Sérgio Conceição entrou com o pé direito em Itália (ou melhor, na Arábia Saudita) no seu regresso a um clube transalpino, desta vez como treinador. Duas remontadas “de raça” deram ao AC Milan a Supertaça italiana e mostraram que o técnico português poderia rapidamente corrigir uma das debilidades da equipa rossonera: a falta de garra.
No retomar da Série A, os resultados puxaram os adeptos de volta à Terra. Um empate na receção ao Cagliari, uma vitória não muito tranquila em Como e finalmente a derrota no reencontro com a Juventus mostraram que há trabalho a fazer e que a escalada até aos lugares de acesso à Champions League não será “favas contadas”.
A saída de Paulo Fonseca para entrada de Conceição implicou uma adaptação dos jogadores a ideias táticas diferentes. A conversão do 4-2-3-1 num 4-3-3, que era também característico da passagem de Conceição pelo FC Porto, acaba por ser talvez a mudança mais subtil. Mais notória é a aplicação de um estilo de jogo direto e vertical, em oposição ao futebol mais “rendilhado” do qual Fonseca era apologista.
A primazia à solidez defensiva e à transição rápida para o momento ofensivo são a tradução prática das palavras do novo técnico do Milan: “Para mim, tiki-taka é meter a bola lá dentro.” Protagonistas como Theo Hernandéz e Fikayo Tomori, defesas já bem estabelecidos no plantel e com um papel de liderança, serão fulcrais para aplicar este princípio. No setor atacante, o português Rafael Leão continua a ser uma arma letal, muito graças à sua velocidade e tranquilidade com bola, dando sempre a ideia de que pode ainda melhorar.
No passado sábado aconteceu a primeira derrota do Milan no novo ano, numa vingança que se serviu, como sempre, fria. No Allianz Stadium, a equipa de Milão foi mais perigosa durante quase todo o primeiro tempo, pecando pelo desperdício das várias oportunidades de golo. Após o intervalo, uma entrada em falso permitiu dois golos quase seguidos da equipa de Thiago Motta e ditou uma derrota que complica bastante as contas do campeonato para os rossoneri. Sérgio Conceição foi incisivo nos seus comentários após o encontro, realçando que o primeiro passo para chegar à vitória é querer vencer.
Quem recorda os tempos de Maldini, Seedorf, Gattuso ou Inzaghi, lamenta o declínio que se verificou no clube de San Siro, que tem tido recentemente dificuldades para manter o nível competitivo, conseguindo apenas um título da Serie A nos últimos 14 anos (em 2021/22). Após a saída destas e outras lendas do clube, sucessivos “erros de casting” na tentativa de renovar o plantel coincidiram com a ascensão vertiginosa de alguns rivais, atenuando o estatuto de gigante do AC Milan e afastando o clube da Champions League por oito épocas.
Sérgio Conceição mostrou no FC Porto capacidade para fazer muito com recursos limitados. Em Milão, espera-se que o técnico português tenha um impacto mais positivo que o compatriota que o antecedeu e consiga devolver o AC Milan à glória do início do século.
No entanto, as semelhanças entre a Serie A e a Primeira Liga portuguesa são escassas, principalmente do que diz respeito ao nível de competitividade. Para atingir o topo no futebol italiano, haverá então necessidade de reforçar a equipa de forma cirúrgica. A profundidade do plantel será fundamental para disputar com regularidade os troféus domésticos e europeus, algo de que os adeptos milaneses certamente sentirão falta.