Futebol | 2022 de A a Z

    Senegal: 2022 foi o ano dos Leões de Teranga. Aliou Cissé, capitão da seleção de 2002 que chegou aos quartos de final do Mundial, redimiu-se do penalti falhado nesse mesmo ano na final da CAN, perdida para os Camarões. 20 anos depois, o senegalês no papel de treinador levou o país ao sucesso. Começou o ano a ganhar a CAN – levando o Senegal à primeira vitória na competição – e a desmistificar mitos sobre o futebol, o jogo e o treinador africano. No Mundial a campanha não foi tão bonita como em 2002, mas cumpriu o objetivo de se apurar para os oitavos e mostrou novamente a solidez e competitividade do Senegal – mesmo sem Sadio Mané.

    Trapp: Foi o herói da final de Sevilha. O percurso do Eintracht Frankfurt na Liga Europa foi memorável, com destaque para a eliminatória contra o Barcelona em que Camp Nou se mascarou de Commerzbank Arena para receber os alemães. A conexão com o público foi a principal arma da equipa de Frankfurt que, na final, teve Trapp como herói. A defesa ao remate de Kent aos 118 minutos só não é a mais fascinante do ano – tendo em conta o contexto, altura do jogo e desenlace final – porque Martínez se lembrou de aparecer na final do Mundial, mas anda lá perto. Nas grandes penalidades defendeu o remate de Ramsey. Não houve maldição capaz de parar o Eintracht Frankfurt cujas bancadas apaixonaram o mundo.

    UEFA Conference League: Há muitas arestas a limar no que diz respeito aos pontos do coeficiente de cada país, mas a nova invenção da UEFA foi um sucesso no que ao futebol alternativo diz respeito. A primeira edição foi conquistada pela Roma de José Mourinho que, bem ao seu estilo, celebrou a vitória conduzindo um autocarro. Cada vez mais imortal o primeiro técnico a conquistar as três competições da UEFA. Com menos argumentos, a história da temporada 2022/2023 já está encontrada. O Vaduz – clube de Liechtenstein – joga na segunda divisão suíça e chegou à Conference após ganhar a taça do microestado. Ultrapassou todas as eliminatórias e chegou à fase de grupos onde chegou mesmo a empatar dois jogos. Num futebol cada vez mais elitizado, são estas as histórias que o aproximam da sua origem.

    Vitinha & Vieira: O Porto foi o campeão nacional em 2022 e em muito tem de agradecer a Vitinha e Fábio Vieira. Sérgio Conceição tem sabido lidar com a diferença de nível do plantel de época para época, fazendo ajustes na forma de jogar, mas nunca tinha tido tanto talento disponível. Vitinha, sustentado pela boa temporada de Uribe num perfil complementar, assumiu o controlo do ritmo de jogo dos azúis e brancos. Tem capacidade técnica para acelerar, lançando ou conduzindo, mas também para pausar acrescentando outras virtudes a um modelo de jogo até então demasiado vertiginoso. Fábio Vieira tratou-se de trazer magia, irreverência e imprevisibilidade. Têm características diferentes, mas ambos encantaram o Dragão e voam agora noutros clubes.

    Walid Regragui: Do ponto de vista mais resultadista – não é, naturalmente, a melhor maneira de se ver futebol – é o treinador do ano. Em maio venceu a Liga dos Campeões da CAF com o Wydad Casablanca e em setembro assumiu uma seleção marroquina em ebulição – Zyiech, Hakimi ou Mazraoui estavam em conflito com o treinador – e guiou os Leões do Atlas ao quarto lugar no Mundial, a melhor classificação de sempre de uma seleção africana na competição. Em pouco tempo deu solidez a uma equipa que, defendendo num bloco médio-baixo muito compacto, e saindo muito rapidamente em transição foi a surpresa do Mundial. Se o Mundial é feito de histórias, nenhuma é tão bonita como a de Marrocos.

    Xiu: Silêncio, não se vai cantar o Fado, mas sim o hino do Irão. Às vezes as melhores palavras estão na ausência de nomes, verbos ou adjetivos e o silêncio iraniano foi a voz que mais alto se levantou no Mundial. Um ato de coragem e de defesa das mulheres iranianas discriminadas e mortas no país cujo símbolo levavam ao peito. A morte de Mahsa Amini à mão da polícia deixou à mostra uma cultura onde quem nasce mulher está privado dos direitos humanos. Sob ameaças de represálias e mesmo temendo pela segurança – individual e das famílias – o silêncio do protesto iraniano fez-se ouvir. Porque o futebol só é a coisa mais importante de todas as que não têm importância.

    Youth League: Tanto vai o cântaro à fonte que acaba por quebrar. Bella Gutman amaldiçoou o Benfica e a maldição parecia extensível à formação (2014, 2017 e 2020). Depois de tantas vezes a bater na trave o Benfica finalmente conquistou o troféu após vitória categórica contra o Red Bull Salzburg (6-0). Resultados e troféus não são – ou pelo menos não deveriam ser – os fatores a guiar o futebol de formação e nada dizem sobre o trabalho de formar. É, no entanto, mais fácil trabalhar sobre vitórias e o momento foi único para os meninos que o viveram. O principal parâmetro de avaliação – transição ao futebol sénior – só poderá ser verdadeiramente medido daqui a uns anos, mas André Gomes, António Silva e Henrique Araújo, entre tantos outros, são exemplo da qualidade que há no Seixal (e em todo o território nacional).

    Zaire-Emery: Não dá para falar da Youth League sem falar de Zaire-Emery. Enquanto esteve em prova foi o melhor jogador do torneio e, aos 16 anos, podemos estar a falar de um dos médios das próximas duas décadas. Já faz parte da equipa principal do PSG – é o mais novo de sempre a jogar pelos parisienses – e é o sexto mais novo a jogar a Champions League. O PSG mudou de estratégia no mercado esta temporada apostando menos em vedetas e a boa formação do clube – França é o viveiro dos talentos – parece ter ganho preponderância. É mais um produto da escola de jogadores de futebol que é a Liga Francesa.

    Artigo da opinião de Diogo Ribeiro.
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