«Podia encaixar muito bem na tática do Sporting e também na do Benfica» – Hildeberto Pereira

    «Acho que não singrei no Benfica ou noutro grande clube devido a erros que cometi»

    Bola na Rede: Fazes parte de uma geração que tem nomes como Renato Sanches, Ruben Dias, Gonçalo Guedes, Diogo Gonçalves, entre outros. Quando chegas ao Benfica o treinador da equipa principal já era o Jorge Jesus, que, nessa altura, não era muito conhecido por apostar nos jovens. Vocês acreditavam, realmente, que poderiam ter uma oportunidade na equipa principal do Benfica?

    Hildeberto Pereira: Sim. Eu, pelo menos, acreditava que sim. E o mister Jorge Jesus até gostava muito de mim. Da minha raça, da minha maneira de jogar. Cada dia que chegava ao Benfica Campus e pisava aqueles relvados alimentava o sonho de poder chegar, um dia, à equipa principal. Eu e todos os meus colegas na altura. É verdade que, nessa fase, o mister Jorge Jesus não apostava muito nos jovens, mas o sonho estava sempre lá. Felizmente alguns conseguiram cumprir esse objetivo, mas outros não. No meu caso, a possibilidade de jogar pela primeira equipa do Benfica não apareceu, mas também se abriram outras oportunidades… E então segui o meu caminho.

    Bola na Rede: E agora? Com 25 anos esse sonho de jogar no Benfica ou noutro clube grande do futebol português ou europeu já desapareceu?

    Hildeberto Pereira: Claro que não. Eu agora estou na China e estou com uma mentalidade muito forte. Aliás, já estava no ano passado, no Vitória de Setúbal. Mas acho que, agora, ainda estou mais preparado. E sei que tenho capacidades para voltar a um clube grande. É só eu querer. Focar-me mais, trabalhar mais um pouco de tudo – a finalização, por exemplo –, para um dia lá poder chegar. Tenho 25 anos e tenho a certeza que se mantiver o foco, se manter a cabeça bem erguida, vou chegar a um grande clube em Portugal ou na Europa.

    Bola na Rede: Voltando ainda um bocadinho atrás. Entretanto, o Rui Vitória substituiu o Jorge Jesus no comando do Benfica e o clube assumiu uma política que apostava na formação do Seixal. O Renato Sanches foi o primeiro a ter essa oportunidade. Teve muito impacto e foi decisivo para o Benfica sagrar-se campeão em 2015/2016. Isso aumentou a tua confiança de chegares à equipa principal do Benfica?

    Hildeberto Pereira: Sim, claro. Eu sempre estive com o Renato [Sanches], desde os juvenis até à equipa “B”. Vê-lo entrar na equipa principal e brilhar da forma como ele brilhou… (suspiro) Claro que isso deu-me mais confiança, a mim e aos outros, a todos os que gostam do Renato e conviveram com o Renato naqueles anos. Na altura, foi uma aposta muito boa do Rui Vitória, mas nunca ninguém duvidou da qualidade do Renato e sabíamos que se ele tivesse uma oportunidade iria agarrá-la. Nessa época estavam também na equipa principal o Gonçalo Guedes, o Nuno Santos – que agora está no Sporting – e outros jogadores da formação. Foi uma fase em que se abriram portas para os jovens do Seixal.

    Bola na Rede: E o que aconteceu com o Berto? Quando chegas a sénior continuas contratualmente ligado ao Benfica, mas és emprestado para o Nottingham Forest, do Championship [2.ª divisão inglesa], Como foi esta experiência, a primeira fora do país?

    Hildeberto Pereira: Tinha 19 anos, já tinha feito 40 jogos pela equipa “B” do Benfica, a oportunidade de jogar pela equipa principal ainda não tinha surgido, e então decidi ir para fora. Surgiu-me a oportunidade de ir para o Nottingham Forest e, na altura, as coisas não podiam ter corrido melhor. Cheguei Inglaterra e passei logo a jogar como titular. As coisas começaram a correr-me muito bem e, pouco tempo depois, até já se falava da possibilidade de transferir-me para a Premier League. Mas depois houve mudanças. O Nottinghan Forest trocou de treinador e, como estava emprestado, o novo treinador preferiu apostar nos jogadores que tinham contrato para a época seguinte. E, por isso, acabei por ser um bocado prejudicado, e a ficar de fora. Mas no início estava tudo a correr bem. Estava a jogar a lateral, fazia toda a ala direita, já se falava de clubes interessados em mim… Mas depois, infelizmente, isso não veio a concretizar-se.

    Bola na Rede: Mas estiveste perto de algum clube da Premier League?

    Hildeberto Pereira: Na altura, sabíamos que o Stoke City era o clube que estava mais interessado. Mas nunca chegou a haver nenhuma proposta em cima da mesa, porque, depois, acabei por não jogar na reta final da época, nos últimos dois meses. E então as coisas pararam um bocadinho. Depois, a temporada terminou e acabei por regressar ao Benfica.

    Bola na Rede: A tua passagem pelo Nottinghan Forest também ficou marcada pela disciplina. Houve ali um período em que recebeste três cartões vermelhos num curto período de tempo, em pouco mais de dois meses. E, na altura, recordo-me que recebeste críticas muito duras. Como foi lidar com essa situação?

    Hildeberto Pereira: Sinceramente, acho que 70% ou 80% das razões para não continuar em Inglaterra tiveram a ver com esses cartões vermelhos. Mas foi uma lição que aprendi. Aliás, isso nunca mais aconteceu. Não voltei a receber mais nenhum cartão vermelho desde Inglaterra. Foram lapsos de jogo, aquele “ar quente” com que vivia o jogo… Levava muitos cartões amarelos, às vezes, por protestos com os árbitros… Erros com que fui aprendendo e que melhorei ao longo destes anos… Mas é verdade que prejudicou muito, na altura, a minha continuidade em Inglaterra.

    Bola na Rede: Dás muita atenção à questão da mentalidade. Ainda és novo, mas admites ter cometido alguns erros ao longo do teu percurso. Foram esses erros que explicam não o facto de não teres tido uma oportunidade na equipa principal do Benfica?

    Hildeberto Pereira: Sim, com certeza. Acho que não singrei no Benfica ou noutro grande clube devido a erros que cometi. No passado, não tinha a mesma mentalidade que tenho hoje. Se tivesse… Tenho 90% de certeza que conseguiria ter chegado à equipa principal do Benfica ou de um grande clube da Europa. Mas não posso pensar mais nisso. Isso agora é passado. Claro que tenho muita pena de não estar num clube grande de Portugal ou da Europa… Mas temos de levantar a cabeça. E tenho ainda muito para dar… Só tenho de continuar focado para um dia chegar a esse patamar.

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    João Amaral Santos
    João Amaral Santoshttp://www.bolanarede.pt
    O João já nasceu apaixonado por desporto. Depois, veio a escrita – onde encontra o seu lugar feliz. Embora apaixonado por futebol, a natureza tosca dos seus pés cedo o convenceu a jogar ao teclado. Ex-jogador de andebol, é jornalista desde 2002 (de jornal e rádio) e adora (tentar) contar uma boa história envolvendo os verdadeiros protagonistas. Adora viajar, literatura e cinema. E anseia pelo regresso da Académica à 1.ª divisão..                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.