«No estrangeiro dão mais valor ao jogador português do que os clubes nacionais» – Entrevista BnR com Gonçalo Gregório

    Filho do ex-jogador e treinador Rui Gregório, Gonçalo Gregório dividiu a sua formação entre os azuis do Restelo e os canarinhos do Estoril Praia. Como sénior, acrescentou ao seu currículo clubes como: Casa Pia, Leixões, Farense, Vilafranquense, Paços de Ferreira, Braga B, Sosnowiec, União de Leiria e agora Dinamo Bucareste. A partir da Roménia, o ponta de lança português de 28 anos, Gonçalo Gregório, falou em exclusivo ao Bola Na Rede.

    «No estrangeiro dão mais valor ao jogador português e à sua qualidade que os próprios clubes nacionais»

    Bola Na Rede: Olhando para o teu historial percebemos que já somas uma vasta experiência no futebol nacional, e estás agora apenas na tua segunda passagem pelo estrangeiro. O que esperas com esta mudança?

    Gonçalo Gregório: Espero ter o valor que sei que possuo, tanto a nível desportivo como a nível humano. Vim para um clube grande, um dos maiores da Roménia, com uma grande massa adepta e muita história. É um clube organizado e com ótimas condições. Marquei no meu segundo jogo pelo Dínamo no dérbi frente ao FC Steaua București, por isso posso dizer que está tudo a correr muito bem!

    Bola Na Rede: Sentiste a necessidade de sair de Portugal ou a ida para a Roménia foi apenas uma questão de oportunidade?

    Gonçalo Gregório: Foi um conjunto. Quando acabei contrato com a UD Leiria a minha ideia era mesmo sair de Portugal porque no estrangeiro dão mais valor ao jogador português e à sua qualidade que os próprios clubes nacionais, mas não ia sair se não surgisse uma boa oportunidade claro. Contudo, surgiu uma oportunidade muito boa e aproveitei, por isso estou aqui agora no Dínamo, e bem.

    Fonte: UD Leiria

    Bola Na Rede: Porque é que achas que o jogador português não é suficientemente valorizado no próprio país?

    Gonçalo Gregório: Talvez seja um pouco por culpa da mentalidade portuguesa. Existe o estigma de que o que é nacional não é bom e que aquilo que é estrangeiro é melhor. Para dar a volta a essa questão seria preciso criar regras que incentivassem o uso de jovens nacionais nos principais escalões, como acontece na Roménia e na Polónia por exemplo. Isso seria bom para o desenvolvimento dos jogadores, da própria seleção nacional, e ia ajudar na mudança desse estigma.

    Bola Na Rede: No que toca ao teu registo em solo português, como é que avalias a tua passagem pelos diferentes clubes, sentes que cada passo dado foi uma evolução ou em certa altura regrediste na carreira?

    Gonçalo Gregório: Acho que consegui sempre crescer como jogador e como pessoa em todos os projetos. Tive sempre treinadores que me ajudaram a melhorar, fui sempre marcando golos e alcançando os objetivos por isso pensar de forma diferente não faz sentido. Acredito que as coisas acontecem porque têm efetivamente de acontecer, por isso contínuo positivo em relação ao presente e ao futuro

    «Acredito que se esta direção se mantiver nos próximos anos a UD Leiria pode fixar-se no mais alto escalão do futebol português»

    Bola Na Rede: No União de Leiria, alcançaste bastante sucesso, saíste como melhor marcador da Liga 3 e campeão da competição. Fala-nos sobre essa experiência.

    Gonçalo Gregório: Considero que fiz várias épocas noutros clubes em que fui melhor a nível individual como no Casa Pia, onde marquei 25 golos em 22 jogos, no Paços de Ferreira, onde subi à primeira liga, e até no SC Braga onde marquei bastantes golos também, mas sei que estas últimas épocas na UD Leiria foram muito importantes. Na última temporada saímos como campeões da prova e eu despedi-me como melhor marcador de sempre da mesma. Foi o fruto de muito trabalho individual desenvolvido, nunca esquecendo os meus colegas e a própria direção pois sem eles nada era possível. No tempo que passei em Leiria tive sempre o apoio de pessoas que foram muito competentes no seu trabalho.

    Bola Na Rede: Sentes que o União de Leiria tem capacidade de voltar à primeira liga nos próximos tempos? Achas que o clube está num bom caminho com este projeto?

