalho Liga InglesaDesde que surgiu na equipa principal do Benfica, no final de 2015, já praticamente se disse e escreveu tudo sobre Renato Sanches. A sua ascensão meteórica, desde jogador da equipa B até Golden Boy, transferindo-se pelo meio para o FC Bayern Munique, e sagrando-se campeão europeu por Portugal, está bem documentada.

    Durante estes dois anos debaixo dos holofotes, Renato conseguiu dividir o público em geral. Os seus defensores vêem nele um talento único, um jogador que, para além da qualidade futebolística, carrega consigo um carisma e uma ingenuidade raros no futebol atual. Os seus detratores, por outro lado, acham-no um jogador sobrevalorizado, que alcançou o seu estatuto levado ao colo pela comunicação social em Portugal.

    Se é óbvio que a verdade está no meio destas duas posições, é, também, possível afirmar que está mais próxima da primeira do que da segunda: Renato é um jogador verdadeiramente talentoso.

    Com velocidade, força, técnica, boa capacidade de passe, e um bom remate, para além de uma grande aptidão para assumir o jogo nos momentos mais difíceis, o jovem português tem todas as características de um futebolista de topo. As dificuldades de adaptação, quer no Bayern, quer no seu novo clube, o Swansea AFC, e os consequentes retrocessos na carreira de alguém que, com 18 anos, apresentava já um currículo impressionante, são os pontos fundamentais duma das histórias mais contraditórias do futebol no século XXI.

    Embora tenha apenas 20 anos, e possua tudo o que é preciso para se afirmar em definitivo como um grande jogador, Renato Sanches já deu indicadores de poder ser alguém que se desinteressou pelo futebol. A sua personalidade descontraída, e o seu estilo inconfundível, tornaram-no um ícone para os jovens em Portugal, e, durante um tempo, até à conquista do Euro 2016, o jovem médio conseguiu conciliar as boas exibições em campo com a imagem apelativa que criava fora dele. Mas, após a chegada ao Bayern, o confronto com as expectativas desportivas em seu redor, mais a frieza do público alemão, atiraram Renato para uma situação complicada. Longe do fanatismo de que era alvo no Benfica, onde a sua atitude irreverente era bem vista, e até apoiada, pelos adeptos, é provável que o jovem se tenha sentido isolado, incompreendido até. Foi na Alemanha que se começou a ver um Renato Sanches mais introvertido, sem a alegria contagiante que se conhecia até então. O “Bulo” carregou essa insatisfação para os relvados, e as exibições refletiram isso mesmo: um jogador desconcentrado, desorientado, pouco entusiasmado. A falta de minutos de jogo, e a pouca importância que lhe foi atribúida no plantel, contribuíram para o seu mal-estar geral.

    Com o empréstimo ao Swansea, já no decorrer desta época, Renato Sanches voltou a ser notícia pela Europa fora.

    Apontado como o melhor reforço do último dia de mercado, na Premier League, o médio foi recebido com curiosidade em Inglaterra, ficando alguns meios de comunicação incrédulos com o facto de um jogador da sua qualidade reforçar uma equipa que luta para não descer.

    Na verdade, a mudança para o Swansea tinha tudo para correr bem: um treinador, Paul Clement, que o conhecia bem, e que tinha trabalhado com ele no Bayern; um campeonato que, devido às suas características de jogo, é o ideal para o jogador voltar ao seu nível habitual; uma equipa pequena, mas que se reforçou bem no Verão, e onde Renato Sanches poderia jogar sem pressão.

    Renato Sanches ainda não se conseguiu afirmar na Premier League Fonte: Swansea AFC
    Renato Sanches ainda não se conseguiu afirmar na Premier League
    Fonte: Swansea AFC

    Mas, mais uma vez, as coisas não têm corrido bem. O Swansea encontra-se atualmente em 19º lugar na Premier League, tendo somado derrotas nos três últimos jogos. O médio português participou em apenas cinco encontros até agora, e ainda não fez nenhuma exibição de grande qualidade. O seu contributo de maior destaque foi uma assistência para golo, na Taça da Liga, frente ao Reading.

    É normal que, após conquistar títulos em dois países diferentes, se ter sagrado campeão europeu de seleções, e de ter sido considerado o melhor jogador do mundo sub-20, Renato Sanches não encontre motivação para ajudar um clube a fugir à despromoção. Talvez faça o melhor que possa, mas, subconscientemente, o jogador está ciente de que está a atuar num patamar inferior à sua qualidade. A mudança para o País de Gales, provavelmente aconselhada pelo seu empresário, como um bom passo para o médio recuperar o gosto pelo futebol, acabou por ser prejudicial.

    A personalidade de um jogador é muito importante, e não foi tida em conta, no caso de Renato Sanches. O jogador português precisa de jogar num clube ao seu nível, mas onde lhe seja permitido errar, sobretudo quando se trata de alguém que gosta de ter a bola e ser protagonista. Para além disso, precisa de um balneário e de um grupo de adeptos que o apoie, e que o deixe ser como é, não tentando moldá-lo consoante as necessidades da equipa. Só sentindo-se apoiado, e parte integrante dum clube, pode Renato recuperar o entusiasmo pelo futebol.

    Não são muitos os jogadores atuais com uma personalidade expansiva e cativante; Renato Sanches é um deles. O seu estilo de jogo enérgico e, muitas vezes, alucinado, remonta-nos a um futebol mais sincero e autêntico, muitas vezes perdido entre conceitos táticos na Europa. Descartar isto tudo, e não vê-lo brilhar nos relvados, seria um grande desperdício.

     Foto de Capa: Swansea AFC

    artigo revisto por: Ana Ferreira

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    Guilherme Malheiro
    Guilherme Malheiro
    É na música e no futebol que encontra a sua inspiração. Quando escreve, gosta de manter escondido o lado de adepto. Também gosta de ténis, snooker e boxe.                                                                                                                                                 O Guilherme não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.