Nunca na minha vida mantive um diário. Sempre achei que, ao longo dos meus 23 anos de vida, os momentos dignos de registo nunca me sairiam da memória, e que com eles ficariam todos os seus detalhes e pormenores.
Estou metade certo, metade errado. Lembro-me bem dos golos de Zidane contra o Brasil em 98, do tiraço de Figo contra a Inglaterra em 2000, da mão de Abel Xavier, do livre de Sabry que calou Alvalade e adiou os festejos do último título do Eterno Rival, e de muitas outras memórias que o Desporto-Rei já me proporcionou. Mas, até ao passado dia 3 de Dezembro, nunca tinha temido que uma memória desaparecesse. Que pura e simplesmente, uma experiência que se quer única, se converta afinal em “apenas mais um”.
Nesse sentido, caro leitor, quero não só imortalizar, como partilhar, o dia 3 de Dezembro de 2016, como aquele em que, pela primeira vez, tive o privilégio de assistir a um jogo de Premier League, nas primeiras filas da Lower North Stand do velhinho White Hart Lane.
Se por cá se diz jornada, não é ao acaso que em terras de Sua Majestade, a expressão utilizada é Match Day. Aquele sábado solarengo na cidade de Londres, que, pelo clima, já era de si peculiar, começou para mim com um pequeno-almoço junto ao Palácio de Westminster, em que eu apenas um de mais centenas de turistas que passam pela capital do Reino Unido diariamente. Se a maior parte deles estava mais preocupado com o ângulo perfeito para uma selfie com o Big Ben, eu batia o pé sentado no balcão de um qualquer café, à espera que no relógio mais acertado do mundo batessem as 10 da manhã para me dirigir a North London para levantar o meu bilhete na bilheteira de The Lane. E assim foi.