    Gonçalo Gregório: Sim, acho que o clube está a fazer tudo muito bem. Estão a desenvolver os jogadores da academia e a fornecer ótimas condições em vários aspetos a todos os jogadores que lá se encontram. Estão a investir de forma acertada em muitos campos, desde novos reforços ao próprio projeto do clube em si. Acredito que se esta direção se mantiver nos próximos anos a UD Leiria pode fixar-se no mais alto escalão do futebol português.

    Bola Na Rede: Sentes que a própria cidade de Leiria também está empenhada nessa questão?

    Gonçalo Gregório: Sim porque a própria direção tinha como um dos principais objetivos unir a cidade e a população ao clube, e de facto conseguiram fazê-lo. Através de várias campanhas, de ofertas de bilhetes e camisolas, e até da criação de uma Fan Zone, foi possível unir os adeptos ao clube e à equipa. Não se estão a esquecer de nenhum pormenor, na minha opinião.

    Bola Na Rede: No que toca à Liga 3, temos visto uma evolução bastante positiva tanto a nível do futebol jogado em si como também nas audiências. A que nível consideras estar a liga neste momento?

    Gonçalo Gregório: A liga encontra-se num nível muito competitivo e com bastante qualidade, mas apesar disso, também existem críticas a fazer. O formato que adota não beneficia em nada os clubes que a disputam. Desta forma não é premiada a equipa que é melhor e mais regular durante toda a época mas sim aquelas que são melhores apenas em certos momentos, em certos jogos, em certos pormenores. Este processo dificulta a vida às equipas que querem crescer, que querem subir, que se querem desenvolver. Acho que formatos semelhantes ao da segunda liga alemã e segunda liga polaca, por exemplo, poderiam ser benéficos para a liga. Por outro lado, também existem bastantes aspetos positivos no que diz respeito à Liga 3 como é claro. A inclusão do VAR na prova, a existência de muitos atletas portugueses em competição, as transmissões dos jogos no Canal 11 e próprio reconhecimento/atenção dos órgãos de comunicação social trazem muita visibilidade à liga e há que parabenizar a mesma em conjunto com a federação por conseguirem esses feitos.

    Bola Na Rede: Em relação à tua carreira, como é que perspetivas o teu futuro? Achas que já atingiste o teu auge ou o mesmo ainda está por vir?

    Gonçalo Gregório: Se eu já tivesse atingido o meu auge já não jogava futebol, pendurava as chuteiras.

    Bola Na Rede: Qual seria o teu maior objetivo a realizar enquanto jogador de futebol?

    Gonçalo Gregório: Já atingi alguns dos meus maiores objetivos enquanto jogador. Consegui chegar aos 20 golos como sénior, consegui ser campeão nacional, duas vezes da Liga 3 e uma vez da segunda liga, e recentemente atingi também um outro objetivo, que era jogar e marcar numa primeira liga, tendo marcado num dérbi, o que foi um momento de grande felicidade para mim. Agora os meus objetivos passam por ser o melhor marcador da liga onde estiver e jogar pela seleção nacional numa grande competição.

    Bola Na Rede: Achas possível um retorno à Primeira Liga Portuguesa no futuro?

    Gonçalo Gregório: Não sei o que me reserva o futuro. Sei que Portugal é o meu país e que gosto muito de Portugal, mas neste momento estou bem cá fora. Quero-me valorizar, e como já disse, o ponta de lança português não é muitas vezes valorizado no próprio país e aqui fora não é bem assim. Neste momento jogo no Dinamo de Bucaresti e tenho muito orgulho nisso portanto estou a viver o presente com muito foco e positivismo.

    Bola Na Rede: Se tivesses essa possibilidade, que clube gostavas de representar?

    Gonçalo Gregório: O Sporting é o meu clube de coração mas veria com bons olhos qualquer clube que me desse importância e me valorizasse devidamente com um projeto aliciante. Acho que todos os jogadores de futebol sabem ser profissionais no que diz respeito a essa questão e o próprio Rúben Amorim é exemplo disso.

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    Guilherme Terras Marques
    Guilherme Terras Marques
    Orgulhoso estudante da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vê no futebol e na sua cultura uma paixão. É apenas mais um jovem ambicioso que sonha fazer do jornalismo desportivo a sua vida. Escreve com o novo acordo ortográfico