Na temporada 2024/2025, o Bolonha estará de regresso à UEFA Champions League. Após 59 anos de ausência, o hino da principal competição europeia voltará a ouvir-se no Estádio Renato Dall’Ara. Um feito notório por parte dos Rossoblù. Uma equipa com uma identidade própria que espelha exemplarmente a filosofia do seu técnico Thiago Motta.
Apesar da glória vivida na época presente, o treinador ítalo-brasileiro e o emblema do norte de Itália irão seguir caminhos distintos na temporada seguinte. O antigo centro campista de Barcelona e Paris Saint Germain está de malas feitas para Turim onde vai substituir Massimiliano Allegri no comando técnico da Juventus.
A divergência de estilos é por demais clarividente. Allegri prioriza a eficácia defensiva, enquanto Thiago Motta se baseia numa ideia de proatividade com e sem bola. No curto-prazo o trabalho do treinador de 41 anos é de elevada dificuldade. Por um lado, os problemas financeiros e algumas limitações de plantel da Vecchia Signora dificultam a implementação das dinâmicas pretendidas por Thiago Motta. Por outro lado, trata-se de um clube muito resultadista e tendo em conta o que foi referido anteriormente, pode enfrentar alguma resistência. A supremacia do Inter de Milão e o crescimento da Atalanta complicam ainda mais a imposição do emblema de Turim, contudo a aposta em Thiago Motta é mais do que válida e irá certamente gerar frutos.
Massimiliano Allegri vs Thiago Motta
Massimiliano Allegri privilegia a solidez defensiva em vez do processo ofensivo. O foco está em controlar o espaço e não a bola. Não tem problemas em defender em zonas mais recuadas do campo e de seguida desenvolver contra-ataques rápidos. Esta abordagem do italiano foi bem-sucedida na primeira passagem do técnico pelo emblema de Turim entre 2014 e 2019. Contudo, esta segunda passagem não foi propriamente positiva. A Vecchia Signora apenas conquistou um título em três temporadas.
Do ponto de vista tático, Thiago Motta era um jogador extraordinariamente desenvolvido, tendo sido o Bolonha um espelho daquilo que foi o antigo médio ítalo-brasileiro. Com processos complexos e exigentes, um grande dinamismo na construção e índices de agressividade elevados na transição defensiva. Thiago Motta valoriza o jogo posicional, destacando que um mesmo espaço pode ser ocupado por diferentes jogadores ao longo da partida. Em adição, prioriza o jogo relacional que dá ênfase às relações/combinações entre jogadores, algo igualmente bem visível em técnicos como Carlo Ancelotti e Fernando Diniz.
Thiago Motta em contexto Juventus
A aposta em Thiago Motta representa uma mudança revolucionária no panorama da Juve. Esta transição exigirá paciência, especialmente durante os desafios iniciais.
São notórias as deficiências do plantel da Juventus e a ausência de jogadores perfilados para executar determinadas funções pretendidas por Thiago Motta também é uma realidade.
Na primeira fase de construção, o guarda-redes e a linha defensiva, necessitam de ser bastante capazes do ponto de vista técnico e tático. Wojciech Szczęsny não é propriamente qualificado no jogo de pés, sendo que na calha para assinar pela Vecchia Signora está Michele Di Gregorio.
O guarda-redes do Monza demonstra ótima qualidade de passe, seja curto ou longo, manifestando ainda uma bela leitura de jogo. Neste modelo de Thiago Motta, a existência de um duplo pivot é um aspeto mandatório no seu processo de construção. Habitualmente, este é formado por um dos médios, sendo o segundo homem, um dos centrais ou laterais. No plantel atual da Juventus não existem defensores com as características necessárias para desempenhar este papel (Dean Huijsen é a única exceção).
Um dos grandes alvos da Juve para este mercado é Riccardo Calafiori. Foi dos elementos em maior destaque no Bolonha, encaixando-se de forma sublime na ideia de Thiago Motta. O central italiano de 22 anos é um playmaker, oferecendo diversas opções à sua equipa na saída de bola. Em condução queima linhas com enorme facilidade e em jogo apoiado, destaca-se igualmente pela sua tremenda qualidade de passe. É dotado de muitos recursos técnicos e do ponto de vista tático é um jogador extremamente desenvolvido, desempenhando facilmente o papel que é similar ao de Stones ou Akanji no Manchester City.
Um dos jogadores mais negativamente aproveitados por Allegri foi Manuel Locatelli. O médio italiano possuía tarefas meramente defensivas. Com a chegada de Thiago Motta, Locatelli pode ganhar preponderância, dado que o antigo centro campista do Sassuolo é muito versátil e extraordinariamente talentoso no capítulo do passe. Organiza os ataques através de passes verticais e percebe o jogo, sabendo gerir os ritmos de forma exímia. Teun Koopmeiners é o principal objetivo de Thiago Motta para reforçar o meio-campo. O holandês já expressou o seu desejo de abandonar a Atalanta este verão, sendo Turim ou a Premier League os destinos mais prováveis para o médio. Koopmeiners poderia executar o papel de Lewis Fergunson no Bolonha. Com uma ótima chegada à área, capacidade para finalizar e uma boa definição no último passe, o médio da Atalanta, definitivamente, seria um upgrade em relação ao escocês.
Cambiaso vai reencontrar Thiago Motta. O italiano de 24 anos é extremamente versátil, podendo atuar em diferentes posições. Independentemente da função, Cambiaso será certamente um elemento fulcral na manobra da Vecchia Signora.
As estrelas Chiesa e Vlahovic são jogadores para explodir sob o comando do ítalo-brasileiro. A liberdade conferida por Thiago Motta aos seus extremos pode ser fundamental para potenciar o italiano. Livre de problemas físicos, Chiesa é dos atacantes mais determinantes do mundo, seja no drible, ataque à profundidade e na cara do golo. O sérvio apesar de não possuir a mesma capacidade de Zirkzee para se envolver entre linhas, consegue associar-se bem e jogar como apoio. Para juntar a isto, é um finalizador de elite.
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É interessante perceber ainda que papel vão ter jogadores como Soulé, Yildiz, Miretti, Barrenechea e Iling-Junior. Soulé realizou uma excelente temporada no Frosinone e tem mercado, contudo, o seu potencial não deve ser ignorado pelos responsáveis da Juventus. Yildiz pode ter uma ascensão idêntica à de Zirkzee dada a tremenda qualidade do turco. A utilização de Miretti, Barrenechea e Iling-Junior gera mais incerteza. Apesar do seu talento que é inegável, estão uns furos abaixo dos jogadores mencionados acima. As debilidades financeiras da Juve podem forçar uma saída de forma temporária ou definita.
Paciência é essencial
É imperativo que a Juventus seja paciente com Thiago Motta para que este possa implementar as suas ideias de jogo de forma eficaz. As debilidades do plantel e os problemas financeiros da Juve dificultam o trabalho do técnico. No entanto, a escolha de Thiago Motta demonstra ser uma aposta válida e ambiciosa que certamente trará frutos no médio/longo prazo.